
23 DE JUNHO DE 2023
Altamente contagioso, o mormo, que atinge principalmente equinos, gerava muita preocupação no início do Século XX
Mormo era um problema recorrente no Exército brasileiro no início do Século XX
Mormo é uma palavra talvez desconhecida para grande parte da população, mas temida para aqueles que sabem o significado. Causada pela bactéria Burkholderia, também é conhecida como ‘lamparão’ e, do ponto de vista da saúde pública, gera muita preocupação por ter alta taxa de transmissão e mortalidade. E, embora se manifeste principalmente em equinos (mulas, cavalos e asnos), pode ainda ser contraídas pelos seres humanos e ser fatal.
No início do Século XIX e até meados do Século XX, havia uma moléstia de mormo no País e no mundo, o que geração preocupação também em Piracicaba, como aponta registro preservado pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal de Piracicaba.
Durante a sessão ordinária da Câmara em 5 de abril de 1910, a edilidade piracicabana aprovou uma resolução específica para tentar combater a doença e evitar a sua proliferação. A dureza da legislação – que aplicava multa severa a quem deixasse de notificar um eventual caso da doença – pode ser lida como um forte sinal de que a a preocupação também era grande:
Artº 1º - É obrigatório a notificação ao Prefeito Municipal de todos os casos de mormo que se apresentem neste município. Os proprietários de animais atacados de mormo que infringirem a presente lei serão multados de 20$ a 50$000. O Prefeito Municipal, para combater o mal e evitar a sua propagação agirá de acordo com os preceitos formulados pelo veterinário do Estado. (em transcrição livre)
Em um artigo na revista Animal Business Brasil, o jornalista Luiz Octavio Pires Leal, editor da publicação, registra que a doença era muito comum, principalmente, na América do Sul e afetava muitos os exércitos dos países da região, que na época ainda eram muito calcados na cavalaria.
Outro aspecto do mormo, apontado por Pires Leal no mesmo artigo, é que o mormo foi diagnosticado, pela primeira vez, no Continente Americano pelo pesquisador Capitão Médico João Muniz Barreto de Aragão, no Laboratório de Microscopia Clínica e Bacteriologia do Exército, em Benfica-RJ, o atual Instituto de Biologia do Exército (IBEx), após investigação científica intensa e exaustivos testes laboratoriais.
“O prodigioso feito científico alcançado por Muniz de Aragão (...) foi, realmente, um grande feito”, escreve Pires Leal, indicando a importância do feito para o desenvolvimento da veterinária no País.
O sacrifício do animal infectado era uma maneira de evitar o desenvolvimento da moléstia e suas possíveis consequências econômicas e sanitárias. No Brasil, o mormo parecia radicado em meados do século XX, não tendo mais registros da doença desde 1968. Porém, em 1999 novos casos registrados no Alagoas e em Pernambuco causaram alarde no território nacional. Desta forma, um conjunto de regras foi publicada através da Instrução Normativa 24 do Ministério da Agricultura, em 2004, que foram revistas e reforçadas em 2018.
Em âmbito global, mormo está entre as doenças de notificação obrigatória da Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) e está incluída nas passíveis de aplicação das medidas previstas no Regulamento de Defesa Sanitária Animal, o que inclui a obrigatoriedade do sacrifício dos animais doentes.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, para realizar publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo do Legislativo.