11 DE DEZEMBRO DE 2023
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a Política de Inclusão foi o tema apresentado por Adriano Turini e Allana Jerônimo durante suspensão do Expediente, na quinta (7)
Adriano Turini, pai de uma criança com autismo e fundador do "Projeto Samuel"
Os desafios e as perspectivas no acolhimento e inclusão de crianças e jovens com TEA (Transtorno do Espectro Autista), bem como a seus familiares, foram apresentados aos vereadores e à população que acompanhou a suspensão do Expediente da 71ª Reunião Ordinária, na noite de quinta-feira (7), por Adriano Turini, pai de uma criança com autismo e fundador do "Projeto Samuel", e Allanna Jerônimo, terapeuta ocupacional.
“O projeto Samuel nasceu devido ao nascimento do meu filho que, com um ano e meio, descobrimos que ele é autista. Então, convivendo em clínicas de terapia ocupacional, nos deparamos com a deficiência no setor público para o atendimento às crianças autistas. Mesmo tendo plano de saúde, tivemos dificuldades em conseguir informação e terapias para o meu filho”, disse Adriano ao destacar o início do projeto, em 2022.
De acordo com ele, há quase 4 anos Piracicaba carece, na rede pública de saúde, de neurologista e psiquiatra infantis para avaliar, investigar e dar laudos em casos suspeitos de autismo, sendo este um dos motes para o início do projeto, gestado no bojo da Igreja do Evangelho Quadrangular central, que forneceu parte dos recursos iniciais:
“Nós começamos o atendimento psicológico com a clínica SerEduca aqui de Piracicaba. Começamos com psicologia pois entendemos que precisamos acolher primeiro as famílias para depois buscar um tratamento para essas crianças”, comentou Adriano.
A partir daí, inclusive com o apoio do Executivo, diversas palestras e formações foram ofertadas tanto para pais de crianças e jovens com TEA quanto a profissionais da área de saúde e educação. De acordo com Adriano, foi em uma dessas palestras em que 80% do público era composto por professores que “uma chave virou”: “descobri que os professores são obrigados a receber essas crianças, por lei federal, dentro das escolas. Porém, eles não recebem o devido treinamento de como lidar com elas”, disse ao explicar o grande índice de procura deste segmento por atividades e formações relacionadas ao autismo.
O projeto, atualmente, além de buscar oferecer informações aos profissionais da educação, também pretende, por meio de parceria com o curso de medicina de uma universidade particular da cidade, ofertar triagem e atendimento gratuito para crianças com TEA.
“De agosto a dezembro de 2023 nós totalizamos o atendimento de 60 crianças com neurologista infantil e as turmas dos alunos, que são estagiários de medicina, e 48 crianças avaliadas por um pediatra especialista em autismo. O projeto, hoje, tem um sonho muito grande de trazer atendimento para as crianças em todas as terapias”, trouxe o fundador do Projeto Samuel.
Apesar de o atendimento médico e terapêutico ser indispensável ao desenvolvimento dos jovens e crianças com TEA, o trabalho desenvolvido dentro das escolas é também apontado por Adriano Turini como fundamental: “se essas crianças forem bem tratadas, forem bem recebidas e derem continuidade dentro das escolas nas terapias que eles recebem nas clínicas, com certeza os pais vão sofrer muito menos e nós, como sociedade, no futuro, teremos crianças, jovens e adultos muito mais preparados para terem uma vida mais próxima o possível da normalidade, sem depender tanto das outras pessoas”.
Autonomia e independência – De acordo com a terapeuta Allana Gerônimo, “tempo é desenvolvimento”, ou seja, quanto antes iniciadas as terapias adequadas para cada caso de TEA, melhores os resultados: “quanto mais tempo perdemos com aquela criança, mais tempo ela perde em desenvolvimento. Nós temos recebido muitos adolescentes que tiveram diagnósticos tardios, aos 12, 13 anos de idade, e quanto esses adolescentes não sofreram para serem compreendidos...”, falou Allana.
Ela ainda disse que, apesar de haver muitos casos de autismo na cidade, muitos deles não recebem o devido atendimento. De acordo com ela, outro ele frágil no atendimento às pessoas com TEA e a seus familiares é a falta de profissionais capacitados: “estão faltando muitos profissionais, muitos. Na minha clínica, por exemplo, somos eu mais sete terapeutas ocupacionais e eu não tenho um horário disponível. Nós buscamos contratar profissionais, mas não há disponibilidade no mercado”, pontuou a terapeuta.
Os discursos completos de Adriano Turini e Allanna Jerônimo podem ser revistos, na íntegra, no vídeo que acompanha esta matéria.