
08 DE JULHO DE 2025
Silvia Morales, do mandato coletivo A Cidade é Sua participou de evento na Sociedade Beneficente Treze de Maio, que marca em Piracicaba o movimento de mulheres negras
Vereadora destaca lançamento do “Julho das Pretas – Por Reparação e Bem Viver”
Evento contou com a presença da vereadora Sílvia Morales, do mandato coletivo A Cidade é Sua, além da participação da doutora Marilda Soares, na palestra sobre a intervenção cultural da “Realeza Treze de Maio” e lideranças que reafirmaram o protagonismo das mulheres negras na luta por garantia de direitos, no lançamento do movimento "Julho das Pretas - Por Reparação e Bem Viver".
Na última quarta-feira (2), Piracicaba deu início à programação do Julho das Pretas – Por Reparação e Bem Viver, numa agenda intensa de atividades e discussão sobre políticas públicas de saúde, educação, meio ambiente, culturais e formativas, voltadas à valorização das mulheres negras, seus saberes e sua luta histórica por justiça e equidade.
O lançamento aconteceu nas dependências da Sociedade Beneficente Treze de Maio de Piracicaba, localizada na rua Treze de Maio, 1118, um dos espaços de maior representatividade da população negra da cidade, e marcou o início de um mês dedicado à memória, à resistência e ao futuro das mulheres negras piracicabanas.
O evento contou com a participação da vereadora Sílvia Morales (PV), do mandado coletivo A Cidade é Sua, que na oportunidade reafirmou a importância do debate sobre a valorização da cultura do povo negro. A parlamentar também ressaltou a relevância do movimento de mulheres negras, a exemplo do Julho das Pretas, que luta por injustiça social. Silvia Morales também aprovou o teor de moção de repúdio apresentado no final do evento, de tentará barrar no Congresso Nacional o projeto de lei da deputada Caroline de Toni (PL), que altera dispositivos, flexibilizando artigos da lei contra o racismo (7.716/1989).
A abertura contou com a palestra da Historiadora e pesquisadora, doutora Marilda Soares, que fez um panorama histórico da presença e da resistência das mulheres negras no Brasil, com destaque para os 75 anos da criação do Conselho Nacional de Mulheres Negras, fundado em 18 de maio de 1950, no Rio de Janeiro – considerado um marco do feminismo negro brasileiro.
“Nossa luta não começou agora. As mulheres estão há séculos reivindicando dignidade, reparação e reconhecimento. A Sociedade Beneficente Treze de Maio, é um marco e um ícone da presença e da cultura negra na cidade, sempre aberto aos diversos segmentos da cultura afropiracicabana. E o Julho das Pretas é um desses eventos que cria possibilidades concretas para refletirmos sobre as especificidades das mulheres negras, suas demandas e as interseccionalidades que atravessam suas vidas. Na palestra, abordamos como os marcadores sociais, de gênero, e de raça definem experiências únicas e de grupos específicos. Nesse sentido, é importante políticas públicas assertivas, com recursos destinados à execução de ações planejadas, acompanhadas com transparência e avaliadas pelas próprias mulheres negras, que sabem, com propriedade, quais são suas reais necessidades e como essas políticas as impactam”, explanou a historiadora.
O evento também foi marcado com falas importantes de lideranças como a professora Elizete Adão, a vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua, a vice-presidente da OAB Piracicaba Dra. Michele Cavalleri, a presidenta do CONEPIR Piracicaba, Rossana Barbosa. E, o jornalista da Câmara, Martim Vieira Ferreira, que na oportunidade reforçou a importância de lideranças negras de Piracicaba e a sociedade em geral se posicionarem contra o projeto de lei 2.725/2025, em tramitação no Congresso Nacional, de autoria da deputada de Santa Catarina, Caroline de Toni (PL), que pede a revogação de dispositivos da lei 7.716/1989, a chamada lei Caó, dos crimes contra o racismo. A deputada quer anistiar condenados por injúria racial, instituindo o Racismo Recreativo, onde seria possível ridicularizar e violentar pessoas negras por meio do humor e do entretenimento.
