08 DE MARÇO DE 2019
Representantes da Diocese de Piracicaba estiveram na Câmara, durante a reunião ordinária desta quinta-feira, para detalhar os objetivos da Campanha da Fraternidade 2019.
Declarações de vereadores e representantes da Diocese de Piracicaba que estiveram na Câmara, na reunião ordinária desta quinta-feira (7), deram a dimensão da importância com que o tema da Campanha da Fraternidade 2019 será tratado no país durante a Quaresma, período que antecede a Páscoa e é, para os católicos, tempo de reflexão e penitência.
Ao abordar "Fraternidade e Políticas Públicas", a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) quer mostrar a importância da participação da sociedade na discussão de ações do Estado que visem ao bem comum. Ecônomo e moderador da Cúria Diocesana, padre Sebastião Luiz de Souza ressaltou que o tema é a oportunidade de resgatar o valor da política no dia a dia das pessoas.
"O grande desafio durante a Quaresma é justamente fazer pensar na importância da política na vida de todos nós. É impressionante como nas nossas igrejas chegamos a um momento em que não podemos falar de política, porque as pessoas já dizem: 'Padre, por favor, não venha com política para cima de nós porque não suportamos mais!'. Precisamos reverter isso", disse o sacerdote.
A convite do presidente Gilmar Rotta (MDB), autor de requerimento aprovado por unanimidade pelos vereadores, padre Sebastião esteve na Câmara junto com o coordenador diocesano de pastoral, padre Kleber Fernandes Danelon, que apresentou, de maneira didática, no telão do plenário, detalhes do texto-base da Campanha da Fraternidade 2019.
"No que precisarem durante esta campanha e no trabalho que quiserem fazer junto com a Câmara, ou individualmente, com os gabinetes dos vereadores, estamos abertos. Vamos ser parceiros nessa luta e estamos à disposição da Diocese para ajudar a levar a campanha adiante. É um momento importante e, sim, estamos no caminho certo", afirmou Gilmar Rotta.
Padre Kleber defendeu a necessidade de se construir "não somente uma política representativa, mas participativa". "Para nós, cristãos, sobretudo deve permear o espírito de fé. Estes princípios devem ser norteadores para nós: a justiça, o direito, a liberdade, a política, a denúncia, a atuação e a mudança", elencou.
A presença dos dois líderes religiosos na reunião ordinária da Câmara foi exaltada pelos vereadores. "Fico muito feliz, como católico que sou, da presença de vocês nesta Casa", disse Laercio Trevisan Jr. (PR), em tom enfático. "Isso é muito importante, porque cada igreja, cada segmento religioso tem que ter o seu momento político, pois a vida nossa é política."
O parlamentar afirmou ver "grande avanço da Igreja Católica" com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano e citou exemplos do peso da participação de líderes religiosos na execução de políticas públicas, como quando conversou com padre Sebastião para viabilizar a instalação de uma base da Guarda Civil Municipal em terreno de uma paróquia no distrito de Tanquinho. "Aquilo foi um ato de política pública por parte da Igreja, o senhor teve um papel importante. Não é só o político que tem o papel de fazer política pública. Qualquer cidadão pode, na sua área."
Nancy Thame compartilhou o sentimento de Trevisan. "Quando vi o tema da campanha, fiquei imensamente feliz, e mais ainda hoje com o aprendizado que nos trouxeram. É um alento para nós que estamos aqui com cargo eletivo: sabemos das dificuldades, mas também sabemos o porquê de ter esse espaço, para que possamos, com esforço, contribuir de alguma maneira para melhorar a vida das pessoas."
A vereadora destacou que gera esperança o gesto da Igreja em estimular "cada cidadão a agir em conjunto para as transformações com vistas a um mundo melhor". "Ao fazer esse chamamento político, a contribuição é imensa, talvez mais valorosa do que nós possamos quantificar no dia de hoje. Quero agradecer e estar junto de vocês."
"Mais uma vez a CNBB mostra, pela Campanha da Fraternidade, que este é um momento de reflexão e discussão, mas, acima de tudo, de conscientização de todo o povo", observou Pedro Kawai (PSDB). "O tema sabiamente vem em um momento de transformação da sociedade, provocando-nos a trazer a população de volta à mais importante ação de seu dia a dia, que é a participação. Não podemos viver numa sociedade em que uma tela de computador dirija nossas ações e pensamentos. Temos que ter essa construção e esse diálogo, além do digital. Os líderes religiosos é que vão nos ajudar a fazer a diferença na construção de uma participação popular consciente, por meio do diálogo."
"É importante a campanha abordar o lado social das políticas públicas", observou Lair Braga (SD). "Há quem diga que o padre tem que estar na igreja rezando e ensinando os fiéis, mas, mais do que a ação do padre de falar de Deus, é preciso alertar os fiéis para a necessidade e o direito de reivindicar ações sociais. É preciso parar de pensar em si mesmo e passar a pensar na coletividade, por um bem maior", completou.
Osvaldo Schiavolin, o Tozão (PSDB), falou dos 44 anos em que, como católico atuante, "vive intensamente para a comunidade" e da experiência como vereador em primeiro mandato. "Tenho a satisfação de estar aqui para ajudar nosso semelhante, com certeza dando de mim o melhor. Temos de incentivar amigos, paroquianos e comunidades a ajudar o Poder Público."
