03 DE SETEMBRO DE 2018
Projeto executado por estudantes atinge o objetivo central da formação dos futuros profissionais do Programa de Estágios.
Equipe foi supervisionada pela diretora do Departamento de Comunicação, Valéria Rodrigues
Em 7 de setembro de 1918, no mesmo instante em que Piracicaba comemorava a Independência do Brasil, com festividades na estação Sorocabana, imigrantes japoneses desembarcavam no interior caipira. As primeiras 40 famílias que chegaram à cidade seguiram para a fazenda Pau d'Alho, em Ártemis, para trabalhar com café.
O centenário da imigração japonesa não só é um marco do que foi um dos maiores deslocamentos em massa da história nos séculos 19 e 20, como apontou a pesquisadora Maria Dalva de Souza Dezan em seu livro "Impactos da Imigração Japonesa", como também um fator que contribuiu para o desenvolvimento da cidade, a partir do intercâmbio entre as duas culturas.
Para celebrar os 100 anos da busca pelo "Eldorado" em Piracicaba, a diretora do Departamento de Comunicação da Câmara de Vereadores, Valéria Rodrigues, propôs, ainda no ano passado, ao vereador Pedro Kawai (PSDB) —primeiro parlamentar nipo na cidade— uma série de atividades com o apoio da Casa que pudessem enaltecer a importância da comunidade japonesa para o município. "De pronto ele se encantou e, em março, fiz o planejamento que incluía exposição fotográfica itinerante e o documentário", disse a jornalista.
A proposta era realizar um grande projeto como fechamento da formação prática dos estudantes que integram o Programa de Estágio da Câmara, por meio de convênio com o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola).
A produção também teve o aval do presidente da Câmara, Matheus Erler (PTB), que permitiu ocupar a estrutura já existente. Após o planejamento, a reunião de pauta foi realizada no início de maio com os profissionais do Departamento de Comunicação —estagiários em Jornalismo, Fotografia, Design Gráfico, Cinema e Audiovisual e Rádio, TV e Internet, além de servidores cinegrafistas e fotógrafos.
"O que mais valorizo nessa produção é que, diante da proximidade do término do estágio de vários de nossos estudantes, a chance de fazer com que tivessem essa experiência foi o que mais estimulou o projeto. Por duas razões: trabalhar em equipe e ver-se diante do desafio de um projeto completamente novo, já que são estagiários de diversas áreas", relatou Valéria.
O INÍCIO — Uma lista de nomes estrangeiros e alguns livros foram os materiais que os estagiários Débora Bontorim e Lucas Lima e a ex-estagiária Maíra Bacellar, de Jornalismo, tiveram no início do desafio. O ponto de partida, e consequentemente a primeira personagem entrevistada pelo trio, foi a pesquisadora Maria Dalva, autora do livro sobre a imigração em Piracicaba. Após o depoimento inicial, e com o apoio logístico do chefe de gabinete de Kawai, Geraldo Suyeyassu Junior, e do servidor do Setor de Produção de Vídeos Gustavo Annunciato, outras 27 entrevistas foram realizadas até o final de junho.
"A princípio, o desafio parecia muito grande, ainda mais em se tratando de uma comunidade que sabemos que é mais introspectiva que a brasileira. A cada pessoa com que conversávamos e a cada fonte nova que descobríamos e conseguíamos tocar no coração deles —ver a história, a cultura, os ensinamentos—, foi cada vez mais encantador e apaixonante descobrir e conhecer, de fato, todo esse amor que eles carregam não só nos olhos, mas no sorriso, nas palavras, nas atitudes. Foi uma coisa que me engrandeceu muito; apesar do desafio, foi uma coisa muito gostosa e prazerosa de se fazer", falou Maíra.
"Como não tínhamos muito conhecimento do assunto, precisávamos de uma fonte que nos introduzisse a história. Por isso escolhemos a Maria Dalva", disse Lucas. "A partir disso, com uma ideia da dimensão que foi a imigração em um período de guerras, elencamos alguns tópicos que pudessem envolver todas as outras fontes, sobre a história de por que vieram, sobre as tradições que tinham, as dificuldades que enfrentaram e o desenvolvimento deles aqui em Piracicaba", completou.
CAPTAÇÕES — As gravações foram feitas pelo estagiário Thales Medeiros, de Cinema e Audiovisual, e pela ex-estagiária Larissa Morais, de Rádio, TV e Internet, com o auxílio de Gustavo e Márcio Bissoli, ambos repórteres cinematográficos. Eles foram responsáveis por toda a captação e fotografia das cenas do documentário. "Já cheguei a produzir um minidocumentário, mas em todas as vezes que eu acompanhei as gravações deste documentário tive um aprendizado. Os servidores tiveram mais do meu respeito quando comecei a perceber as dificuldades que eles enfrentaram e com que já sabiam lidar", declarou Thales.
"Eu conhecia um pouco da cultura japonesa por meio dos ensinamentos adquiridos durante os cinco meses em que cursei artes marciais, só que nunca tinha vivenciado essa cultura. O respeito deles é enorme; mesmo não conhecendo a língua de um país para o qual migraram, eles sempre foram muito agradecidos por tudo", continuou.
