18 DE MAIO DE 2023
Vereadora Silvia Morales é autora da reunião solene do Dia Municipal de Combate à LGBTIfobia
Data foi instituída na Casa por meio do decreto legislativo 3/2021
Uma palavra? "–– Respeito!"; Vida?", "–– Diversão"; Preconceito? "–– De jeito nenhum"; Futuro? "–– À Frente!"; Esperança? "–– Tá no sangue; nunca morre; é esperançar; Um futuro: "–– Sempre melhor!".
As perguntas estão ao final do vídeo exibido pela Câmara na reunião solene que comemorou o Dia Municipal de Combate à LGBTIfobia. As respostas vieram das próprias homenageadas neste ano, na noite desta quarta-feira (17), mesma data em que se lembra o Dia Internacional Contra a LGBTfobia. São elas: a estilista Malu, a professora de história Danuta Hilaria Rodrigues, a assessora de eventos Lígia Maria Leite da Silva e ativista militante Kacau Marco Vitio.
Promovida no Salão Nobre Helly de Campos Melges, a solenidade foi proposta pela vereadora Silvia Morales, autora do projeto que deu origem ao decreto legislativo 3/2021. "O nosso partido traz a diversidade como um de seus valores, por isso é tão importante estarmos aqui elaborando isso", citou, relembrando que a primeira solenidade ocorreu online, por conta da pandemia. No ano passado, como estava licenciada, o vereador Gilmar Tanno conduziu a solenidade. Ela também lembrou que o Dia Municipal de Luta contra a Homofobia faz parte do calendário do município por meio de uma ação do ex-vereador Bruno Prata, que deu origem à lei 7016, de 17 de maio de 2011.
Em uma quebra de protocolo, Silvia solicitou que o integrante de seu mandato, Jhoão Scarpa, também fizesse uso da palavra. "Ao contrário do que muitos insistem afirmar, a LGBTIfobia existe e, sim, ela mata: fisicamente, mas também psicologicamente, emocionalmente, socialmente. Ser uma pessoa LGBTI é quase que ser uma fênix. É ter que morrer um pouco a cada dia e renascer das próprias cinzas para continuar vivo", disse, ao trazer exemplos de violência diários no país, por considerar que a realidade, ainda que infeliz, retratam a realidade. "Existir é resistir", completou, sobre o caráter da solenidade.
Travesti desde o nascimento, estilista por vocação e prostituta por opção, Malu se pronunciou em nome das homenageadas. Sua militância profissional começou há 15 anos. Ela fez um relato carregado de emoções e não conteve as lágrimas. "Tenho até hoje um pai e uma mãe que sempre me apoiaram e me acolheram, por mais que as pessoas dissessem que deveria levar uma surra para aprender a ser homem", disse. Malu ganhou a primeira Bíblia do pai, ainda na infância, e disse que o livro lhe ensinou que "tem um Deus que nos ama incondicionalmente e é so a ele que posso perguntar se estou certa ou errada".
Malu lembrou ainda da coincidência de completar 50 anos na data da reunião solene e no Dia Internacional Contra a LGBTfobia. Ao final, foi presenteada e aplaudida. Além disso, o público acompanhou a uma performance do ator Samuel Zanatta, embalada nas canções "Ser um homem feminino", "Maior" e "Filhos do arco-íris".
O padre Beto, da Igreja Humanidade Livre, trouxe um relato de sua história no sacerdócio. Ele permaneceu na Igreja Católica de 1998 a 2012, mas foi excomungado por empunhar na bandeira de que as pessoas precisavam se libertar da culpa por causa da sexualidade. "Em 2013, por ter aberto o debate e por estar ao lado do grupo LGBTQIA+, fui excomungado. A excomunhão não tira o título de padre, mas o condena ao inferno. Desde então, foi uma libertação e faço casamentos religiosos homoafetivos", disse. "Se pudemos falar de ideologia de gênero, é a ideologia que as religiões pregam", completou.
Seguindo a mesma linha da religião e sexualidade, Anselmo Figueiredo, presidente do Conselho Municipal de Políticas para a População LGBT, falou dos desafios em conciliar os dois temas. "Acredito em Deus, quero ser cristão, tenho uma base católica, mas é muita contradição, com o patriarcado e o machismo sempre imperando, ligados a estes valores cristãos", relatou, ao citar ainda que Piracicaba está na fase da construção do Plano Municipal para Políticas LGBT.
Outro relato de luta em favor da população LGBTQIA+ foi de Antonio Carlos dos Santos, que hoje é delegado do Conselho Nacional de Entidades da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. Morador da cidade de São Pedro, ele possui um filho transexual e conquistou a aprovação de uma lei que obrigasse o uso do nome social nas escolas municipais e prontuários médicos. Porém, após a aprovação na Câmara, houve pressão para que o Executivo não publicasse a lei. "Gostaria de propor às vereadoras que coloquem um projeto de lei nesse mesmo sentido", disse.
Para a vereadora Rai de Almeida (PT), é preciso fazer da luta o combate a todo o tipo de preconceito, inclusive do discurso da 'cura gay'. "Temos que enaltecer o amor dizendo que todas as formas de amor têm que ser vividas. Esta é uma luta de todos nós, para que possamos viver a igualdade na diversidade."
Uma das instituições pioneiras na cidade a trabalhar com a população LGBTQIA+ e com 30 anos de atuação, a ONG Casvi esteve representada na solenidade pelo coordenador administrativo Leonardo Geraldi Paulino Ferreira. "É muito difícil a gente ter espaços para debater e conseguir alguma coisa para a comunidade."
Na avaliação de Thiago Franco, presidente da Comissão de Diversidade da OAB, muitas das pautas ainda são reféns do Judiciário porque o país ainda possui um Legislativo fraco. "Esquecem que igreja é igreja e espaço público é espaço público", opinou.