Tozão falou da necessidade de estimular as pessoas a acionarem a administração pública, diante de um problema. "Quando se tem um vazamento de água ou de esgoto, uma árvore para ser podada, não fique reclamando para o vizinho. O governo não está em todo o lugar, mas o povo, sim. Se há alguma solicitação do povo, com certeza o Poder Público será mais eficaz. É a organização da comunidade que faz com que todos possamos viver melhor."
Matheus Erler (PTB) exaltou o potencial da Campanha da Fraternidade de recuperar o valor da política para a promoção da igualdade social. "A população vem tendo um grande desestímulo da política. E o que esta Casa tem buscado, por meio de muitas ações há um bom tempo, é que a população participe cada vez mais de ações públicas e políticas. Parabéns por esse tema de tamanha relevância, que sem dúvida vai ao encontro do que o presidente desta Casa quer: a participação cada vez maior das pessoas no mandato dos 23 parlamentares no Poder Legislativo."
O vereador aproveitou para repercutir a fala do presidente da CNBB, cardeal Sérgio da Rocha, no lançamento da Campanha da Fraternidade, na quarta-feira (6). Erler alertou que a proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) vai em direção contrária ao dito pelo religioso, que ressaltou que "as políticas públicas devem assegurar e efetivar direitos fundamentais da população, a começar dos mais pobres e vulneráveis".
Para Marcos Abdala (PRB), a Campanha da Fraternidade "acertou em cheio" com o tema proposto em 2019. "Estamos passando por uma transformação, em que as mídias sociais endeusam ou demonizam políticos, e por um momento difícil, em que a população mais pobre está sendo atingida. A Campanha da Fraternidade vem trazer luz para a população começar a observar a política e não só usar de ataques, agressões e demonizações, mas, sim, a fazer cobranças realmente."
Carlos Gomes da Silva, o Capitão Gomes (PP), chamou a atenção para uma das propostas contidas no texto-base da Campanha da Fraternidade: a de "incentivar e preparar os cristãos leigos a participarem de partidos políticos e serem candidatos para o Executivo e o Legislativo, contribuindo, desse modo, para a transformação social".
"Tenho dito na Câmara que não basta 'querer ser', é preciso 'saber ser'. Não adianta colocar um representante, seja ele católico, evangélico ou espírita, se ele não tem condições de vir aqui e desempenhar o papel de que a sociedade precisa. A política tem bônus e ônus: o bônus é o aplauso pelo discurso fácil, que diz à população o que ela quer ouvir, mas não o que ela precisa ouvir ––e este é o ônus, em que você é vaiado e sacrificado", refletiu o vereador.
Jonson Sarapu de Oliveira, o Maestro Jonson (PSDB), classificou de "atitude corajosa da Igreja dedicar-se a um tema tão importante neste momento por que passam o Brasil e o mundo". "Nossa geração tem vivido uma transformação grande das ideologias, uma polarização da política que de certa forma é prejudicial à sociedade. A campanha traz à tona a conscientização das pessoas no sentido de ter uma unidade para o bem comum. A Igreja acertou muito neste tema", salientou.
Isac Souza (PTB) disse que a presença dos padres Sebastião e Kleber configurou um "momento especial", com o encontro, na Câmara, entre "as autoridades que procuram cuidar da cidade de Deus e as que procuram cuidar da cidade dos homens". "Que Deus ilumine a todos nós para sabermos identificar os nossos limites e onde cada um deve contribuir para construir uma nação melhor dentro daquilo que é próprio de cada um. Não é fácil: a execução exige de nós muito diálogo e compreensão, para que os papéis de fato se complementem, não se contraponham e não ultrapassem limites."
José Aparecido Longatto (PSDB) também destacou a vinda de representantes da Diocese à Câmara. "Estou nesta Casa por alguns mandatos e é a primeira vez que vejo a Igreja vir aqui trazendo um tema importantíssimo na Campanha da Fraternidade. Que os homens voltem os olhos um pouco mais ao amor e à fraternidade. Falar 'eu sou cristão' é fácil, quero ver viver e demonstrar em atos; subir a essa tribuna, criticar e atirar pedra é fácil, quero ver compreender e falar a verdade, a qual é absoluta nas mãos de Deus, jamais nas dos homens. Vejo que falta esclarecimento, de levar a luz do saber às pessoas. A Igreja neste momento terrível por que o mundo passa foi muito feliz, só temos que agradecer."
Dirceu Alves da Silva (SD) parabenizou a Igreja "por assumir o comproimisso de conscientizar seus seguidores para que participem da política e se envolvam com ela". "Não há outro caminho que não seja o entendimento para cheguemos a um resultado que seja bom para todos", observou.
A importância do tema "Fraternidade e Políticas Públicas" também foi enfatizada por Aldisa Vieira Marques, o Paraná (SD). Ele lembrou a participação que padres da Igreja Católica tiveram em sua vida quando, em 1993, morava em uma favela, em Indaiatuba (SP), e, após ser despejado e obrigado a viver na rua, foi acolhido por sacerdotes que deram alimentação e alento a ele, à sua mulher e à sua filha.