24 DE JANEIRO DE 2025
Em semana de cerimônias presidenciais nos EUA, a série Achados do Arquivo relembra a repercussão em Piracicaba da posse do 36º presidente daquele País
Lyndon Johnson durante a assinatura do 'Ato da Nacionalidade e Imigração', em 1965. Crédito: LBJ Library photo by Yoichi Okamoto
Eram 14h38 da sexta-feira, 22 de novembro, em 1963, no Aeroporto Dallas Love Field, quando, dentro da cabine do avião presidencial Air Force One, Lyndon Baines Johnson fez o juramento de posse como 36º presidente dos Estados Unidos da América.
Inesperada e totalmente atípica – ainda mais se comparando com as recentes cerimônias para Donald Trump –, a posse ocorreu porque duas horas e oito minutos antes, às 12h30, o presidente John Kennedy tinha sido baleado ao passar, a bordo de um conversível, pela Dealey Plaza, ali mesmo em Dallas, durante uma visita oficial da qual o então vice-presidente Lyndon Johnson também fazia parte. Não resistindo aos ferimentos, Kennedy foi oficialmente declarado morto às 13h00.
Ao assumir a Presidência, Johnson levou adiante vários dos projetos governamentais de Kennedy, dentre eles, destaca-se a aprovação da Lei dos Direitos Civis, já em 1964, que virou um marco nos direitos civis e trabalhistas, ao proibir discriminação com base em raça, cor, religião, sexo, nacionalidade e, posteriormente, orientação sexual e identidade de gênero.
O ano seguinte, 1964, era de eleição presidencial e, na convenção nacional do Partido Democrata, realizada entre 24 a 27 de agosto em Atlantic City, estado de Nova Jersey, o nome de Lyndon Johnson foi confirmado como o candidato do partido, tendo como vice Hubert Humphrey.
A tentativa de reeleição de Johnson se daria numa disputa contra Barry Goldwater, candidato do Partido Republicano.
A eleição, realizada no dia 3 de novembro, referendou Lyndon Johnson como presidente reeleito dos Estados Unidos, num pleito cujo resultado foi amplamente favorável a Johnson. Sem nenhuma dificuldade, ele teve cerca de 16 milhões de votos a mais do que seu adversário. Em números absolutos, Johnson teve 43.127.040 votos, enquanto Goldwater obteve 27.175.754. Em porcentagem, 61,1% a 38,5%. No Colégio Eleitoral, Johnson contabilizou 486 votos, levando 44 estados mais o Distrito de Colúmbia, enquanto Goldwater obteve 52 no Colégio e levou 6 estados. Como sempre, a eleição americana teve repercussão no mundo todo. Inclusive em Piracicaba.
A série Achados do Arquivo resgata documentos daquela época, em que a Câmara Municipal enalteceu a oficialização de Lyndon Johnson como chefe da Casa da Branca, em Washington, D.C.
Na segunda-feira, 16 de novembro, às 14h, a Câmara Municipal dava início à 37ª Sessão Ordinária. Na ocasião, foram abordados assuntos referentes ao recente desabamento do Edifício Comurba – ocorrido no dia 6 do mesmo mês --, deliberou-se sobre o Orçamento do município para 1965 e foi apresentado, pelo vereador Elias Jorge, o Requerimento nº 358/1964, de “júbilo pela reeleição do Excelentíssimo Senhor Lyndon Johnson” ao cargo de presidente dos Estados Unidos da América.
Refletindo o contexto político e o momento histórico da época, esse documento congratulatório traz citações ao presidente John Kennedy e aos direitos civis. Alguns trechos:
“Neste cargo, em que não somente pesam e somam-se os destinos americanos, mas de todos os povos, fez-se, também, o julgamento da filosofia do século –- a filosofia de John Fitzgerald Kennedy e do seu continuador, Lyndon Johnson.
Este último estadista assumiu a Presidência daquele país e a liderança do mundo livre, pela vez primeira, em momento extremamente crítico, pois, além das circunstâncias trágicas que envolveram sua posse, mais acentuadas se faziam as lutas pelas liberdades individuais e pelos direitos humanos (...).
