
25 DE AGOSTO DE 2023
Na véspera da 50ª edição, série ‘Achados do Arquivo’ resgata imagens de Davi Negri da abertura do evento no ano que a ditadura militar se encerrava
O saguão do Teatro Municipal ‘Dr. Losso Netto’ lotado, com visitantes se espremendo entre as obras da 12ª edição do Salão Internacional de Humor, em 1985, é o retrato da euforia do evento naquele fatídico e último ano em que vigorou no País a ditadura cívico-militar, instalada mais de duas décadas antes, em 1964. A fotografia de Davi Negri revela a euforia do “outro dia” cantada por Chico Buarque no clássico “Apesar de você”, lançado em 1978.
Às vésperas da abertura da 50ª edição, agendada para este sábado, 26, no Engenho Central, a partir das 19h, a série Achados do Arquivo resgata imagens da abertura do evento realizado 38 anos atrás, “o qual carregou sua importância subjetiva, sendo a primeira edição após o início da redemocratização brasileira”, avalia Caroline Leme Margiota, estagiária de História do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, e responsável pela pesquisa.
As fotografias, em preto e branco, revelam também o estilo da época. Um olhar mais clínico nas pessoas no saguão do Teatro Municipal, é possível perceber rostos curiosos nas obras, um sentimento muito marcante naquele período pós-censura prévia, quando liberdade de informação ainda estava em teste.
No acervo, composto por 24 imagens, também são mostradas algumas das obras daquela edição, as quais envolviam tiradas com o crescimento do País na época, assim como se utilizando de figuras como o presidente dos EUA, Ronald Reagan, e o próprio presidente brasileiro, José Sarney – que assumira o cargo após a morte de Tancredo Neves, eleito pelo colégio eleitoral. Sem contar, é claro, as caricaturas que retratam personalidades do mundo artístico.
“O Salão de Humor serviu como uma das formas de resistência. A ideia foi concebida a partir do intuito de despertar o pensamento crítico a partir das artes gráficas”, analisa Caroline Margiota. “O bom humor aguça sensações como desdém e a crítica por meio do riso”, destaca.
A 12ª edição do Salão de Humor também revela a importância do evento para círculos intelectuais de projeção nacional, algo que está na gênese do evento. Naquela abertura, que teve como mestre de cerimônia Chico Caruso, a mesa de jurados contou com Miguel Paiva, Milton Coelho da Graça, Carlos Grassetti, Zélio, Audálio Dantas, José Maria do Prado e Paulo Caruso.
Realizado pela primeira vez em 1974, durante o mandato de Adilson Maluf, o Salão Internacional de Humor foi oficializado cinco anos mais tarde com a Lei Municipal 2.249, de 10 de setembro de 1979 – a qual tramitou na Câmara de Piracicaba como o projeto de lei 29/1976.
Em 2002, o Salão de Humor passou a fazer parte da estrutura da Semac (Secretaria Municipal de Ação Cultural), com a Lei Municipal 5.194, em que ficou criado também o CEDHU (Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação de Humor de Piracicaba).
No último dia 28 de julho, o prefeito Luciano Almeida editou o decreto municipal 19.640, que dispõe o registro do evento como Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial de Piracicaba. “Com isso, fica preservado, como patrimônio, o humor como fortalecimento, manutenção e proteção da Democracia”, conclui Caroline Margiota.
No momento em que o Salão de Humor chega a meio século de realização, mantendo importância cultural e artística, há de se questionar, assim como Chico Buarque cantou em 1978: “Como vai proibir, quando o galo insistir em cantar?”
Apesar de tantos vocês.
ACHADOS DO ARQUIVO – A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo e de Documentação, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba. Ela traz publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo do Legislativo.