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14 DE MAIO DE 2020

Alergias alimentares: Médica alergista explica diferenças em palestra


Médica convidada falou sobre anafilaxia alimentar em palestra promovida pela Escola do Legislativo da Câmara de Vereadores de Piracicaba



EM PIRACICABA (SP)  

Palestra foi transmitida, ao vivo, pela internet

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“Existe uma diferença enorme entre reações alérgicas e não alérgicas aos alimentos”, afirmou a médica Elaine Gagete Miranda da Silva durante a palestra ‘Anafilaxia Alimentar: Aspectos de Saúde e Inclusão’, realizada na tarde desta quinta-feira (14) e transmitida na internet, ao vivo, pela plataforma virtual Zoom. A médica explicou que toda pessoa que passa mal ao ingerir um alimento tem uma reação a ele, que pode ser uma reação alérgica ou não alérgica. No entanto, as reações alérgicas são bem mais graves.

Elaine Gagete afirmou que é visível e existem vários trabalhos na área médica que demonstram o aumento das alergias alimentares. Ela constatou que esse “boom da alergia alimentar” fez muitas pessoas acreditarem que são alérgicas a determinados alimentos e isso acabou “banalizando” a alergia alimentar. “Existe uma diferença enorme entre reações alérgicas e não alérgicas e isso desmoraliza a alergia alimentar, porque as pessoas acham que qualquer coisa é alergia e as crianças que realmente são alérgicas são menosprezadas. Às vezes aquela professora da escola pode achar que não é tudo isso”, disse.

A médica citou uma pesquisa feita na Europa em que 17,3% dos entrevistados responderam que tinham alergias alimentares. Foram realizados testes e foi confirmada alergia em apenas 0,9% deles. “Alguns alimentos realmente fazem mal por um mecanismo alérgico e muitos fazem mal por um mecanismo não alérgico, as pessoas tem uma tendência a falar que é alergia”, observou.

Para explicar a diferença entre alergia alimentar e reação não alérgica ela deu o exemplo da intolerância à lactose: “O leite tem um açúcar que se chama lactose e esse açúcar precisa de uma enzima que chama lactase pra sua digestão. Quando a pessoa não tem a quantidade suficiente dessa enzima ela tem uma dificuldade na digestão do leite, então ela tem diarreia, dá náuseas, mas não é alergia.” No caso da alergia, a médica esclareceu que a reação é com a proteína do leite sendo muito mais grave que a intolerância: “Na alergia o organismo reage e combate o alimento como se fosse um agente agressor. Quando a gente tem anticorpos contra um alimento o organismo vai combater esse alimento como se ele fosse algo muito grave, como se causasse algo muito perverso para esse organismo.” E completa: “Nesse caso o organismo desenvolve toda uma reação que pode levar a erupções na pele, inchaço, dificuldade para respirar, diarreia e sangramento intestinal.”

Além da intolerância, outros exemplos de reações alimentares não alérgicas citadas pela médica foram os efeitos farmacológicos, como por exemplo, o consumo de chocolate que causa enxaquecas em alguns e não necessariamente é alergia, e as toxinas alimentares que se dá pela ingestão de comida contaminada e pode causar um quadro grave. “Muita coisa que a pessoa chama de alergia na verdade não é.”

ANAFILAXIA - A médica Elaine Gagete também é integrante da Comissão de Anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). Ela deu destaque, dentre os vários tipos existentes de reações alérgicas, à alergia mediada por IgE -  uma reação alérgica muito rápida que caracteriza as anafilaxias. De acordo com Elaine Gagete, a anafilaxia é uma doença sistêmica que atinge todos os órgãos do organismo, potencialmente fatal, podendo evoluir em questão de minutos para quadros mais graves, com insuficiência respiratória, falência cardiocirculatória e morte. Ela esclareceu que nem sempre “é todo esse horror”, podendo ser de intensidade leve, moderada ou grave, mas é algo “instantâneo” que acontece de “forma concomitante” e pega pelo menos “dois quadros do organismo”.

Segundo a médica, o tratamento para anafilaxia precisa ser imediato e o uso da adrenalina é o mais correto porque age em segundos, sendo o “medicamento da linha de frente” para ser usado aos primeiros sinais da alergia. Todavia, ela lamenta o fato de só existir no Brasil a adrenalina em ampolas e que os alérgicos precisam de adrenalina autoinjetável por ser “muito mais prática”. Ela explicou que nenhum laboratório brasileiro produz esse tipo de adrenalina e,  por não existir o registro do medicamento no país, o SUS (Sistema Único de Saúde) fica impedido de distribuir a medicação autoinjetável.

INCLUSÃO NAS ESCOLAS – A palestrante convidada citou a lei federal 13.722/2018, conhecida como Lei Lucas, que torna obrigatória a “capacitação em noções básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino”. Contudo, segundo a médica, “na lei não existe anafilaxia”. Para ela, a luta é para que a lei seja colocada em pauta e também para incluir as crianças com anafilaxia.

A mediadora da palestra Heloize Milano - do Coletivo Acolhimento Alimentar de Piracicaba -citou a lei estadual 16.925/2019 que determina que as escolas devem “capacitar seu corpo docente e equipe de apoio para acolher a criança e o adolescente portador de deficiência ou doença crônica”. Segundo ela, a lei estadual já compreende a anafilaxia e também aborda a questão de responsabilidades administrativas e multas para as escolas que não cumprirem a lei.

Para Heloize Milano, é necessário que existam grupos da sociedade civil organizada que comecem o diálogo sobre a inclusão social das crianças alérgicas porque “as pessoas não fazem ideia do que é viver com isso”. Ela orientou os pais a procurarem a defensoria pública – caso o SUS da cidade não disponha de um alergista – e também indicou que existe um canal de ouvidoria do SUS para reclamar. “O que você não pode é escutar que seu filho não vai ser atendido na escola e achar que tudo bem, afinal de contas são crianças pequenas na maioria das vezes, e o primeiro local de socialização que ele vai ter é a escola. Se a gente não mostrar pra eles que eles são dignos naquele momento, como aquela criança vai crescer e se desenvolver achando que não tem direito a nada? A gente quer que todo mundo acesse o seu direito”, declarou.

A palestra ‘Anafilaxia Alimentar: Aspectos de Saúde e Inclusão’ foi promovida pela Escola do Legislativo da Câmara de Vereadores e faz parte da programação da 3ª Semana da Conscientização da Alergia Alimentar de Piracicaba, que é realizada em parceria com o Coletivo Acolhimento Alimentar. A palestrante convidada, Elaine Gagete Miranda da Silva, parabenizou o trabalho do Coletivo e da vereadora Nancy Thame (PV), diretora da Escola, pelo trabalho realizado na cidade: “Se preocupar com isso é uma coisa muito bacana, tentar fazer essa inclusão das crianças que têm problemas de anafilaxia e têm problemas de alergia em geral é uma iniciativa excelente e acho que Piracicaba é uma cidade pioneira nisso, eu não tenho notícias de outras cidades que tenha essa preocupação tão grande como vocês.”

Para a vereadora Nancy Thame, a palestra e as informações dadas pela médica trouxeram um “alento” porque tem muitas pessoas trabalhando pelo tema, mas ainda existem grandes desafios. “E por isso as sociedades têm que se organizar e formar redes sim, para que as pessoas tenham também o seu espaço junto à sociedade e que possam ter seu dia a dia de uma forma mais segura”, afirmou.



Texto:  Daniela Teixeira - MTB 61.891


Escola do Legislativo Nancy Thame

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