Qual o significado de liberdade? Como definir o conceito de prisão? Quais são as nuances que separam o público do privado? Tais questões nortearam a performance Liberta-me, da multiartista Nahama Baldo, apresentada durante a exposição Sonhar, a primeira individual de sua trajetória, aberta na tarde desta quarta-feira, 3, no hall do prédio anexo da Câmara de Vereadores de Piracicaba.

Com auxílio de Carlos Boriam, Gustavo Rizzo e Samuel Baldo, a artista de 27 anos se prendeu a um emaranhado de linhas azuis, também amarradas a obra Oceanè, de sua autoria. Na sequência, o público foi convidado a soltá-la, utilizando uma tesoura. Os fios, um a um, foram depositados numa mala.

Entre os objetivos de Nahama, que acredita na potência dos sonhos, está o de refletir que não existe liberdade e que as pessoas estão sempre presas a algo, muitas vezes por escolha própria. “Até quando uma obra pertence ao artista? Para mim, o artista só se liberta da obra quando morre”, diz a campineira, que veio morar com a mãe em Piracicaba na infância e seguiu, aos 19 anos, para Belo Horizonte.

Para Nahama, ao buscarem o significado para a produção de uma obra, tentando descobrir o que o artista quer dizer, as pessoas se esquecem de notar suas próprias percepções na arte. “Uma obra não fala, é visível, é tátil, é auditiva, é para sentir. A comunicação com a arte é diferente”, completa ela, que morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas retornou a Piracicaba há dois anos. Ela também foi professora de artes no ETEC José Coury, em Rio das Pedras.

Para compilar a primeira mostra individual, Nahama convidou a amiga Auana Diniz para a curadoria. Elas se conheceram em Belo Horizonte, enquanto frequentavam a licenciatura em educação artística – habilitação em artes plásticas na Escola Guignard, na Universidade Estadual de Minas Gerais. “Céu, nuvem, mar, ar, água, enfim, elementos aéreos e terrenos, tornam-se presentes nos trabalhos de Nahama e também dialogam com os deslocamentos de sua vida”, contextualiza Auana.

Na opinião da curadora, Nahama é uma artista de múltiplas camadas e relaciona-se com o seu próprio corpo e com o corpo do outro, transitando entre o real e imaginário, produzindo assim suas fotografias, xilogravuras, aquarelas, acrílica sobre tela, fotografias e bordados. “Conversamos muito no processo de curadoria. Fiz uma longa entrevista, para entender os aspectos que marcaram a sua infância, seus deslocamentos e também sua relação com a arte. Com base nisso, analisei toda a produção para essa mostra-retrospectiva”, completa Auana, gestora cultural, socióloga e arte educadora na Colchete Projetos Culturais, em conjunto com Elisa Matos, que assumiu a função de produtora da exposição.

Esta é a segunda mostra de 2016 no hall do prédio anexo da Câmara de Vereadores de Piracicaba. O historiador Fábio Bragança, diretor do Departamento de Documentação e Arquivo, destacou a mudança no processo de seleção para exposições, por meio de edital. Para ele, o novo formato colabora com a circulação de diferentes linguagens e formatos. “No caso da Nahama, pudemos nos aproximar do seu mundo e sua arte de uma forma muito peculiar, que foge dos processos tradicionais e traz outro tipo de experiência aos que acompanham a exposição.”

A abertura teve a presença do vereador João Manoel dos Santos (PTB). Ele relembrou o processo de criação do hall de exposição, enquanto era presidente da Câmara, e disse que o intuito é o de ampliar e democratizar a cultura, tornando a arte cada vez mais acessível aos produtores e público em geral. “É também uma forma de estarmos mais próximos das pessoas, mostrando que a Câmara está preocupada com a formação cultural dos seus munícipes. Que bons artistas possam sempre ser acolhidos neste espaço.”

SERVIÇO – Exposição "Sonhar", de Nahama Baldo, no hall do prédio anexo da Câmara de Vereadores de Piracicaba (rua do Rosário, 833, Centro). Visitas até 27 de fevereiro, de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, exceto feriados. Entrada gratuita. Mais informações: (19) 3403-6612.