A fase de produção somou pelo menos 30 horas de material bruto, entre entrevistas e passagens importantes para compor o documentário, como por exemplo a ida à fazenda Pau d'Alho e as atividades desenvolvidas pelo Clube Cultural e Recreativo Nipo-Brasileiro da cidade —artes marciais, taikô, odori, minyo, grupo da terceira idade, tênis de mesa e beisebol.
ROTEIRO — Em julho deu-se início à decupagem das entrevistas e à elaboração do roteiro. Juntaram-se a Débora, Lucas e Maíra os estagiários Felipe Stevanatto, de Design Gráfico, e Sidney Junior, de Fotografia, para analisar o volume de informações obtidas e hierarquizar o material em tópicos narrativos que ilustrassem a vinda, as dificuldades, a cultura e as tradições, a religião, a educação, a criação e o desenvolvimento dos imigrantes japoneses. "Acredito que este documentário proporcionou não só o crescimento profissional, mas também cultural. Quando começamos, não imaginei essa magnitude a que chegaria e é muito bom ver a evolução deste projeto e do trabalho de equipe que realizamos", citou Débora.
Para Felipe, histórias de comércios, igrejas, bairros ou cidades são interessantes, entretanto relatar a história de uma imigração o deixou intrigado. "Normalmente não temos o conhecimento do quanto eles sofreram por simplesmente cultivarem, ou apenas manterem, sua cultura. E a cultura deles não morreu aqui, em outro país, em outras terras, mesmo quando foram pressionados para tal. Tive o privilégio de conhecer vários pilares que ainda mantêm essa história viva: os entrevistados e as pessoas ao seu redor. Vejo neles sempre um exemplo de perseverança. E, desde que me lembro, sempre fui apaixonado pelo Nihon. É engraçado parar para refletir e ver que muitas vezes a emoção grita mais do que a razão nesses temas. Não tem como; é um sentimento, afinal", declarou.
EDIÇÃO — A edição teve início em agosto, com Gustavo Annunciato. Nesse processo, Felipe e Thales passaram a trabalhar no videografismo e nas animações usadas no projeto. "A experiência de trabalhar com os estagiários foi positiva. A colaboração é conjunta. Felipe e Thales receberam bem a demanda da ideia do projeto, que é contar a história da imigração e as histórias particulares que aparecessem; eles enfrentaram esse desafio e estão compondo o projeto. Desde o início, a experiência foi positiva e vale para o crescimento da equipe", pontuou Gustavo.
O produto final tem 30 minutos, em uma linha narrativa que, de acordo com a diretora do Departamento de Comunicação, não abriu mãos dos detalhes. "A união de pessoas com conceitos diferentes gerou uma sinergia muito boa. Os estagiários enfrentaram diferenças e desafios e evoluíram no quesito 'trabalho em equipe'. Isso refletiu no fechamento do projeto. Dentro do acesso que tivemos às pessoas, tiramos o máximo de conteúdo. Acredito ser um dos melhores trabalhos que temos hoje sobre essa história", afirmou Valéria.
LANÇAMENTO — Intitulado "Kansha: 100 anos da imigração japonesa em Piracicaba", a primeira exibição oficial do documentário ocorrerá na solenidade em comemoração ao centenário, que será realizada no salão nobre da Câmara na próxima sexta-feira (7), às 9h.
O vereador Pedro Kawai é uma das pessoas que assistirá ao produto final apenas no lançamento oficial. Ele, porém, afirma ter "certeza de que é um trabalho carregado de sensibilidade". "Acompanhei algumas gravações e notei o esmero que a equipe teve em trazer o sentimento da imigração, a história desse povo", comentou.
"Esse projeto representa um marco no reconhecimento da Casa para a população piracicabana, da importância que essa comunidade tem. A transição entre passado e futuro, principalmente pelo envolvimento de jovens que não conheciam essa história, é muito importante", disse.
COMEMORAÇÕES — Outro projeto que integra a comemoração do centenário da imigração é a exposição "Olhares Reminiscentes", composta por fotos dos estagiários Sidney Junior e Thaís Passos, com curadoria dos fotojornalistas Davi Negri e Fabrice Desmonts e design gráfico de Felipe Stevanatto.
"São retratos dos personagens do documentário. Cada olhar remete ao passado", resumiu Sidney. "As fotos foram feitas em preto e branco, com iluminação natural e artificial, com foco no olhar e o desfoque no fundo da pessoa. Quisemos passar o sentimento de luta", explicou.
Além das fotografias, a exposição conta com ilustrações de cada personagem, baseadas nas imagens originais, feitas por Felipe. "Um dos pontos fortes da cultura japonesa no Brasil é o desenho: o anime e o mangá. Assim, pensamos em incluir as ilustrações para retratar o olhar de uma maneira particular", relatou Felipe.
Na sequência da reunião solene na Câmara, acontecem no Clube Nipo (avenida do Café, 611, no bairro Paulista), apresentações culturais e o autógrafos do livro em comemoração ao centenário da imigração japonesa em Piracicaba, do jornalista e escritor Cecílio Elias Netto.