21 DE MAIO DE 2014
André Bandeira acompanhou trabalho voluntário e irá apresentar moção de aplausos
Grupo Amigas da Onça foi criado há dois anos e meio no Cecan
Elas se encontram com frequência para aliviar as tensões cotidianas. Problemas com o lar, família e contas a pagar são deixados de lado. Enquanto estão juntas, há espaço apenas para a alegria, confraternização e solidariedade. Essa é a rotina do grupo Amigas da Onça, que nasceu há dois anos e meio na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. O sugestivo sobrenome veio pelo fator que as uniu: o câncer, uma verdadeira “onça” a ser driblada numa luta diária e incansável.
Na tarde desta quarta-feira, 21, o cenário para o encontro dessas mulheres não foi as salas do Cecan (Centro de Câncer Francisco Cunha Filho), local onde se conheceram e fazem o tratamento. A alguns metros dali, elas se posicionaram numa ampla área de lazer da própria unidade hospitalar e, sentadas ao redor de uma mesa, receberam uma verdadeira massagem no ego, ou melhor, uma sessão de maquiagem.
A responsável pela alegria das jovens senhoras foi a diretora de beleza independente Ivonete Oharomari. Suas ferramentas de trabalho eram os glosses, lápis, delineadores, sombras, blushs, corretivos e batons. “A satisfação é única. Quem realmente ganha somos nós. É inexplicável ver elas se olharem no espelho maquiadas e se sentirem mais mulheres e mais bonitas”, disse Ivonete.
Embora esse tenha sido o primeiro contato com as Amigas da Onça, os trabalhos voluntários com pacientes do Cecan começaram há mais de quatro anos. As iniciativas ocorrem também em ocasiões especiais como Dia das Mães e semana das mulheres, além da arrecadação de fundos para festas juninas e natalinas. Junto do seu time (com aproximadamente 100 mulheres), Ivonete já levou sua contribuição também a outras vítimas de câncer no HFC (Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba).
Quem acompanhou a ação voluntária nesta quarta-feira foi o vereador André Bandeira (PSDB), que pretende apresentar na Câmara uma moção de aplausos aos voluntários e aos responsáveis pelo Cecan. Na definição do parlamentar, é preciso parabenizar e valorizar tais iniciativas.
André acredita que é incentivando a promoção da qualidade de vida que se constrói uma sociedade mais humana. “Em especial no caso das mulheres com câncer, quando se deparam com a doença, são muitos os fatores que tiram suas motivações, como a quimioterapia, a perda dos cabelos e a retirada da mama. Trabalhos como o de Ivonete demonstram que elas podem, sim, manter a vaidade. É elevando a autoestima e enfrentando o dia a dia com mais positivismo que se vence a doença com mais facilidade”, definiu o vereador.
Desde janeiro de 2013, a rotina da costureira Elza Aparecida Vogel mudou do dia para a noite. Ao ser diagnosticada com câncer de mama, a doença já havia se espalhado pelo corpo e as chances de sobrevivência eram pequenas. Com o apoio da família e em meio ao tratamento de quimioterapia, ela descobriu o grupo Amigos da Onça. Hoje atribui o sucesso dos resultados também ao convício com as mulheres que passam e passarem pelo mesmo problema. “O grupo foi essencial para que eu lidasse melhor com os sentimentos e com as próprias dores que o tratamento acarreta. Aprendi a me reerguer e a viver de outra maneira, de um jeito mais bonito e mais interessante de ver a vida.”
Para Elza, um dos momentos mais dolorosos da doença é a queda dos cabelos. Ela, que se considera uma pessoa extremamente vaidosa, disse ter sofrido com o processo. “Sempre gostei muito de usar decote, de ter o cabelo bem cuidado. De repente fui tirada de tudo o que achava mais perfeito em mim. Consegui seguir em frente e ver que a saúde e a minha família são mais importantes. É claro, tenho dias de crise, mas conversando com minhas amigas tudo passa. Estou surpresa com minha própria superação. Quero voltar a ser a Elza de antes, seguir em frente e ser melhor.”
ELEVAR A AUTOESTIMA – Pedrilha de Goes é uma das idealizadores do grupo, que nasceu com aulas de artesanato. Psicóloga do Cecan, ela foi buscar outras atividades para as mulheres. Bingos, aulas de zumba e bate-papos descontraídos passaram a ser incluídos nos roteiros, geralmente mensais e definidos em grupo na rede social Facebook. As reuniões costumam ser mensais, mas o próximo encontro será em 30 de maio na casa de uma das integrantes, que oferecerá um jantar.
Pedrilha explica que para fazer jus ao título de Amigas da Onça, as integrantes adotaram a obrigatoriedade de um item que as identifique: seja uma blusa, lenço, bolsa ou qualquer outro acessório do vestuário estampado. “Quando a pessoa é diagnosticada com câncer, ela acha que não há saída para a situação. Nós trabalhamos com o acolhimento, com o pensamento positivo, e buscamos sempre convidar mais mulheres para fazer parte do grupo. É importante que elas tenham contato com mais pessoas que passam pela situação”, declarou a psicóloga.
A artesã Daniela Prates Cesar tornou-se voluntária da iniciativa depois que a mãe passou a frequentar o Cecan para o tratamento de um tumor, há seis anos. Com a perda da genitora, foi procurada por Pedrilha para levar seus dotes artesanais. Desde então, não parou mais. “A gente explora várias atividades do artesanato, como a confecção de carteirinhas, chaveiros, vasos, tulipas e patchwork. Tive até que ensinar uma paciente a pegar na agulha. É tudo muito prazeroso.”