10 DE SETEMBRO DE 2019
Palestra na tarde desta terça-feira (10) marcou o Dia Municipal de Prevenção, iniciativa da vereadora Coronel Adriana (CID)
Não há perfil único de quem decide tirar a própria vida. Ao mesmo tempo, os dados oficiais ainda sofrem de subnotificações que são fruto de uma cultura que, ao longo do tempo, preferiu não falar do assunto, tornando-o tabu. Entender as razões e, mais profundamente, acolher quem indica tendências suicidas é um desafio não apenas da classe médica, mas do poder público e da sociedade como um todo.
“É um tema de relevante interessante. Só nos últimos meses, tivemos o registro de três suicídios em nossa área (entre policiais militares”, disse a vereadora Adriana Cristina Sgrigneiro Nunes, a Coronel Adriana (CID), autora do projeto de decreto legislativo 18/2017, que institui na Câmara de Piracicaba o Dia Municipal de Prevenção ao Suicídio, que integra a programação do Setembro Amarelo, período aluviso ao tema no mundo.
Na tarde desta terça-feira (10), ela conduziu seminário no Salão Nobre “Helly de Campos Melges”, com três palestras sobre o assunto, solicitada pelo requerimento 594/2019.
A tenente-coronel da PM-SP, Valdira Lima, trouxe a experiência de quem participou do atendimento psicológico das vítimas de Brumadinho-MG. “Perdi um amigo por suicídio, na época me senti culpada, me perguntei se eu tivesse percebido os sinais ou se eu tivesse conversado com ele”, disse. “Mas não podemos nos sentir culpados”, defende.
Valdira lembra que, embora a OMS (Organização Mundial da Saúde), assim como a classe médica, defina alguns “sinais” em torno de quem tem tendências suicidas, não há um perfil definido. “São multifatores, nós temos que ter isso na cabeça. Por exemplo, transtornos mentais têm a ver com suicídio, mas nem todo mundo que tenha um transtorno mental vai, necessariamente, tirar a própria vida”, disse.
Ela trouxe à análise uma discussão em torno dos valores atuais da sociedade, como a busca pelo ter ao invés do ser. “O que adianta eu trabalhar tanto para ter aquela piscina que eu gostaria de ter, mas não conseguir ter um tempo de colocar o pé nesta piscina”, questionou. Valdira também lembrou que a geração atual tem, cada vez mais, dificuldade em assimilar as frustrações da vida.
“Temos que aprender a frustrar os nossos filhos”, avalia. “O suicídio não é um ato de coragem, de fraqueza ou de covardia, mas é, no fundo, um sentimento de dor, quem busca essa solução quer se livrar da dor.”
A médica Graciela Marasca focou a palestra no “antes” e no “depois” do suicídio. “O que podemos fazer em cada uma destas situações”, avalia. “É possível prever, mas ainda não com 100% de eficácia, mas com uma boa chance”, disse. Ela trouxe números no mundo sobre suicídio, que, em 2012, atingiu 800 mil pessoas, um a cada 40 segundos.
“No Brasil, tivemos um aumento na mortalidade por suicídio a partir de 2011, chegando a 100 mil até 2015, tornando-se a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos, sendo a terceira entre homens desta faixa etária e a oitava entre as mulheres”, explicou. Ela também detalhou que a situação tem piorado também entre os mais idosos, “por conta, principalmente, de enfrentar a solidão na velhice”, disse.
Graciela lembra, no entanto, que nas cidades onde existem o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) o índice de suicídio chega a ser 14% menor do que nas localidades onde não existem esse serviço. “Aqui, temos um caminho para a prevenção”, enfatizou a médica.
A profissional do CAPS Vila Sônia apresentou, ainda, as questões em torno da subnotificação. Já que, em muitos casos, a morte por suicídio não é registrada desta maneira. “Nem todos os casos entram no conhecimento da polícia e a fonte dos nossos dados é a polícia.”
Eliane Margaret Soares é administradora de empresas e também voluntária do CVV (Centro de Valorização à Vida), organização fundada em 1962 e que, atualmente, realiza cerca de três milhões de atendimentos ao ano, conversando com pessoas que buscam o acolhimento oferecido pelo serviço.
Ela apresentou parte de como os voluntários do serviço se preparam para poder conversar com as pessoas que procuram ajuda. “Quando alguém liga às três horas da manhã, porque não consegue dormir, a gente precisa ter essa conversa de coração a coração”, observa.
“Para se comunicar é preciso ouvir atentamente, com calma; entender os sentimentos da pessoa; dar mensagens não verbais de aceitação e respeito (nos casos de atendimentos presenciais); expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa; conversar honestamente e com autenticidade; mostrar sua preocupação, seu cuidado e sua afeição; e focalizar nos sentimentos da pessoa”, disse Eliane.
O CVV atende pelo telefone 188, no site cvv.org.br (por chat ou via e-mail) e, presencialmente, em Piracicaba, na rua Ipiranga, 806, entre as ruas Governador e Boa Morte, no Centro.