PIRACICABA, SEXTA-FEIRA, 14 DE MARÇO DE 2025
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14 DE MARÇO DE 2025

Das pandemias e dos tempos: memórias de 1918 e as marcas de 2020


Na semana em que marca os cinco anos do início da pandemia da Covid-19, a série Achados do Arquivo revisita relatório local da Gripe Espanhola



EM PIRACICABA (SP)  

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No início da pandemia da Covid-19, o servidor da Câmara, Bruno Didoné de Oliveira, resgatou relatório de Piracicaba sobre a Gripe Espanhola. Crédito: Filipe Vieira.



O tempo tem a estranha capacidade de parecer distante mesmo quando mal se passou. Foi em 11 de março de 2020 — apenas cinco anos atrás — que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a Covid-19 havia cruzado fronteiras e continentes, alcançado cidades e lares mundo afora. Vivia-se, a partir daquele dia, oficialmente em uma pandemia, embora o então “novo coronavírus” já fosse considerado meses antes uma “emergência de saúde pública de importância internacional”. Foi depois do decreto da OMS que a humanidade se viu imersa em uma crise sanitária de proporções globais. 

Para marcar meia década do início da pandemia da Covid-19, a série Achados do Arquivo revisita uma matéria publicada em abril de 2020 no site da Câmara, assinada pelo jornalista Ricardo Vasques, que trata do relatório de 1918 sobre o enfrentamento de Piracicaba contra a Gripe Espanhola, enfatizando semelhanças e contradições das crises sanitárias vividas na cidade e no mundo e que foram separadas por mais de um século. 

Como um espelho do passado, a pandemia da Covid-19 estimulou o resgate dos eventos de 1918. A comparação se deu a partir do relatório do então prefeito Fernando Febeliano da Costa, apresentado à Câmara na época. O documento foi trazido à tona graças à pesquisa de Bruno Didoné de Oliveira, hoje servidor do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, mas que, na ocasião, em abril de 2020, era diretor do Departamento de Documentação e Transparência. Aqui, vale uma ressalva: o trabalho de pesquisa e divulgação do relatório aconteceu antes da criação desta série Achados do Arquivo.

A narrativa do início do Século 20 se desdobra com tintas semelhantes às da recente pandemia. A moléstia, assim como a Covid-19, assumiu "rapidamente caráter epidêmico, ceifando vidas e desorganizando o serviço público e particular". Os primeiros casos em Piracicaba foram registrados em 22 de outubro de 1918, vindos da capital paulista. A cidade, então com cerca de 55 mil habitantes, viu a doença propagar-se pelas zonas urbana e rural, com especial impacto nos bairros de João Alfredo (hoje Artemis), Limoeiro, Paredão Vermelho, Monte Alegre, Garcia Marins, entre outros.

Os registros indicam 4.178 pessoas contaminadas, com 88 mortes contabilizadas no período de 22 de outubro a 26 de dezembro. A despeito do sofrimento, a resposta da sociedade civil e dos poderes públicos foi célere e solidária. A Câmara Municipal, à época com 13 vereadores, autorizou, em reunião extraordinária, o prefeito a tomar “todas as medidas extraordinárias e necessárias à assistência pública”. A Cruz Vermelha, médicos, irmãs franciscanas, escoteiros, associações religiosas e filantrópicas, imprensa e voluntários se uniram para montar hospitais improvisados, arrecadar donativos e atender aos mais necessitados.

Assim como hoje, a importância da articulação entre Legislativo, Executivo, instituições e população foi decisiva. Em 2020, a pandemia do novo coronavírus também exigiu ações conjuntas: a Câmara destinou R$ 4 milhões ao sistema de saúde municipal, reforçando o cuidado com os mais vulneráveis e lembrando que o papel dos poderes públicos, somado ao empenho da sociedade, é pilar essencial em tempos de crise.

A história guarda e alerta. Não se enfrenta uma pandemia apenas com remédios e leitos, mas com organização, ciência e empatia. O relatório de 1918 registra, com notável lirismo, o espírito altruísta dos piracicabanos: “Com reconhecimento e orgulho, podemos afirmar que, sem exceção, todos os elementos componentes da sociedade piracicabana cumpriram integralmente o seu dever, na fase angustiosa que atravessamos”.

E esse mesmo espírito se fez presente mais de cem anos depois, quando novamente o mundo parou diante de um vírus invisível. Na quietude das ruas vazias e no esforço incessante dos profissionais da saúde, na solidariedade entre as pessoas e na esperança das campanhas de vacinação, viu-se que o tempo pode mudar os nomes dos vírus, mas não altera a essência humana.

Revisitar as pandemias (da Gripe Espanhola e da Covid-19) demonstra que resgatar documentos antigos, como é feito semanalmente na série “Achados do Arquivo”, não tem o intuito apenas de “mostrar relíquias do passado”. É como uma missão de enfatizar que documentos históricos são lembretes vivos de que, entre os ciclos da vida, repousa também a lição de que nenhuma adversidade se vence sozinho — e que, quando sociedade e instituições caminham juntas, mesmo os dias mais sombrios encontram luz.

Sempre haverá novas emergências. E que saibamos, ao revisitarmos o passado, colher dele a sabedoria necessária para enfrentar o amanhã.

ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, com o objetivo de divulgar o acervo que está sob a guarda do Legislativo. As matérias são publicadas às sextas-feiras.



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Pesquisa:  Bruno Didoné de Oliveira




Achados do Arquivo Documentação Institucional

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