26 DE JUNHO DE 2024
Escola do Legislativo, da Câmara, promoveu o evento "Convivendo com Alzheimer", com a participação de uma terapeuta ocupacional e uma enfermeira
Curso de 4 horas foi ministrado na tarde desta terça-feira
Com quatro horas de duração, uma capacitação promovida nesta terça-feira (25) pela Escola do Legislativo, da Câmara Municipal de Piracicaba, levou orientações a cuidadores e familiares de pessoas com Alzheimer. Profissionais com experiência na área, a terapeuta ocupacional Lívia Baltieri e a enfermeira Mirtes Antunes comandaram a apresentação.
Como toda atividade realizada pela Escola do Legislativo, as inscrições para o curso "Convivendo com Alzheimer" foram gratuitas, o que trouxe os participantes à sala de aula no andar térreo do prédio anexo da Câmara. O público, que também pôde acompanhar o evento pelo YouTube, teve a oportunidade de tirar dúvidas com as palestrantes.
"Sabemos quantas pessoas são afetadas por Alzheimer no mundo. E o mais importante é não só entender o Alzheimer, mas capacitarmos os familiares e os técnicos para que possam atender de uma maneira adequada esses pacientes, pois sabemos o quanto é difícil o dia a dia de seus familiares", comentou o vereador Pedro Kawai (PSDB), diretor da Escola do Legislativo.
A vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua e atual conselheira da Escola, destacou a qualidade das informações compartilhadas no evento. "A Mirtes já esteve conosco, quando trouxe um curso sobre cuidados, e agora volta à Escola com esse tema, junto com a Lívia. A população está envelhecida, com muitos idosos e famílias com pessoas que demandam cuidados, então precisamos sempre conversar sobre isso."
Diretora da sub-regional de Piracicaba da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer), Lívia conceituou a síndrome como decorrente de doença cerebral crônica, progressiva, "com perturbações de múltiplas funções cerebrais superiores": memória, atenção, pensamento, orientação temporal e espacial, linguagem, compreensão, cálculo e capacidade de aprendizado e julgamento, acarretando repercussões sociais e ocupacionais ao paciente.
Ela distinguiu três fases da doença. A inicial é caracterizada por lapsos de memória recente, mudança de comportamento, senso de direção comprometido, atitude mais agressiva, dificuldade em fixar informações novas e teimosia.
"Na fase inicial, as alterações são muito sutis, então precisamos de um profissional qualificado que trabalhe com pacientes com demência. O Alzheimer não tem cura, mas tem tratamento. Como qualquer doença, é sempre melhor descobrir na fase inicial, pois o prognóstico é sempre melhor", afirmou a terapeuta ocupacional.
Na fase intermediária, os sinais são a intensificação da perda de memória, a repetição infinita de informações, o estresse psicológico, a depressão, a agressividade quando a pessoa é contrariada e o estranhamento constante da própria casa e de seus pertences.
Já a fase grave da doença tem como características a total dependência física, em que a pessoa não anda, quase não fala e não reconhece ninguém, nem a si mesmo. Também há o surgimento de feridas, o aparecimento de infecções e a deglutição fica prejudicada. "O paciente fica acamado e a função renal já não é a mesma", disse Lívia.
"À pessoa com demência, de forma geral, ou com Alzheimer, que é o tipo mais diagnosticado, precisamos oferecer cuidado objetivo: com a higiene, a aparência, a saúde e a alimentação", acrescentou a diretora da Abraz.
Ela destacou a necessidade de haver o manejo dos sintomas, trabalhando a aceitação, a estimulação do paciente e sua distração para redução do sofrimento; da importância do convívio social e familiar, mantendo o afeto, a qualidade de vida e os relacionamentos da pessoa; e da readequação de papéis familiares, já que a convivência com uma pessoa com Alzheimer implica definir quem tomará decisões por ela.
Lívia salientou que a família de uma pessoa com Alzheimer "enfrentará múltiplas demandas simultâneas e profundas transformações" e serão necessárias flexibilidade e capacidade de promover adaptações. A especialista também chamou a atenção para que o cuidado com o paciente jamais lhe tire a autonomia. "Você não vai fazer por ele; você vai sempre estimular, senão ele vai precisar de mais cuidados."
A diretora da sub-regional da Abraz convidou o público a buscar os serviços oferecidos pela entidade, como os três grupos voltados aos cuidadores familiares: o informativo, com palestras e cursos; o de socialização, para troca de informações e estratégias de autocuidado; e o de apoio emocional, para alívio do sofrimento e manejo de sintomas.
A terapeuta ocupacional listou os benefícios que a participação nos grupos traz à família cuidadora: diminuição do estresse no cuidador, melhora na qualidade do cuidado oferecido, aumento da adesão aos tratamentos, melhor manejo dos sintomas, maior aceitação da doença e das mudanças, relacionamentos mais saudáveis e funcionais, ambiente mais apropriado e prazeroso, maior coesão familiar e melhor comunicação.
Mirtes foi enfática na defesa da autonomia do paciente e nos cuidados com a comunicação, já que é comum a pessoa com Alzheimer mostrar-se irritada e refratária, em razão do medo por passar a desconhecer indivíduos próximos e até o ambiente da casa onde vive. Ela citou como exemplo a resistência que muitos colocam quando levados para o banho.
"Por que o paciente grita ou 'esperneia' no banho? Porque ele pode estar com dificuldade de caminhar ou, principalmente na fase 2 da doença, apresentar hidrofobia, medo de água", comentou, acrescentando que outras reações no dia a dia podem ter origens diversas. "Ele também pode ter medo de cair, estar deprimido, com infecções que geram mal-estar. Pode estranhar o cuidador, por estar com dor ou com uma infecção. Por isso o ambiente tem que ser seguro e adaptações têm que ser feitas de acordo com o grau de dependência apresentado", aconselhou.
A enfermeira apresentou mais de uma dezena de situações comuns verificadas na relação do paciente com Alzheimer e seus familiares ou cuidadores e, para cada uma delas, forneceu orientações sobre como agir para garantir o cuidado humanizado. "Tem que saber como abordar o paciente, sempre de frente, de modo suave, olho no olho, pois ele não lembra quem você é", disse Mirtes.
"É importante enfatizar que todos os cuidados preventivos estão intimamente relacionados com a adaptação do ambiente. Inicialmente, analise cada compartimento da casa, a fim de eliminar riscos potenciais de acidentes. A cozinha e o banheiro frequentemente são os ambientes mais perigosos para a pessoa", alertou a palestrante.
A enfermeira também abordou os cuidados com a saúde e a alimentação da pessoa com Alzheimer. "Deixar o paciente sentado o dia inteiro está errado: tem que ter apoios para ele, nas pernas e lateralmente", exemplificou Mirtes, sobre como evitar o aparecimento de dores e feridas por pressão.
"A alimentação precisa ter horários regulares, ambiente tranquilo e, especialmente, muita calma e paciência da parte do cuidador, pois esses são fatores imprescindíveis para que a alimentação seja bem aceita pelo paciente", disse a enfermeira, que resumiu os conselhos voltados à compreensão dos cuidadores em uma frase: "A vida real é a do paciente, não a sua, então não o contrarie."