A Câmara Municipal de Piracicaba, conforme iniciativa da vereadora Rai de Almeida (PT), no requerimento 30/2025, garantiu a realização de reunião solene em comemoração ao Dia do Rio Piracicaba, lembrado em 15 de abril, por força do decreto legislativo 8/2013, em lei municipal de autoria da ex-vereadora Laurisa Cortelazzi (PV), que também foi contemplada na noite especial, que ainda contou com a participação do tecnólogo em Gestão Ambiental, Igor Alessandro Serra, que discorreu sobre os Desafios da Gestão do Rio Piracicaba.

A vereadora Rai de Almeida abriu o ciclo de saudações, cumprimentou a doutora Laurisa Cortelazzi, com destaque ao seu legado de defesa ambiental e, também falou da amiga Silvia Morales - companheira do Legislativo - no partilhamento de pauta em comum. Além de agradecer a presença de cada um dos participantes da solenidade, da oportunidade de falar de um rio tão importante, "que possamos fazer uma reflexão", disse. Rai também agradeceu a pessoa do professor Igor Serra, na palestra sobre os recursos hídricos. E, ainda acentuou o caráter especial, de uma mesa de honra formada só por mulheres.

A autora do projeto de lei que instituiu o Dia do Rio Piracicaba, Laurisa Cortelazzi saudou a todos e falou da certeza de cada um "estar unido na mesma força". Também falou que cada vez que um homem defende um ideal, contra a injustiça deste mundo, é enviado uma onda, que irradia de esperança e amor, por acreditar no bem. "Estamos aqui neste mundo apenas para servir. Agradeço de coração a Rai e à Silvinha, por me colocarem aqui", registrou a ex-parlamentar.

A vereadora Silvia Morales destacou o papel de Laurisa, na autoria do projeto sobre o rio e, também ressaltou o papel do rio em várias pautas, lembrando que este manancial é o nosso cartão postal. "Quem não gosta de ir no Tanquã, ou frequentar a Rua do Porto?", disse. Silvia também destacou o trabalho sério de Igor Serra, em palestras pela cidade. E, ainda falou da leitura de livros, a exemplo do Elias dos Bonecos, de autoria de Nordahl Neptune, que leu em seus últimos dias de férias. 

Além de citar obra escrita pelo ex-deputado federal, Antonio Carlos de Mendes Thame, que mostra os primórdios do rio Piracicaba, até o sistema Cantareira, "que nos remete à importância de discutir a temática", disse a parlamentar, além de considerar a decisão de Rai, na promoção da solenidade e, de reconhecer a importância de se fazer o debate e os encaminhamentos para as questões ambientais que envolvem o rio Piracicaba. Silvia ainda citou outras lutas ambientais, a exemplo do movimento para salvar o entorno da  Boyes e outras pautas que trazem a proteção de nossos rios.

A deputada estadual Professora Bebel (PT) enviou mensagem que foi exibida em telão, em cumprimento a todos os presentes, além de parabenizar a iniciativa de Rai e de Laurisa, por ter criado o dia. E, falou da importância de se ter um dia, para o rio Piracicaba, que na língua tupi guarani significa o lugar onde o peixe para. Também referendou os muitos pescadores e turistas que frequentam este espaço.

A deputada estadual Ana Perugini (PT) também enviou mensagem gravada, no que deixou um abraço a todos, com destaque a projeto sobre o rio Piracicaba, a ser aprovado na Alespi. Além de também parabenizar Rai e Laurisa.

PALESTRA - na sequência da solenidade foi apresentada a palestra, de 20 minutos, mostrando os desafios do Rio Piracicaba, proferida por Igor Alessandro Serra, tecnólogo em Gestão Ambiental, pós graduado em Gerenciamento de Recursos Hídricos, coordenador ambiental do Grupo Dedini, co-fundador da Casa Hip Hop, com experiência de 23 anos de atuação na área ambiental.

Igor iniciou sua palestra com destaque aos problemas do rio e como lidar com eles. Traçou um breve histórico sobre a Bacia do Rio Piracicaba, que começa em Minhas Gerais e atravessa todo o estado Mineiro, entrando no estado de São Paulo, sendo portanto, um rio federal, de domínio, diferente do que o rio Capivari, que nasce em São Paulo. O Piracicaba é formado pelos rios Atibaia e Jaguariuna, se juntando em Americana.

Citou que em 1911, houve o primeiro grande impacto, com a represa de Americana, Salto Grande e, que na década de 50 aumentou sua capacidade. Também mencionou a praia dos namorados e praia azul, e o rio Jaguari, para se encontrar com o Piracicaba abaixo. Além de considerar a influência da região de Campinas, afetando brutalmente o Piracicaba, nos seus mais de três milhões de habitantes, onde até há pouco tempo, apenas cerca de 10% de esgoto era tratado, comprometendo os rios formadores do Piracicaba, principalmente o Atibaia. 

"No tratamento de esgoto, nem tudo está tranquilo, sendo que o esgoto passa pelo tratamento primário, onde não se remove a carga orgânica por completo, o que temos é o tratamento secundário, a legislação fala da redução de até 80%, só que estas duas etapas não removem o fósforo e nitrato, o ideal seria também incluir a etapa terciária", disse.

