03 DE NOVEMBRO DE 2021
Roda de conversa "Presença negra e sua representatividade no teatro", realizada nesta quarta-feira (3), marca início de ciclo dedicado ao mês da consciência negra
Evento realizado nesta quarta-feira (3) debateu representatividade negra nas artes cênicas
Com o objetivo de discutir a diversidade racial nas artes cênicas, a Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba promoveu na tarde desta quarta-feira (3) a roda de conversa: “Presença negra e sua representatividade no teatro”.
Realizada de forma on-line, a atividade possibilitou ao público interagir com artistas e produtores de teatro e, assim, discutir estratégias visando ampliar a participação do negro nas artes cênicas.
Mediado pelo jornalista e chefe do Departamento de Comunicação Social da Câmara, Rodrigo Alves, o bate-papo insere-se num ciclo de conversas cujo mote é o mês da consciência negra, celebrado em novembro.
Para a atriz de teatro e educadora Eva Prudêncio, uma das participantes da conversa, o teatro deve ser encarado não apenas como uma forma de entretenimento, mas sim como um instrumento político: “O teatro é um provocador. Ele não tem que ser o solucionador das mazelas do mundo, mas o teatro ele é uma ferramenta que tem esse poder de espelhar a realidade e, a partir disso, transforma-la. “Teatrar” nada mais é, penso eu, do que a possibilidade de afetar e ser afetado e, sobretudo, o teatro é um instrumento político, justamente porque ele pode ser um agente transformador de realidades. Eu penso que aquele que não compreende e não compreendeu o teatro como instrumento político está enganado, está na trajetória errada", diz Eva.
José Antonio da Silva, conhecido como Antônio Chapéu, ator e diretor de teatro, destaca que o negro, ao longo do tempo, conquistou mais espaços nas artes cênicas. No entanto, ele relembra que, no início de sua carreira, há 39 anos, eram raros os negros no teatro e, em número muito menor, aqueles em posições de mando e coordenação: “Você tinha que marcar o chão, dizer que era um negro e que tinha competência, tinha que matar vários leões por dia. As pessoas olhavam e comparavam. Se você está numa posição de mando, o olhar redobra, quase um desprezo do tipo: como esse cara está ai?!”, relembra Chapéu, que desde 1987 coordena o setor de teatro do Núcleo Universitário de Cultura da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).
Para além de uma conquista individual, ocupar espaços anteriormente reservados quase que exclusivamente a atores e diretores brancos abre portas para toda uma nova geração. É o que diz a também diretora, atriz e produtora cultural Thaís Dias, piracicabana formada em 2009 pela Escola Livre de Teatro de Santo André e que, atualmente, reside em São Paulo: “Ter visto artistas negros se destacando me dava um vislumbre de que era possível, de que existia um lugar para mim também. Esse lugar da representatividade é de absurda importância. Uma criança preta ver uma professora preta, ver uma artista negra, olhar e ver que o seu cabelo é igual ao da artista, que o corpo tem o mesmo tom de pele, abaixo ou acima, existe uma conversa, uma proximidade, um flerte de encantamento”.
De forma semelhante, Wellington Camargo, ator e produtor cultural e que atualmente está à frente de um documentário sobre a ex-vereadora Madalena, morta de forma violenta no início deste ano, reforça que a representatividade nas artes cênicas não é algo dado, mas um campo em constante disputa: “ele é sempre um processo de reafirmação. O negro, vira e mexe, a gente está tendo que provar alguma coisa. Às vezes não é nem uma condição externa, mas uma condição interna, já que muito da sociedade foi construída para que pessoas pretas, os corpos pretos, fossem alvos. (...) O que estamos discutindo hoje são questões relativas à perpetuação e manutenção das pessoas negras nesse cenário brasileiro, que está sempre querendo subalternizar as funções. Então, se o negro faz, ele tem que fazer mais, e se é preto e mulher precisa fazer mais ainda, tem que se desdobrar ainda mais. E essas questões estão dentro do nosso cotidiano", destaca Wellington.
E para garantir que esses espaços de representatividade sejam mantidos e ampliados, os participantes foram unânimes em destacar a importância das políticas públicas direcionadas para o fomento da cultura, em especial nas periferias das cidades: “teatro modifica a vida e, neste momento, faltam políticas públicas nesse sentido também. As crianças, os moradores das periferias, hoje, estão descobertos destas políticas públicas, do teatro”, resume Eva Prudêncio.
A palestra completa pode ser vista no canal do YouTube da Escola do Legislativo.
A Escola do Legislativo é atualmente dirigida pela vereadora Sílvia Morales (PV), do Mandato Coletivo "A Cidade é Sua" e conta com a coordenação do vereador Pedro Kawai (PSDB) e a participação do vereador Josef Borges (Solidariedade) e dos professores Heliani Berlato, Josué Adam Lazier, e do servidor da Câmara, Bruno Didoné de Olviera, no Conselho do Órgão.