15 DE MARÇO DE 2024
Promovida pela Escola do Legislativo, palestra realizada nesta sexta (15), trouxe psicólogas especializadas para falarem sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista)
Palestra foi realizada no Salão Nobre da Câmara Municipal de Piracicaba na tarde desta sexta-feira (15)
Com o intuito de disseminar conhecimentos acerca das mais recentes definições sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), a Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba promoveu na tarde desta sexta-feira (15), no Salão Nobre “Helly de Campos Melges”, a palestra intitulada “Autismo: Definição e níveis de classificação", ministrada por profissionais da AUMA (Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Piracicaba).
“É importante que a Escola tenha momentos como esse. Afinal, este é um assunto que está em voga. Estamos vendo discussões sobre autismo em todos os cantos do país, e a Câmara de Piracicaba, a Escola do Legislativo, não pode ficar fora disso. Com essa palestra, trazemos discussões, capacitações dos profissionais e o entendimento do que é o TEA e, assim, buscamos contribuir para a construção de políticas públicas mais adequadas”, destacou o diretor da Escola, vereador Pedro Kawai (PSDB), que ainda ressalta a grande participação de público na atividade.
De forma semelhante, a vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua, Conselheira da Escola do Legislativo, reforçou que a atividade visa contribuir para a inclusão e a quebra de preconceitos: “estamos com a Casa cheia, o Salão Nobre cheio. Muitas instituições, psicólogas, assistentes sociais, terapeutas diversas participando. Então, temos sempre que trazer essas pautas à tona”.
“A AUMA é uma associação de pais e amigos dos autistas de Piracicaba que, no mês de junho, completa 25 anos de existência. A AUMA tem como finalidade principal acolher, orientar, atender e auxiliar a família não apenas na tarefa de cuidar, mas de informar. O trabalho que fazemos hoje é feito de forma corriqueira nos bairros e territórios, para difundir conhecimento e quebrar estigmas e tabus”, disse Camila Banzatto, Assistente Social especializada em gestão de projeto, no início da atividade.
O que é o autismo? “Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento”, explica a psicóloga Bruna Zen, que atua na AUMA com projetos voltados ao público infanto-juvenil, compreendido na faixa etária de 0 a 17 anos e 11 meses.
De acordo com ela, o cérebro da pessoa autista recebe determinadas informações e estímulos de forma diferente de pessoas não autistas. Essas alterações, segunda a psicóloga, por sua vez, se expressam e refletem no comportamento desses indivíduos:
“Por isso, algumas pessoas com TEA têm o comprometimento persistente na área da comunicação, da socialização, da interação social e da coordenação motora. Alguns apresentam comportamentos restritos e repetitivos. O próprio nome Transtorno do Espectro do Autismo ele já nos dá uma ideia de amplitude e variedade. E é exatamente por isso que o autismo não é uma síndrome e nem uma doença”, explica.
A também psicóloga especializada em educação especial Débora Correa Bueno, que atua na AUMA com projetos voltados ao público adulto, explica que as interações sociais e estímulos muitas vezes são recebidos de forma mais intensa pelos autistas, e refletem em ações no âmbito da comunicação e da socialização ou em relação a comportamentos restritivos e repetitivos.
“Temos que observar, por exemplo, se a pessoa consegue iniciar e dar continuidade a uma conversa. Alguns deles têm fixação por algum assunto específico.Outra coisa é a questão dos sinais. Eu consigo interromper essa pessoa?Eu introduzo uma outra conversa? É muito comum, se o assunto não está interessante, a pessoa com TEA virar as costas e ir embora”, exemplifica.
Ainda segundo Débora, quebras de rotina e desvios de uma programação podem ser muitas vezes fatores estressantes na vida de pessoas com Transtorno do Espectro Autista e, por isso, é importante comunica-los dessas alterações de forma prévia.
Em relação à socialização, explica a psicóloga, é também bastante comum às pessoas com TEA a dificuldade na identificação de certas sutilezas linguísticas, com caráter mais conotativo, como gírias, sarcasmos e ironias.
Diagnósticos e níveis de classificação de suporte - O diagnóstico do autismo, explicam as palestrantes, deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar. Como o autismo não é uma doença, não pode ser detectado por meio de exames clínicos. As marcações comportamentais, no entanto, podem ser percebidas desde a primeira infância, como por exemplo na não participação e interação no ambiente escolar, em dificuldades para brincar, na preferência pelos mesmos objetos, entre outras situações.
“A partir dessas observações, a família deve procurar por um médico, ou neurologista ou um pediatra infantil. Nesse primeiro, o médico faz uma entrevista com a família e uma observação da criança. A partir dessa observação é importante que uma equipe multidisciplinar participe do fechamento desse diagnóstico, como psicólogos, terapeutas ocupacionais, e fonoaudiólogos. Em alguns casos, o médico também solicita exames para ver se a existência de outras comorbidades, mas não para detectar o autismo. Não tem como detectar o autismo através de exames, é apenas uma observação clínica mesmo e, exatamente por isso, é necessária essa gama de profissionais para o fechamento de diagnóstico”, explica Bruna Zen.
Ainda de acordo com ela, atualmente, o autismo é classificado em níveis de suporte que vão de 1 a 3, sendo o 1 considerado “leve”, 2 “moderado” e 3 “severo”. A classificação advém do DSM 5 (sigla em inglês para Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” e refere-se ao grau de auxílio e intervenção terapêutica geralmente demandados.
Essa classificação pode ainda ser complementada com base na análise da existência ou não de dificuldades na comunicação verbal e escrita e de algum tipo de deficiência intelectual, demandando-se em cada caso ações específicas.
Essas definições, reforça Bruna, não devem ser estanques, mas apenas servirem de norte para determinar as intervenções mais adequadas para cada indivíduo: “ele é um transtorno do espectro autista, há uma variedade de sintomas. Não podemos enquadrá-los em caixas. o nível de suporte não resume o autista, já que o transtorno se manifesta em cada indivíduo de forma diferente. Apenas o acompanhamento terapêutico pode ajudar cada autista a conhecer a sua individualidade e múltiplas capacidades”.
“Autismo não é doença e não existe cura. No entanto, a pessoa com TEA pode melhorar as suas habilidades através de treinos, de observação, de orientações. Ela necessita de todo esse suporte verbal e visual”, destaca Débora, que também diz que, em determinadas situações, em paralelo às terapias, medicamentos psiquiátricos podem ajudar no suporte em casos de hiperatividade, depressão e ansiedade.
A palestra “Autismo: Definição e níveis de classificação" pode ser revista, na íntegra, no início desta matéria e no canal do YouTube da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba.