17 DE MARÇO DE 2020
Andrea Mesquita citou ofensas em postagens de presidente da entidade; advogado da Ilumina enviou carta à Câmara
Conteúdo de postagens afrontou os profissionais, especialmente as mulheres, disse jornalista
Como representante de um coletivo de profissionais da imprensa denominado "Jornalistas Insultados", a jornalista Andrea Mesquita ocupou a Tribuna Popular da Câmara de Vereadores de Piracicaba, nesta segunda-feira (16), na 12ª reunião ordinária. Ela solicitou um pedido de posicionamento da Fundação Ilumina, sobre declarações ofensivas proferidas pela presidente da entidade, Christianne Guilhon Martelotta Amalfi, que teria atacado mulheres jornalistas em uma postagem no perfil pessoal do Facebook.
Andrea informou que os dois compartilhamentos da presidente da Fundação Ilumina se tornaram públicos na semana passada, no Dia Internacional da Mulher (8 de março). O conteúdo, segundo a oradora, "afrontou de forma monstruosa e repugnante a categoria profissional, especialmente as mulheres que exercem o jornalismo". Conforme a jornalista, as profissionais foram comparadas a prostitutas. "Com todo respeito pela categoria das mulheres que exercem a prostituição nesse país, queremos apenas ser reconhecidas como profissionais que não trabalham vendendo o corpo em troca de informações", completou.
Ex-voluntária da Ilumina, Andrea disse que Christianne usou o perfil pessoal para se retratar, em uma postagem com o termo "retratação razoável", visível apenas aos seus amigos e que teria sido depois retirada do Facebook. "Ela jamais pode esquecer que preside a Fundação Ilumina e que essa instituição tem como princípio básico oferecer meios de prevenção, acolhimento e tratamento para pessoas com câncer, independentemente de sua raça, cor, credo, condição social e ideologia", disse a jornalista.
Ao final, Andrea solicitou uma retratação pública imediata da Fundação Ilumina em suas redes sociais e um pedido de desculpas.
Após o pronunciamento de Andrea, o presidente da Câmara, vereador Gilmar Rotta (MDB), informou que empresa Amstalden Sociedade de Advogados, que representa a Fundação Ilumina, entregou aos gabinetes dos parlamentares uma carta. O presidente leu a íntegra do documento, assinado pelos conselheiros da Associação Ilumina e pela diretora da Fundação Ilumina, Adriana Brasil.
O texto faz referência à nota de repúdio que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo fez no último dia 13, quando o secretário do interior da entidade, José Eduardo de Souza, ocupou a Tribuna Popular da Câmara. Na ocasião, mesmo sem mencionar o nome da entidade e da presidente, Souza disse que a "postagem indignou toda a categoria na cidade, homens e mulheres estão, com razão, consternados diante de tamanha agressão e isso nos causa esse repúdio que fazemos em público", manifestou o representante sindical.
A nota da Fundação classifica como "equívoco" a vinculação das postagens de Christianne à instituição. "Observamos que as manifestações da dra. Christianne Guilhon ocorreram na mídia em seu perfil pessoal do Facebook, não tendo a mesma, inclusive, sequer falado, e nem o poderia, em nome da instituição", menciona a Ilumina, no texto lido por Gilmar Rotta. A carta reitera "hoje e sempre o respeito e carinho aos jornalistas pela contribuição inestimável aos propósitos da Associação, Hospital e Fundação Ilumina, bem como o caráter apartidário das instituições".
A vereadora Nancy Thame (PV) disse ser natural que os jornalistas tenham se manifestado e classificou como pertinente as declarações feitas por Andrea Mesquita. Ela também chamou de "natural" a associação entre a postagem de Christianne e a associação. "Neste caso, ofende não só as jornalistas, mas todas as mulheres e a classe de jornalistas. Principalmente pelas mulheres, que sempre não são valorizadas em suas funções. A retratação é bem vinda e necessária. As jornalistas merecem nosso respeito, pelo trabalho que fazem e pelo que representam como pilar da democracia no país, que está tão fragilizada."
DESDOBRAMENTOS - Antes da leitura do presidente Gilmar Rotta, enquanto ocupava a tribuna da Câmara nos 10 minutos regimentais a que tem direito, a vereadora Adriana Cristina Sgrigneiro Nunes, a Coronel Adriana (CID), lembrou que a Câmara também sofre ataques. "As pessoas nos chamam de ladrões diariamente nas redes de rádio dessa cidade e a gente não vê o sindicato cobrando também. Por isso, é importante que a gente não tenha dois pesos e duas medidas. Nós também trabalhamos muito e merecemos respeito."
Em resposta à Adriana, Lair Braga lamentou a falta de um sindicato na cidade para representar os radialistas. "O radialista, hoje, foi substituído por aquele que traz a verba para dentro da rádio. É uma classe que, infelizmente, não tem representação. Não só o rádio, como o jornalismo, a imprensa, sempre foram fundamental para a liberdade, a democracia e grandes temas que este país conseguiu com muita luta, justiça e sofrimento. Alguns até morreram no exercício de sua profissão, que, lamentavelmente, não é reconhecida até hoje."