27 DE SETEMBRO DE 2022
Encontro realizado na tarde desta terça-feira (27) congregou diversos atores para debater modificações na área central, em especial na rua Governador Pedro de Toledo
Reunião pública realizada na tarde desta terça-feira (27) congregou representes do poder público, comerciantes e interessados em debater a revitalização da área central
O Legislativo piracicabano discutiu, na tarde desta terça-feira (27), em reunião pública convocada pelo vereador Reinaldo Pousa por meio do requerimento 646/2022, a requalificação e reestruturação da área central, com foco na rua Governador Pedro de Toledo, um dos principais centros comerciais da cidade.
O encontro, que aconteceu no Plenário da Câmara Municipal de Piracicaba, teve grande participação de vereadores, representantes de entidades ligadas ao comércio, secretários municipais e população em geral, e promoveu um debate inicial sobre o futuro da região central.
Na abertura da reunião, Pousa exibiu um vídeo por ele gravado nas vias centrais da cidade em que aponta para a grande quantidade de fios elétricos aparentes nos postes e para bancos de madeira quebrados. "Queremos uma grande revitalização na área central", disse o parlamentar, que também é presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas de Piracicaba).
Para ele, a transformação da rua Governador em um calçadão, ou seja, em uma área fechada para o acesso de veículos automotores, a exemplo do que já acontece em outras cidades, é uma das possibilidades que deve ser analisada e amplamente debatida:
"Um tema que há alguns anos nós vimos discutindo, é que nunca deixemos que o centro de Piracicaba e os centros comercias, de forma geral, se tornarem centros velhos. Muito se fala em calçadão e em diversas ideias. Não é que deveria necessariamente ser um calçadão, mas precisamos abrir essa discussão com a sociedade, para que cheguemos a um ponto que seja a contento de todos", analisou o parlamentar.
Marcelo Cançado, presidente da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba), problematizou uma eventual transformação da área em um calçadão. "O calçadão, pelo que tenho visto e lido nestes últimos anos, ele tem sido muito mais desfavorável ao comércio do que favorável", disse.
Para ele, um eventual fechamento de ruas poderia gerar um efeito secundário no aumento de tráfego nas vias adjacentes e acentuaria a dificuldade dos motoristas de encontrarem locais para estacionarem seus veículos. Ele apontou que deficiências no transporte público da cidade também trazem empecilhos à chegadas das pessoas ao centro.
"Outra coisa que nos preocupa é que a rua Governador, depois das 18h, ela perde o movimento. No entanto, ela ainda é meio de acesso para veículos. Quando você transforma a rua em calçadão, você perde cem por cento desse movimento. Hoje, a praça José Bonifácio é moradia para várias pessoas. Será que um calçadão não seria mais um opção de moradia sem carros passando?", questionou o presidente da Acipi.
De acordo Rose Massarutto, diretora da área de Turismo da Semdettur (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo), eventuais alterações na área central precisam ser pensadas sob diversas perspectivas e devem, necessariamente, também abarcar outras áreas relevantes para o desenvolvimento da cidade, com a Rua do Porto e o Engenho Central:
"É um grande desafio tanto para a área pública quanto para a iniciativa privada organizada pensar sobre isso. Há uma proposta dentro do atual governo de repensar essa área central (...). Em muitos anos já vem sendo estudado com o Ipplap (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba) essa área, e conversamos sobre a possibilidade de uma interligação entre a área central, a Rua do Porto e o Engenho Central, áreas estas que estão tão próximas. São áreas importantes, onde a cidade nasce, e elas não estão interligadas", ponderou.
Segundo Massarutto, a área central deve ser valorizada, tanto pelo seu patrimônio histórico e cultural quanto pelos comércios e habitações lá existentes: "depois do horário de funcionamento do comércio ela fica vazia. Aos sábados e domingos ela fica vazia. Como trazemos pessoas para a área central? O que aconteceu durante tanto tempo que a gente desvalorizou isso e as pessoas não estão mais morando na área central?", refletiu.