Lyndon Johnson, como sucessor natural do presidente Kennedy, naquela hora difícil para a sua pátria e para o mundo, porque morrera tragicamente um líder, já era para a humanidade a esperança da continuidade daquele estilo político que recebera ênfase do grande desaparecido, e Lyndon Johnson, consagrado nas urnas, é a reafirmação de que ainda podemos esperar por melhores dias.
Senhores vereadores, esta manifestação, que ora se pretende tributar, por certo chega no exato momento. (...) a nossa mensagem de fé e esperança. Esperança sempre renovada, de que, em Johnson, se mantenha aquela tradição e se faça vibrantemente presente o espírito das iniciativas admiráveis, que consagraram Lincoln, Washington e o jovem imortal presidente John Fitzgerald Kennedy.”
Para evitar que Johnson desse por falta das congratulações piracicabanas, para que não imaginasse que fosse desfeita por parte da Câmara, os vereadores, rapidamente e sem discussão, aprovaram o requerimento e, já no dia seguinte, dia 17, o presidente da Câmara, vereador Lázaro Pinto Sampaio, se apressou em enviar oficio a Washington, encaminhando o Requerimento nº 358 ao presidente reeleito Lyndon Johnson, nos seguintes termos:
“A Câmara Municipal de Piracicaba, Estado de São Paulo, Brasil, através dos representantes municipais de sua coletividade, muito se alegra em poder comparecer à insigne presença de V. Excia. a fim de transmitir-lhe as mais vivas manifestações de júbilo e solidariedade pela significativa vitória eleitoral que mais uma vez o levou à presidência dessa grande nação amiga.
E mais significativo se torna ela porque representa a continuidade dos ideais de liberdade, prosperidade e fé cívica do sempre lembrado John F. Kennedy, que todo o mundo amou e venerou como líder e cidadão impoluto, como amigo e como grande condutor do povo irmão.
Queira V. Excia. aceitar nossa humilde mas sincera homenagem, e transmitir ao povo americano as felicitações da comunidade de Piracicaba”.
Cinco meses depois, a Câmara recebeu um ofício de agradecimento, emitido pelo Consulado Geral dos Estados Unidos, sediado em São Paulo. Esse ofício, com data do dia 5 de abril de 1965 e assinado pelo Cônsul Geral Adjunto, William L. Wight Jr., traz, em seu texto, o seguinte:
“Dado o número de suas responsabilidades, não pode o presidente Johnson responder pessoalmente a todas as mensagens que lhe são dirigidas, conforme seria seu desejo. Por esse motivo, o ofício enviado por essa Câmara foi-me encaminhado para resposta.
Queira aceitar nossos sinceros agradecimentos pelas felicitações enviadas pelos Dignos Representantes do povo dessa magnífica cidade ao presidente Johnson por sua vitória eleitoral. Esse gesto de amizade e solidariedade foi muito apreciado”.
Não é possível afirmar que requerimento de júbilo da Câmara tenha, de fato, chegado até Washington. No entanto, um trecho da resposta do Cônsul Geral dá indícios de que pode ter sido encaminhado, sim, à capital dos Estados Unidos: “Dado o número de suas responsabilidades, não pode o presidente Johnson responder pessoalmente a todas as mensagens que lhe são dirigidas (...). Por esse motivo, o ofício enviado por essa Câmara foi-me encaminhado para resposta”.
Fato é, e inegável até hoje, que posses de presidentes dos EUA tenham repercussão pelo mundo, incluindo Piracicaba, como aconteceu no último dia 20 com a oficialização de Donald Trump no comando da Casa Branca.
Os tempos mudaram, mas nem tanto.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de documentos do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo. A iniciativa do Setor de Documentação em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara às sextas-feiras, visa tornar acessíveis ao público as informações do acervo da Casa de Leis.
Anexos
ata - 37ª sessão ordinária - 16.11.1964.pdf