31 DE JANEIRO DE 2025
Publicações de 1965, preservadas na Câmara, noticiaram a repercussão da morte do premiê que liderou a Grã-Bretanha na Segunda Guerra
Winston Churchill foi o premiê britânico durante a Segunda Guerra Mundial
Na memória coletiva do século XX, poucas figuras se destacam com a mesma grandiosidade de Sir Winston Churchill, estadista britânico cuja morte, em 24 de janeiro de 1965, ecoou globalmente. Nos arquivos da Câmara Municipal de Piracicaba, jornais locais como O Diário de Piracicaba e o Jornal de Piracicaba registraram os últimos dias, o funeral -- ocorrido em 30 de janeiro daquele ano -- e as homenagens póstumas ao “Leão Britânico”. Essas páginas, agora resgatadas, revelam como a comunidade acompanhou, à distância, um capítulo crucial da história mundial.
Em 17 de janeiro de 1965, O Diário de Piracicaba estampava a matéria “Winston Churchill em lenta agonia”. A matéria descrevia o estado de saúde “desesperador” do ex-premiê, então com 90 anos, após uma “tombrose cerebral” (provável referência a uma trombose) seguida de distúrbios circulatórios. A notícia, traduzindo telegramas internacionais, destacava a comoção internacional diante da iminência da morte de um ícone da resistência contra o nazismo.
O funeral de Churchill foi o primeiro do tipo Estado concedido pelo Reino Unido a alguém fora da Família Real, um reconhecimento sem precedentes. O planejamento, batizado de Operação Hope Not, começou em 1953, após Churchill sofrer um derrame durante seu segundo mandato como primeiro-ministro. O protocolo, minuciosamente elaborado, refletia a magnitude de sua figura — algo que a imprensa piracicabana capturou.
Em 31 de janeiro, O Diário retratou o épico cortejo fúnebre na matéria “Um milhão de pessoas no último adeus a Churchill”. O jornal destacou que a rainha Elizabeth II, em um gesto simbólico, permitiu que o cortejo fosse “precedido por ela”, caminhando atrás do caixão ao lado da família real e dos parentes de Churchill. O povo, em “procissão fúnebre”, encheu as ruas de Londres para honrar o homem que liderara a Grã-Bretanha na Segunda Guerra. A imagem do “Leão Britânico” seguia viva em seu último ato.
O Jornal de Piracicaba, em 3 de fevereiro, revelou que a despedida não terminara no funeral. Sob o título “Povo faz fila ante o túmulo de Churchill”, descreveu como centenas de britânicos formaram uma fila de 200 metros para visitar o túmulo em “Biandon, no Condado de Yorkshire” (como registrado à época, embora o local correto seja Bladon, Oxfordshire). O jornal contabilizou 480 carros estacionados nas redondezas, evidenciando a devoção popular.
As homenagens continuaram. Em 18 de fevereiro, O Diário anunciou, em “Selos em homenagem a Churchill”, que em maio de 1965 seriam lançados selos postais com sua efígie. A iniciativa, do governo britânico, imortalizava seu rosto em correspondências mundo afora, reforçando seu legado como símbolo de resistência e liderança.
As reportagens resgatadas dos arquivos piracicabanos não apenas documentam um evento histórico, mas também ilustram como a imprensa local conectava seus leitores aos acontecimentos globais. É importante lembrar que em janeiro de 1965, a cidade de Piracicaba ainda vivia o trauma da queda do prédio Comurba, ocorrido em novembro de 1964, e a morte de Churchill, uma agonia com dimensão mundial na época, dividia com as angústias locais por conta da tragédia.
A cobertura detalhada — da agonia à imortalização — reflete a percepção de que Churchill transcendeu fronteiras, tornando-se um marco universal. Seu funeral, meticulosamente planejado, não foi apenas uma despedida, mas um testemunho de como um homem comum, por feitos extraordinários, entrou para a história ao lado dos reis.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, com o objetivo de divulgar o acervo que está sob a guarda do Legislativo. As matérias são publicadas às sextas-feiras.