
23 DE MAIO DE 2025
Em 1859, vereadores queriam convidar o vigário para a reunião ordinária como forma de combater a seca. Fato é destaque da Série Achados do Arquivo
Ata de 1859 registra convite a vigário para que ele rezasse pela chuva em Piracicaba. Crédito: imagem criada com o uso de Inteligência Artificial.
Dança da chuva, ovo para Santa Clara, sal nos ombros, terço enterrado. São muitas as simpatias que existem com um objetivo específico: mudar as condições climáticas. Seja para começar ou parar a chuva, a crença popular muitas vezes se sobressai às informações e certezas de uma ciência milenar.
A meteorologia teve sua aparição por volta de 340 a.C., quando Aristóteles escreveu um livro a respeito desse campo no qual tratava sobre temas como chuva, trovão, furacões, nuvens, granizo, neve e vento. Tais conceitos, a priori, foram o estopim para o surgimento de novos estudos e para que posteriormente houvesse um avanço nessa área.
Avançando na linha temporal, entre os Séculos 16 até o Século 17, destacavam-se alguns nomes e suas descobertas como Galileu Galilei (invenção do termômetro), Torricelli (desenvolvimento do barômetro de mercúrio), Edmund Halley (tentou mapear os ventos alísios e introduziu a ideia de sistemas climáticos), George Hadley (postulou que os ventos alísios de leste são causados pela rotação da Terra), e posteriormente, no início do Século 19 devido às preocupações relacionadas aos aspectos higienistas, médicos e estudiosos começam a estudar mais afundo a climatologia e a influência nas questões de saúde pública e bem-estar da população e, como consequência, a climatologia se consolidou como um campo científico, sendo uma extensão da meteorologia e que estuda os padrões atmosféricos imediatos.
Não há dúvida alguma que a meteorologia é uma ciência completamente consolidada, mas isso não retira a força da crença – sobretudo quando ainda estamos falando de meados do Século 19 –, e se crendices de todas as formas seguem firmes e fortes no imaginário popular, não é nada peculiar saber que ela pode estar também presente em documentos oficiais do acervo da Câmara Municipal de Piracicaba, preservado pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, e que nesta semana é o destaque da série Achados do Arquivo, produzida em parceria com o Departamento de Comunicação Social.
Na ata da sessão ordinária do dia 10 de outubro de 1859 uma pequena passagem chama a atenção:
“Baptista indicou que o presidente da Câmara convidasse o vigário para fazer preces para chover” (em transcrição livre)
Pouco se sabe sobre o contexto, mas supõe-se que Piracicaba passava por um período de grandes secas, a ponto do vereador João Batista Corrêa indicar orações para mudar a realidade climática.
Análises, estudos e técnicas fazem das informações da ciência aparentemente imutáveis e invariáveis, mas, eficazes ou não, as crenças, mitos e simpatias seguem firmes, afinal “Santa Clara Clareou. Oh! Oh! E aqui quando chegar. Ah! Ah! Ah! Vai clarear” (Texto e pesquisa: Natália Paiva Simões Marques)
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, com o objetivo de divulgar o acervo que está sob a guarda do Legislativo. As matérias são publicadas às sextas-feiras.