28 DE NOVEMBRO DE 2023
Em discurso na tribuna popular da Câmara na noite desta segunda (27), orador critica projeto de empreendimento no local da antiga fábrica de tecido da Boyes
Paulo José Keffer Franco Netto, representante do movimento "Salve a Boyes", ocupou a tribuna popular na noite desta segunda-feira (27)
O projeto de construção de um empreendimento residencial e comercial na antiga fábrica de tecidos da Boyes, localizada na rua Antônio Correa Barbosa, próxima à Ponte Pênsil que atravessa o rio Piracicaba, voltou a ser tema de discurso na Tribuna Popular da Câmara Municipal de Piracicaba na noite desta segunda-feira (27), na 68ª Reunião Ordinária de 2023.
"O processo com relação ao terreno da antiga fábrica Boyes segue o rito da especulação imobiliária atrelada à especulação financeira, que tem resultado na construção, com muito dinheiro, das cidades mais horrorosas do mundo. Temos produzido um lixo urbano sem precedentes na história e pouco inteligente", falou Paulo José Keffer Franco Netto, o Pazé, artista visual e engenheiro agrônomo, representante do movimento “Salve a Boyes”.
De acordo com o orador, após tomar ciência do projeto que prevê a construção de torres residenciais "de mais de 90 metros de altura, na beira do Rio Piracicaba, a sociedade civil se mobilizou e passou a se organizar em defesa do trecho mais significativo e de maior beleza do seu rio icônico".
Para ele, a construção do empreendimento nestes moldes, "em área tombada como patrimônio histórico e cultural do município", descaracterizaria a paisagem natural e arquitetônica da cidade.
Ele citou como exemplos de preservação paisagística cidades europeias como Londres, Paris, Barcelona, Roma e Veneza, que "possuem não mais do que cinco andares nas suas áreas centrais e de maior beleza", assim como Miami, nos Estados Unidos, em que, de acordo com ele, "cada novo edifício é analisado com critérios: critério em estilo do entorno, uso de materiais empregados, tamanho e distâncias entre as janelas e análise das construções vizinhas, para a cidade ter um ritmo, como uma música, para quem se desloca". Pazé, na sequência, acrescentou: "de Chicago a Los Angeles, os arranha-céus estão localizados em áreas muito específicas. Jamais um projeto como o proposto para a Boyes seria aprovado por lá".
O orador ainda lembrou de outros prédios e locais históricos de Piracicaba, como o do Centro Cultural Martha Watts, localizado na rua Boa Morte, no centro, "exemplo com o trato do patrimônio histórico". Ele, no entanto, ponderou que outros edifícios construídos nas proximidades alteraram significativamente as características arquitetônica daquela área:
"Na esquina da rua Boa Morte com a Rangel Pestana se construiu um arranha-céu que liquidou a paisagem e a influência do conjunto daquela quadra e, na esquina seguinte, junto à rua Dom Pedro II, outro arranha-céu terminou por sepultar qualquer beleza e equilíbrio visual nesta importante quadra histórica, que deveria ser vista e contemplada à distância. A cidade só perdeu. Esses edifícios faziam parte de um entorno ainda muito mais amplo e abrangente, o antigo Mercado Municipal, de 1888, já demolido, que com ele conversava".
Ele, por fim, concluiu: "os arranha-céus deveriam ser apenas permitidos foram das áreas de importância histórica e arquitetônica, como em qualquer país que preze por sua cidade. Como sugestão, os edifícios poderiam ter um gabarito máximo, que não ultrapassasse uma árvore subtropical adulta, referenciando a história da cidade que se notabilizou mundialmente pela qualidade das suas pesquisas agronômicas e ambientais.
O discurso completo de Paulo José Keffer Franco Netto pode ser revisto no vídeo localizado no início desta matéria.