02 DE DEZEMBRO DE 2024
Documentário que aborda aspectos atrelados aos estereótipos do masculino foi exibido e debatido na última sexta-feira (29), em atividade na Escola do Legislativo
Atividade que exibiu e promoveu o debate sobre o documentário "O silêncio dos homens" aconteceu na última sexta-feira, na sede da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba
A Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba promoveu na última sexta-feira, 29 de novembro, na sala "Antonio Carlos Danelon - Totó Danelon", sede da Escola, a exibição do documentário “O silêncio dos homens”, que busca refletir sobre os estereótipos associados à masculinidade e os seus reflexos individuais e coletivos.
A exibição foi seguida de um debate, mediado por Hélio Hintze, psicanalista, filósofo, escritor e Pesquisador Transdisciplinar com Doutorado em Ciências (USP), Pós-doutorado em Economia, Administração e Sociologia (USP), Pós-doutorado em Formação Antimachista (USP) e Pós-graduado em Psicopatologia, Psicanálise e Clínica Contemporânea (ESPE), e contou com a participação de homens e mulheres, tanto servidores da Casa quanto do público externo.
Também participaram da atividade as vereadoras Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua, Conselheira da Escola do Legislativo e Procuradora-adjunta da Procuradoria Especial da Câmara, e Rai de Almeida (PT), Procuradora Especial da Mulher da Câmara.
A atividade faz parte da campanha “21 dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher”, promovida em Piracicaba pela Rede de Prevenção, Atendimento e Proteção à Mulher, que conta com a participação da Procuradoria Especial da Mulher da Câmara e de diversas entidades e órgãos municipais e estaduais.
O Silêncio dos homens - O documentário, produzido pelo Instituto Papo de Homem e realizado pela Monstro Filmes, baseia-se em uma pesquisa com mais de 40 mil homens, e traz inúmeras entrevistas, com homens e mulheres, em seus mais diversos matizes, relatando situações em que os estereótipos atrelados ao que é “ser homem” impactaram e impactam em suas vidas.
Em uma sociedade em que o masculino muitas vezes é reduzido à virilidade, à não demonstração de fraquezas e emoções, ao não chorar e, essencialmente, ao não falar sobre o que se sente, o documentário propõe uma nova forma de se estar no mundo, mais propensa ao diálogo e à aceitação das emoções e, consequentemente, menos agressiva.
“Os homens não falam sobre uma série de coisas pois os ensinaram que eles não deveriam falar. Podemos também pensar, simplesmente, que a temática sobre o falar foi também silenciada, nem sequer é ensinada. Eu nem preciso ensinar que não pode, eu nem sequer ensino. E falar sobre o quê? Falar sobre qualquer marca que, na vida daquele homem, o afaste do ideal de masculinidade proposto pelo machismo estrutural”, disse o professor Hélio Hintze.
Ele ainda acrescentou: “então, o homem percebe que para ser homem com “H maiúsculo” ele precisa afastar de si uma série de questões do tipo “eu estou me sentindo vulnerável”, que isso tem que calar pois, se essa vulnerabilidade é apresentada ao público, ele imediatamente será considerado como menos homem. Então, a violência contra o homem, no machismo estrutural, ela é diferente da violência contra a mulher, que é uma violência declarada e colocada, com toda a violência sobre a mulher”.
A "liberdade" - Ainda segundo o pesquisador, a violência no contexto do machismo, voltada contra o homem, também se apoia nas expectativas de comportamento e na afirmativa ações, muitas vezes “travestidas de uma liberdade”.
“Por exemplo, observando a educação das crianças, vemos o incentivo ao menino do “vai lá e faz”, "vai lá e pega" e "vai lá e sobe na árvore”, mas quando esse homem, esse menino diz, “eu não quero ir fazer”, “eu não quero subir na árvore”, “eu tenho medo”, ele é vetado. O medo é vetado. Se ele briga na escola e apanha, se ele vem chorando, e apanha em casa. Então, toda forma de manifestação daquilo que é considerado como feminino é vetada no homem, e isso fecha uma série de possibilidades de troca dessas emoções com o exterior, e virando uma panela de pressão”.
Para Rai de Almeida, tanto a exibição do documentário como as reflexões trazidas pelos presentes, criam espaços para que a sociedade possa repensar sobre o seu papel na educação de maneira ampliada, de forma a se refletir em uma sociedade menos violenta:
“Essa atividade de hoje buscou fazer uma reflexão de como em nossa sociedade, ao mesmo tempo que há uma violência contra a mulher, que toma conta da vida das mulheres, há também o outro lado dessa violência. Vimos um documentário construído pelos homens, fruto de uma pesquisa com mais de 40 mil entrevistados, e que vai trazer também essa violência com que o homem é criado, como ele é construído socialmente e culturalmente, por meio desse silêncio em que ele não pode externar as suas fragilidades, as suas emoções, as suas dores, os seus sentimentos, e que isso vai sendo represado. Lógico que uma hora, também, esses sentimentos explodem e, quando explodem, podem se tornar uma violência. Precisamos entender essas questões para que nós possamos romper com esse ciclo de violência com o qual nós vivemos, sejam as mulheres sendo violadas pelo masculino, mas o masculino sendo violado na sua formação de ser humano, que é um ser com todas as suas peculiares, que é um ser humano com fragilidades mas também com fortalezas”.
“É o nosso papel trazer essa reflexão, tanto por meio da Procuradoria Especial da Mulher, nesses 21 dias de combate à violência contra a mulher, quanto da Escola do Legislativo, que traz toda essa questão da cidadania, da educação”, disse Silvia Morales.
Ela também destacou a qualidade do debate, e se disse satisfeita com o resultado da atividade: “saio muito satisfeita porque é um documentário que exibimos pela segunda vez e, dessa vez, com a participação do professor Hélio, que é um estudioso no assunto, que tem livros escritos sobre o machismo, o racismo e sobre o patriarcado. Então, ele trouxe essa reflexão para que a gente pense o que pode causar, para onde vai esse silêncio dos homens, desse homem que tem que ser o machão, o provedor, o forte. E isso vai para uma explosão, para uma violência, vai para uma doença, vai para um suicídio muitas vezes”.
Para Hélio Hintze, o único caminho para se reduzir a violência direta ou indireta é por meio da educação: "há a necessidade da nossa geração encarar esse desafio, justamente na educação das crianças. Mas ao educar as crianças, eu não estou só educando as crianças, eu estou também me educando, porque o educador precisa estar aberto ao aprendizado, Então, aquilo que é difícil para um pai ou para uma mãe fazer, ele tem que se comprometer a enfrentar isso em prol da criança, também como uma abertura de espírito para si mesmo. Essa pedagogia ela não está na escola, essa pedagogia está no dia a dia, na hora da louça, na hora da brincadeira, na hora do afeto, do carinho. Essa mudança da geração de crianças vai abrir a possibilidade de os adultos também criarem novas condições de ver a vida.
Diversas atividades no âmbito dos “21 de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher” serão realizadas pela Rede de Prevenção, Atendimento e Proteção à Mulher, inclusive com lançamento da segunda publicação da Escola do Legislativo, intitulada “Mulheres em Contexto”, no próximo dia 10, data em que também se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
A atividade completa está disponível no canal do YouTube da Escola do Legislativo, e pode também ser revista no vídeo que acompanha esta matéria.