Uma abordagem em que o ser humano se constitui na relação interpessoal a partir da língua e a necessidade de oferecer caminhos e condições para que as pessoas com deficiência consigam se desenvolver foram as principais temáticas da palestra “A constituição da pessoa com deficiência na perspectiva histórico-cultural”, ministrada pela professora Beatriz Aparecida dos Reis Turetta. A palestra on-line, ocorrida nesta quinta-feira (18), foi a primeira aula de 2021 da Escola do Legislativo “Antonio Carlos Danelon – Totó Danelon”, da Câmara de Vereadores de Piracicaba. A apresentação foi traduzida por dois intérpretes de libras.

A professora Bia Turetta tem pós-doutorado em educação especial pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), doutorado e mestrado em educação pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) e licenciatura plena em pedagogia pelo Centro Universitário Salesiano São Paulo. Na palestra, ela falou sobre a abordagem histórico-cultural de Vigotsky, em que a pessoa se desenvolve a partir da relação com os outros. Para Vigotsky, o desenvolvimento humano é complexo, dinâmico, não-linear, individual, envolve revolução, involuções e evoluções, e também são as oportunidades que o indivíduo tem.

Na perspectiva histórico-cultural, as pessoas não internalizam a relação social em si ou a situação de interação, mas os significados que atribuem a eles, por isso o uso da língua nas relações. “Eu me constituo nessa relação com o outro mediante a um signo e uma língua, pois as palavras carregam sentidos e significados”, explicou a professora.

Bia Turetta destacou que as pessoas com deficiência precisam de condições culturalmente criadas, de caminhos alternativos e recursos especiais que atendam às peculiaridades individuais e possibilitem a inserção na vida coletiva. “Não podemos esperar que as pessoas com deficiência fiquem aquém do desenvolvimento e apenas nas funções psíquicas elementares (reflexos, funções vitais)”, disse. De acordo com professora, na perspectiva histórico-cultural todas as pessoas são capazes de se desenvolver, no entanto, temos uma sociedade que não consegue oferecer as condições necessárias para que todos se desenvolvam de maneira plena, através das funções psíquicas superiores (fala, escrita, pensamento, imaginação, memória).

“A pessoa com deficiência muitas vezes é vista como inferior, e isso não é verdade, o que é verdade é que muitas delas não tem as condições necessárias para se desenvolver. Se ela não tem acessibilidade, se ela não tem os caminhos alternativos que são coerentes com a condição dela, ela vai se desenvolver menos do que poderia se tivesse as condições adequadas”, disse Bia Turetta.

Para a professora, a questão da acessibilidade e da oportunidade de formação faz com mudanças sejam proporcionadas para vida das pessoas com deficiência, mudanças das quais elas têm direito. “A ideia é que se a pessoa com deficiência tiver todas as oportunidades necessárias, ela tem condições de se desenvolver tanto quanto nós”, completou.

A palestra “A constituição da pessoa com deficiência na perspectiva histórico-cultural” foi acompanhada por aproximadamente 100 pessoas, que assistiram via plataforma Zoom e pelo Youtube da Escola do Legislativo.