24 DE FEVEREIRO DE 2021
Modelos de ações já colocadas em prática foram apresentados durante a primeira reunião do colegiado no ano.
Iniciativas já colocadas em prática em Piracicaba e região mostram como a agroecologia gera impacto positivo no meio ambiente, a quem trabalha no campo e àqueles que consomem seus produtos. Experiências bem sucedidas na área foram compartilhadas nesta quarta-feira (24) no Fórum Permanente de Gestão e Planejamento Territorial Sustentável, da Câmara de Vereadores de Piracicaba.
Mais de 70 pessoas participaram remotamente da primeira reunião do colegiado no ano, realizada pela plataforma virtual Zoom. A vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade É Sua, e o vereador José Everaldo Borges, o Josef Borges (Solidariedade), coordenam o fórum, que foi instituído na Câmara pelo decreto legislativo 37/2017, com encontros mensais promovidos desde 2018.
Cinco ações que valorizam a agroecologia foram apresentadas durante a reunião, duas delas compartilhadas pelo engenheiro florestal Luã Gabriel Trento. Ele destacou os princípios do projeto Redemoinho Ecológico, que busca reconectar paisagens, pessoas e territórios, e a Rede Agroecologia Leste Paulista, que teve início na década de 1980.
A rede congrega agricultores familiares, estudantes e pessoas ligadas a organizações governamentais e não-governamentais e tem como objetivos a promoção da biodiversidade, o apoio à agricultura de base ecológica, a construção de redes sociotécnicas, a difusão de princípios e práticas da agroecologia e o fortalecimento de circuitos curtos de comercialização.
"O aspecto fundamental é a troca, o diálogo, por meio de atividades como reuniões de articulação e visitas de campo", disse o engenheiro florestal, acrescentando que a rede visa contribuir na geração de renda e segurança alimentar, garantir a implementação de políticas públicas locais, fortalecer iniciativas já existentes e potencializar soluções coletivas e contínuas.
Aline González apresentou a proposta da Arapira, que estimula diálogos junto a agricultores, produtores artesanais e pessoas interessadas na agroecologia. O movimento promove interação entre seu público-alvo por meio de feiras de economia solidária, colaborando para o fortalecimento das articulações e contribuindo para o desenvolvimento da produção, economia e cultura agroecológica na região.
Karine Faleiros detalhou o "Corredor Caipira: Conectando Paisagens e Pessoas", da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo), que visa à restauração florestal e ecológica de 45 hectares com o intuito de conectar fragmentos florestais e, assim, conservar a fauna e a flora no território que abrange Piracicaba, São Pedro, Águas de São Pedro, Santa Maria da Serra e Anhembi. O projeto também tem como metas a valorização e o fortalecimento da cultura caipira local, o uso produtivo e econômico da área e a conservação genética de 20 espécies florestais nativas.
A estudante Sara Casadio apresentou iniciativa posta em prática em Ártemis por alunos de engenharia florestal, que ela cursa na Esalq-USP. Voltada a pré-adolescentes e adolescentes, a ação realiza oficinas, distribui cartilhas educacionais e estimula o cultivo de hortas comunitárias funcionais com os objetivos de "promover melhorias no distrito como um todo, suprindo as demandas de áreas verdes, educação ambiental e agroecologia na região".
A estudante Júlia Madeira, que representou a Casa do Hip-hop, compartilhou a experiência da horta comunitária mantida na Pauliceia. "Era um terreno ocioso com muitos problemas, sejam ambientais ou de mau uso. Começou pequena, expandiu e está sendo cuidada pela Pauliceia, com uma organização incrível", disse ela, que propôs ações para que espaços ociosos sejam destinados ao cultivo de hortas comunitárias. "Ajuda a resolver um desafio do nosso território, que é a periferia entender que meio ambiente é assunto da periferia."
O professor e ambientalista Marcos Sorrentino observou que as iniciativas na área reforçam o desafio de "agroecologizar Piracicaba e região", com "mudanças culturais profundas", que implicam transformar a forma de consumo atual. "O velho desejo de enriquecer a qualquer custo não se sustenta mais. Exige a articulação, um movimento que seja desigual pelas particularidades da ação de cada um de nós, mas sincronizado."
Ao destacar o projeto "Novo Tempo e Agricultura Familiar", em Ártemis, o vereador Josef Borges chamou a atenção para a necessidade de viabilizar políticas públicas e infraestrutura para melhores resultados e maior qualidade de vida da população rural. Ele defendeu a organização dos agricultores para a obtenção de benefícios como a garantia de renda mínima a eles e a padronização na distribuição dos produtos, contribuindo para a sustentabilidade. "A agroecologia tem papel fundamental na agricultura por conta dos diversos benefícios que proporciona, como a valorização do trabalhador rural, o escoamento dos produtos e a preservação do meio ambiente", afirmou.
A vereadora Silvia Morales exaltou o elevado número de pessoas que acompanharam a primeira reunião do fórum no ano ("Sinal de que muita gente está interessada", disse), classificou os modelos de ações apresentados como "grande aprendizado" e observou que a valorização da agroecologia "é uma construção". "Estamos no caminho certo", afirmou, ao colocar a Câmara como instrumento para "fazer mais efetivamente". O papel do fórum nas discussões que envolvem o desenvolvimento sustentável também foi enfatizado por Silvia, que participa das discussões desde quando era assessora da ex-vereadora Nancy Thame.
Autora, junto com o também ex-vereador Paulo Serra, do projeto que deu origem ao colegiado, a atual secretária municipal de Agricultura e Abastecimento participou da reunião desta quarta-feira. Ela disse que a pasta "tem o compromisso" de executar o que estabelecem os marcos legais da nova versão do Plano Diretor e do Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável, ambos aprovados pela Câmara em 2020. "Esse processo demora um pouco, é bastante complexo, mas temos o esforço para que consigamos implementar."
Ao final do encontro virtual, os participantes reuniram um conjunto de encaminhamentos para dar sequência às discussões sobre agroecologia. Entre as sugestões, estão consolidar as iniciativas compartilhadas em um relatório, aprofundar a percepção que atrela a agroecologia ao Programa Nacional de Alimentação Escolar e às compras públicas, elaborar estratégias para ampliar a conexão da periferia com a agroecologia e estender o debate sobre o tema à Escola do Legislativo, da Câmara.