Igor também falou da eutrofização, processo de enriquecimento excessivo de nutrientes em corpos d'água, como rios, lagos e represas, que pode ser natural ou provocado pelo homem, a partir de corpo hídrico equilibrado, com algas em quantidade normal, quando não, com esgoto bruto, sendo fonte enorme de fósforo e nitrogênio, com a água acaba levando tudo para os recursos hídricos, provocando a ausência de peixes.

"O que esta eutrofizado no Piracicaba é a represa de Salto Grande, em enorme problema, onde a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) tem TAC (Termo de Ajuste e Conduta), do Ministério Público, em obrigação de fazer limpeza mecânica de algas. O processo é o mesmo que enxugar gelo, pois é só tirar e logo esta voltando tudo. Se não fizer as três etapas, vão continuar os problemas, devido à ação das macrófitas, aguapés e o cloro, na liberação de toxinas, que inviabilizam o tratamento destas águas.

A vereadora Silvia Morales alertou sobre os fertilizantes, além de lembrar que as margens dos rios são muito urbanizadas, com o esgoto doméstico agravando o problema.

O ex-vereador Paulo Camolesi também fez considerações sobre o decantamento das águas dos rios, onde os resíduos, à medida que descem, vão direto ao Tanquã e, "para quem tem olhar mais técnico, se percebe que está com problemas, na reprodução de macrófitos, com volume muito grande, o que vai contaminar os peixes por falta de oxigênio", disse.

Igor também considerou os problemas pontuais, a exemplo dos industriais, que aconteceu na última enchente, com a mortandade de peixes no Piracicaba. "São poucos técnicos para fazer o monitoramento, o que provoca mortandades, devido à fiscalização", disse o ambientalista.

O professor também citou a barragem de Pedreira e Amparo, para regularização de vazão.  "São barragens de contenção de invasão, no represar de água para uso. Se o pessoal à montante não tratar o esgoto vai haver problemas. Além de abordar sobre o sistema atual do Cantareira, que vem desde o tempo de Dom Pedro, na primeira barragem, no século 19. De lá para cá a solução foi tirar água dos rios formadores do Piracicaba, com início na década de 60 e implantação em 1971.

Igor concluiu a palestra ao destacar a importância da sociedade se mobilizar para rever a outorga do sistema Cantareira, a ser renovada em 2027. "Se queremos brigar é o momento político e técnico, dentro dos comitês ou em atos nas ruas. Esta é a realidade que temos hoje focado com o rio Piracicaba", disse o palestrante, que ainda comentou sobre empreendimentos que não respeitam as nascentes permanentes, em loteamentos aprovados pela Prefeitura.

A vereadora Rai ocupou a tribuna de honra para registrar a nossa triste realidade, sendo que no dia do rio Piracicaba não há nada a comemorar e, "sim, lutar para que o rio volte a ter vida, para a nossa sobrevivência. Porém, referendou o dia simbólico, "para que possamos olhar para todos os rios e cobrar responsabilidades na recuperação", disse.

A parlamentar também falou de plantio simbólico que fez no Engenho Central, para mostrar o quanto o poder econômico é perverso, sendo que a palestra de Igor mostra que a situação piorou, com a privatização da Sabesp. "A realidade é bem triste, o rio pede socorro", disse Rai, além de citar a praia azul, que é verde de poluição, com pouquíssimas árvores, o que reflete a cidade, com poucos arvoredos.

"Precisamos nos mobilizar para discutir a outorga, prevista para 2027, o que torna difícil, onde precisamos mais de gente e legisladores comprometidos com esta pauta. Precisamos ir à luta. A crise climática está na ordem do dia, há que mudar hábitos alimentares. Comer carne tem as suas consequências.  Não sabemos o que é o rio, as cidades acima tem responsabilidade. O Parlamento Metropolitano deverá ser mobilizado, na criação de frentes em defesa do rio. A morte do rio é a nossa morte. Vamos dar as mãos e 'Esperançar', pois isso é a nossa luz. Não soltaremos as mãos de ninguém", concluiu a parlamentar.

Na sequência da solenidade, Laurisa Cortelazzi, médica pediatra há 49 anos, nos seus 75 anos de vida, primeira vereadora mulher do PV, falou da luta contra a Carioba II e, luta pelo dia do Rio Piracicaba.

E, ocupando a tribuna de honra, Laurisa deixou um testemunho, de quando foi a primeira mulher, no século 21, a assumir uma vaga na Câmara, pelo PV, relembrando o projeto da Carioba II, que seria colocado em Piracicaba, com a situação revertida em função da união dos vereadores, quando pegaram o ônibus e foram ao Morumbi, em São Paulo, onde eles já acertavam tudo o que iram auferir.

"Mostrei o peixinho, o 'Nhopir', pedindo que não queríamos eles em Piracicaba. Quando chegamos naquele lugar, 'chiquérrimo', quando o ônibus ficou na frente do restaurante, veio segurança de todos os lugares e disse que nós éramos umas baratas", relatou a parlamentar, mostrando que a resposta que deu a eles foi a firme decisão de não desistir e mobilizar a população, o que resultou na não instalação do projeto em Piracicaba.

No encerramento da solenidade, a vereadora Rai destacou o posicionamento de Laurisa. "Me fez sentir mais forte, no movimento da Boys teve gente dizendo que ama Piracicaba, mas queriam tirar vantagens e, para nossa surpresa, não vai ser tão fácil assim", concluiu a parlamentar.