Realeza
O evento também contou com uma intervenção cultural, a “Realeza Negra do 13 de Maio 2025”, apresentando iniciativa que exalta a beleza e a dignidade do povo preto piracicabano, fortalecendo a autoestima da juventude e a valorização das tradições culturais da comunidade, baseada em intelectuais como Lélia Gonzáles, Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro e Bell Hooks.
Para o presidente da Sociedade Beneficente 13 de Maio de Piracicaba, José Luís Teodoro, o evento representa continuidade de uma luta que vem de longe: “O 13 de Maio é mais do que um espaço físico. Ele é herança de luta, de união e de acolhimento. Abrir o Julho das Pretas aqui é afirmar que seguimos firmes na defesa da nossa história em apoio também às mulheres”.
A coordenadora da programação em Piracicaba, a jornalista Aldelize Nascimento, reforça que a proposta é construir espaços de escuta, acolhimento e mobilização. “A iniciativa visa dar visibilidade às pautas das mulheres negras, discutindo questões como saúde, educação, violência, arte, ancestralidade e políticas públicas, a partir de uma perspectiva interseccional e comprometida com os direitos humanos É por reparação sim, mas é também pelo bem viver de todas nós. Não é apenas um evento, é um processo político, afetivo e necessário.”
Durante todo o mês de julho, o público poderá participar de palestras, rodas de conversa, oficinas, formações temáticas, saraus e vivências culturais, sempre com entrada gratuita. A programação será realizada na Sociedade Beneficente 13 de Maio, mas também em outros espaços como Engenho Central, Centro Cultural Zazá e na Câmara Municipal de Piracicaba.
É destinada a diversos públicos: adolescentes, artistas, educadores, profissionais da saúde, lideranças comunitárias e formadores de opinião, com o objetivo de fortalecer redes de cuidado e de ação coletiva.
As atividades do Julho das Pretas – Por Reparação e Bem Viver são fruto do esforço voluntário de mulheres negras da cidade e de coletivos parceiros, que têm atuado na organização e na construção colaborativa de cada etapa do projeto. A programação completa está sendo divulgada semanalmente por meio das redes sociais @julhodaspretas_piracicaba_ e outros canais de comunicação dos apoiadores.
Nota Institucional
No evento, o Coletivo de Mulheres Negras de Piracicaba acolheu e endossou, de forma unânime, a moção de repúdio apresentada pelo jornalista Martim Vieira Ferreira, contra o Projeto de Lei nº 2.725/2025, de autoria da deputada federal Caroline De Toni (PL/SC). O referido projeto propõe a revogação da Lei nº 7.716/1989, que tipifica os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, além de prever a anistia a pessoas condenadas por injúria racial.
"Consideramos tal proposição um grave retrocesso na luta contra o racismo no Brasil e uma afronta direta aos avanços conquistados pelos movimentos negros e antirracistas ao longo das últimas décadas. A tentativa de desmontar o arcabouço legal que protege a população negra da violência racial institucional e cotidiana representa uma ameaça inaceitável à dignidade humana e aos direitos fundamentais."
"As mulheres negras reafirmam seu compromisso com a justiça racial e comunicam que levarão essa denúncia às autoridades nacionais competentes, bem como a organismos de defesa dos direitos humanos. Lutaremos com firmeza para impedir qualquer tentativa de desmonte da Lei de Crime Racial e de impunidade a práticas discriminatórias.Seguiremos em vigília e mobilização permanente em defesa da vida e da dignidade do povo negro. Nenhum direito a menos. Racismo é crime. E não passará", finaliza o teor da moção de repúdio.
A vereadora Silvia Morales ratificou o teor da moção e se empenhou em apresentar o texto na Câmara, a ser deliberado em plenário pelos vereadores após o recesso das reuniões ordinárias do mês de julho.