31 DE MARÇO DE 2021
Reflexão proposta por Ricardo Araújo e Paula Ibañez encerrou qualificação oferecida pela Escola do Legislativo em quatro módulos.
Atividade ocorreu na tarde desta quarta-feira
O papel da formação técnica em teatro para a construção do pensamento crítico é um dos motivos para quem pretende brilhar nos palcos buscar conhecimento acadêmico. O conselho foi dado pelos atores Ricardo Araújo e Paula Ibañez em evento transmitido ao vivo pela Escola do Legislativo, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, nesta quarta-feira (31).
A conversa foi intermediada por Jhoão Scarpa, do mandato coletivo A Cidade É Sua, do qual faz parte a vereadora Silvia Morales (PV), diretora da Escola do Legislativo. Ela e o vereador Pedro Kawai (PSDB), coordenador, participaram da atividade, realizada por ocasião da comemoração do Dia Internacional do Teatro, no último dia 27.
A formação técnica do artista de teatro, discutida por Ricardo, que é professor do Senac de Piracicaba, e o curso universitário na área, debatido por Paula, doutora em artes da cena pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), completaram a sequência de quatro módulos iniciada nesta terça-feira (30), com exibição pela plataforma virtual Zoom e pelo canal da Escola do Legislativo no Youtube.
Ricardo e Paulo contaram como se interessaram pelo teatro. O professor revelou que sua identificação com a área não foi à primeira vista, já que, antes de qualquer coisa, foi a oportunidade de uma qualificação que o atraiu. "O que me chamou a atenção naquele momento foi a palavra ‘curso’”. Entre atividades voltadas ao aprendizado de música e outras artes, o hoje professor fez em 1989 um curso rápido de teatro, oferecido pelo governo local.
"Foi ali que comecei a trabalhar teatro, sem ter visto uma peça, e onde pude descobrir um caminho que estava se apresentando, muito interessante para um jovem de 14 anos convivendo com pessoas com bagagem no teatro, o que me ajudou a encontrar um caminho para uma formação e acabou sendo um alicerce.”
Ricardo destacou que a profissão é regulamentada pela lei federal 6.533/1978 e pelo decreto federal 82.385/1978 e que se espera do técnico em teatro criar, construir e interpretar personagens, utilizando recursos vocais, emocionais e corporais de acordo com o espaço cênico.
O professor apontou que a formação na área trabalha com competências. Entre elas, realizar improvisações teatrais, pesquisar movimentos artísticos e a história do teatro, utilizar expressão corporal e vocal, construir personagem, realizar caracterização de personagem, interpretar cenas, textos teatrais e personagens para TV, cinema e publicidade, elaborar projetos teatrais e criar cenas e performances para montagem teatral.
Ele defendeu a necessidade de, junto com o conhecimento técnico, "pensar também na formação humana, do cidadão que possa refletir a sociedade". Ricardo, que também é diretor artístico, refletiu sobre questões com as quais a pessoa que busca qualificação na área vai se deparar, tais como "entender o que o espectador deseja, como fazer a diferença em meio a tantos canais e possibilidades e qual a necessidade do público no cenário em que estamos”.
Pesquisadora na área e diretora teatral, Paula Ibañez destacou o "valor de conhecimento" que a arte traz. "Muitas vezes, as pessoas pensam a arte como um lugar de passar um bom tempo, de entreter-se; a arte é tudo isso, mas está muito além disso. O pensar artístico, como lugar de desenvolvimento do conhecimento que é criado nesse processo de fazer arte, é um espaço que precisa ser validado.”
Ela observou que, "desde os primórdios, a arte sempre teve como base questões humanas". “A arte como lugar de desenvolvimento humano não está só para nos divertir e dar prazer, mas também para nos fazer pensar, ser melhores e críticos. Nesse sentido, a formação do artista dentro da universidade é de extrema importância.”
Paula chamou a atenção para o papel da arte em momentos de crise. "O que seria de nós, nessa pandemia, se não fosse a quantidade de eventos artísticos realizados on-line? Se não houvesse esse movimento de se reinventar para continuar levando reflexões, teria sido muito mais difícil do que tem sido. Esse movimento de não aceitação que a arte traz em si, de buscar outras formas, vem a partir da experiência, do lugar de fazer a arte."
A pesquisadora incentivou a carreira acadêmica, mas observou que os estudos em ambiente universitário "só têm sentido quando começam a provocar a comunidade, as pessoas, o mundo”. “É uma carreira muito gratificante. Não desista, porque vale a pena. É muito ingrata em alguns aspectos, sofremos horrores, mas somos muito fortes, com uma capacidade de resiliência muito grande.”
Jhoão Scarpa endossou que “o estudo é muito importante na formação do ator, independentemente do caminho a seguir”. Ele cobrou a Prefeitura para que retome o projeto Movimentação Cultural. "Possibilitou a muita gente a iniciação nas artes e não pode morrer.”
Pedro Kawai, que havia falado da importância da iniciativa, reforçou o apelo. "Um dos grandes equívocos da Secretaria da Ação Cultural foi parar o Movimentação Cultural, que se transformou em Piracicaba numa política de estado, não de governo, pois dava a oportunidade de levar às crianças balé, sapateado, teatro, com professores de extrema capacidade. Cancelar foi um grande equívoco desta gestão. Não é justo com as crianças”, disse o vereador.
Silvia Morales enalteceu o conteúdo dos quatro módulos da atividade oferecida pela Escola do Legislativo entre terça e quarta-feira, ressaltando que "o contato com a arte transforma". “A cultura nos deixa mais sensíveis e [com a pandemia] estamos sentindo falta disso tudo”, afirmou.