Um público diverso, formado principalmente por jovens, lotou o salão nobre da Câmara para uma conversa com quatro profissionais de saúde sobre os tipos mais comuns de câncer que afetam as mulheres. O evento, na tarde desta quinta-feira (19), foi promovido pela Escola do Legislativo e teve transmissão ao vivo da TV Câmara.

Atividade que integra o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, a palestra "Outubro Rosa: o que sabemos sobre os cânceres femininos" reuniu as enfermeiras Carla Milani e Marcela Buoro, a especialista em aleitamento materno Ludmila Ercolin e o médico Marcelo Durante. Também enfermeira, Dayse Feitosa fez a mediação da conversa.

Respectivamente diretor e conselheira da Escola do Legislativo, o vereador Pedro Kawai (PSDB) e a vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua, destacaram a presença do público no evento e a oportunidade de tirar dúvidas com os especialistas.

"A Escola dá um importante passo na campanha 'Outubro Rosa'. Estamos recebendo profissionais das redes pública e privada para essa conscientização, que também contribui para a melhoria da qualidade do atendimento", disse Pedro Kawai. "Ter a Casa cheia nos deixa felizes. Precisamos cada vez mais falar dessa temática, sobre diagnóstico, prevenção e cuidados, para tentar diminuir os casos de câncer", completou Silvia Morales.

Carla comentou sobre a estimativa de registro de mais de 73 mil novos casos de câncer de mama em 2023 no Brasil. "Por dia, 200 mulheres são diagnosticadas com câncer de mama. De 30% a 40% chegam ao Centro Oncológico com o câncer em estado avançado, por isso mobilizamos a sociedade e enfatizamos o diagnóstico precoce. Quando diagnosticamos qualquer tipo de câncer numa fase inicial, são nódulos menores, cirurgias menores e tratamentos menos invasivos."

Carla, que possui título de enfermeira oncologista pela Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica, enfatizou a importância do exame de mamografia, capaz de detectar nódulos menores que 1 centímetro. "A chance de cura, quando diagnosticado precocemente, pode chegar a 90%", afirmou. "Hoje, a incidência maior de câncer entre as mulheres, tirando o de pele, é o de mama, mas aumentou muito o de ovário, o de colo do útero e o de intestino."

A coordenadora assistencial oncológica do HFC Onco chamou a atenção para o fato de a pandemia ter gerado uma ruptura nos hábitos de prevenção. "Muitas mulheres deixaram de fazer o exame de papanicolau e o câncer se agravou", disse, citando o exemplo dos registros de câncer de colo do útero. "Hoje muitos casos chegam para nós avançados: muitos pacientes já não têm mais possibilidade de cirurgia oncológica e vão direto para tratamento com quimioterapia e radioterapia."

Carla destacou que a prevenção é possível, já que parte dos aspectos que colaboram para o surgimento do câncer está sob controle da pessoa. "Há os fatores de risco não-modificáveis, que são os genéticos e hereditários, como o histórico familiar e a idade. E há os fatores que modificamos, como a obesidade, o sedentarismo, o uso de bebida alcoólica e o tabagismo: conseguimos modificá-los através de atividade física, dieta equilibrada e mudança no estilo de vida."

Dayse informou a frequência com que devem ser feitos os principais exames de detecção de câncer em mulheres. "O papanicolau, para câncer de colo do útero, deve ser feito anualmente, pelo menos por três anos seguidos; quando ele dá normal, pode passar a ser feito a cada três anos. Para o rastreio do câncer de mama, a recomendação pelo Inca [Instituto Nacional de Câncer] é para mulheres a partir de 50 anos a cada dois anos e, seguindo a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia, é para mulheres de 40 a 74 anos, uma vez ao ano."

Coordenadora do Programa de Saúde da Mulher de Piracicaba, Marcela deu detalhes do funcionamento da rede de atendimento, que tem como um dos pilares o Cesm (Centro Especializado em Saúde da Mulher), responsável pelo acompanhamento próximo da paciente que, em exame, teve detectado câncer de colo do útero. Ela reforçou que a pandemia impactou na prevenção. "A gente ainda colhe frutos desse represamento, com mulheres que chegam em estado avançado do câncer de colo do útero."

Médico mastologia, Marcelo esclareceu dúvidas sobre diagnóstico, tratamento e remissão do câncer. Ele disse que o tratamento para o câncer de mama "modificou muito em relação ao passado". "Muitas medicações e técnicas foram incorporadas e se tornou mais fácil realizá-lo. Classificamos os tumores em quatro tipos, de acordo com painéis de anticorpos, podendo haver ou tratamento cirúrgico ou quimioterapia e depois a cirurgia."

O médico mastologista falou que a remissão completa é possível com o tratamento e verificada quando os exames não apontam mais nenhuma lesão. Marcelo também abordou a importância do acompanhamento psicológico da paciente e seus familiares, assim como com nutricionista. "Recomendo mudar a alimentação e o estilo de vida e fazer atividades físicas 3 vezes por semana, pois reduz a incidência de o câncer voltar."

Ludmila, que é especialista em aleitamento materno e cuidado materno infantil pelo Instituto Passo 1 e consultora internacional em lactação pelo IBLCE, trouxe à roda de conversa um estudo da revista britânica Lancet sobre o papel do aleitamento materno como fator protetivo para o câncer de mama. Ela destacou que 12 meses de aleitamento geram prevenção 6% maior à mãe.