A titular da Semuttran (Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, Trânsito e Transporte), Jane Franco, lembrou que a pasta, por meio do projeto "Rede Ruas Completas" estuda como melhorar as vias da cidade, em especial na região central, e disse: "precisamos, de fato, fazer toda uma recuperação, com muito estudo, para que se favoreçam todos os modais e que atendamos a todos. Temos a questão do estacionamento [rotativo], a qual estamos sendo amplamente cobrados e cujo edital está em vias de ser republicado, justamente para que consigamos atender não só ao comércio, mas a todos que passam pelo local", disse.
Para a vereadora Sílvia Morales, os chamados "espaços ociosos" da cidade precisam ser ocupados. "Temos que dar vida aos espaços públicos", disse a parlamentar, que na sequência pediu aos engenheiros e arquitetos participação neste debate. "Nós vemos em outras cidades, no Brasil e fora do país, onde as coisas funcionam. Em Londres, todo mundo anda a pé. O que acontece? Os transportes públicos são de qualidade, eficazes e baratos, mas isso é uma construção, assim como a mobilidade ativa", disse.
Ana Pavão ponderou que qualquer alteração na região central deve ser amplamente debatida e ter seus eventuais impactos pormenorizados: "antes de 'mudar a cara' da Governador nós precisamos ouvir o pessoal do comércio. Nós temos a certeza de que vai reavivar o comércio ou nós vamos acabar de matar o comércio? É isso que temos que ver. Para se começar um projeto, é preciso mudar a cultura. E nossa cidade tem uma cultura em relação às compras, em relação a ir à Governador e em relação a andar a pé ou de bicicleta", analisou a vereadora.
Segundo o líder do Governo na Câmara, vereador Josef Borges, "é importante que sentemos à mesa com as entidades ligadas ao comércio, pois são eles que sabem e têm esse know-how. Então, é um projeto que tem ser conversado e dialogado. Precisamos saber como trazer esses benefícios, se vamos precisar de investimentos de uma loja de departamento ou de alguma coisa que consiga atrair o público", falou.
O parlamentar também lembrou que, em muitos centros urbanos da Europa, os estacionamentos verticais são estratégias adotadas para reduzir o fluxo de veículos nas regiões centrais: "temos que pensar grande também. Acredito que esses estacionamentos verticais resolveriam em grande parte esse problema de estacionamento", disse.
Para Cássio Luiz Barbosa, "nossa cidade está crescendo desordenadamente. Hoje, se você desce a Governador em um horário de pico, para você chegar ao final dela, você não consegue, você demora uma hora, uma hora e meia para chegar. (...) Eu fico imaginando essa cidade daqui a 15, 20 anos", disse, e citou, na sequência, o exemplo de sua cidade natal, Belo Horizonte (MG):
"Ela não foi uma cidade projetada, ela foi feita dentro de uma avenida, a avenida do Contorno, e a cidade "estourou". O que tiveram que fazer? Tiveram que desapropriar, indenizar, tirar casas e abrir vias, e Piracicaba está no mesmo caminho", analisou o parlamentar.
O presidente em exercício da Câmara, Acácio Godoy, lembrou que qualquer decisão deve ser "técnica, jurídica e política". Para ele, a reunião foi um exemplo vivo de que "o espaço político abriu as portas para que o comerciante fale em primeira pessoa. Se vamos debater qualquer assunto em nossa cidade, é assim que devemos fazer. A pessoa que será atingida pela decisão, ela tem que ter voz", afirmou.
Na sequência, Godoy sugeriu a criação de grupos de trabalho envolvendo todos os atores sociais interessados em discutir projetos para a área central: "vamos montar grupos de trabalho que coloquem os comerciantes, com suas representações, a Câmara e o Executivo para que possamos chegar a soluções que possam ser aplicadas".
A proposta de criação de grupos de trabalho foi acatada pelos presentes e ficará sob a coordenação da Secretaria municipal de Governo, comandada por Carlos Beltrame.
A reunião pública, que foi transmitida ao vivo pela TV Câmara e pelas redes sociais do Legislativo, pode ser revista no player localizado no início desta matéria.