09 DE MARÇO DE 2022
Atividade realizada nesta quarta-feira (9) discutiu as angústias e dificuldades enfrentadas por mulheres que precisam criar sozinhas os seus filhos
Atividade foi realizada por meio da plataforma Zoom e teve transmissão ao vivo pelo YouTube
Falta de apoio financeiro e emocional, ausência de políticas públicas, culpa, medo, preconceitos e estereótipos dos mais diversos são algumas das dificuldades enfrentadas pelas mulheres que criam sozinhas seus filhos, as chamadas mães solo. É o que traz a roda de conversa “A Solidão da Mãe Solo: a escolha é dela?”, promovida na tarde desta quarta-feira (9) pela Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba.
Proposta pela Procuradoria Especial da Mulher na Câmara Municipal de Piracicaba, composta atualmente pelas vereadoras Alessandra Bellucci (Republicanos), Ana Pavão (PL), Rai de Almeida (PT) e Sílvia Morales (PV), do mandato coletivo "A cidade é sua", a atividade foi realizada de forma on-line por meio da plataforma Zoom, e contou com transmissão simultânea ao vivo pelo canal do YouTube da Escola do Legislativo.
Carolina Romani Brancalion, defensora pública que da 3ª Defensoria Pública de Piracicaba, foi a primeira facilitadora a abordar o tema.
Para a defensora, o conceito de mãe solo deve ser abordado de forma ampla, e abarcar não apenas as mulheres solteiras, mas também aquelas que, apesar de dividirem a vida com um companheiro, não podem com ele contar para a criação de seus filhos.
“Seria até preconceituoso atrelar o estado civil à maternidade. É muito provável que ser uma mão solteira seja sinônimo de ser mãe solo. 37,7% das famílias brasileiras são de mães solo, de acordo com IBGE, mas esse número não representa a realidade quando a observamos com base no conceito amplo apresentado”, diz.
A assistente social e conselheira do CMDCA (Conselho Municipal da Criança e do Adolescente), Taís Marino, lembra que as mães solo muitas vezes são tratadas de forma romantizada: "A solidão da mãe solo é um tema forte e às vezes romantizado, como a mamãe super poderosa, a mulher maravilha, e essa não é a realidade (...) Eu penso que o maior desafio seja administrar a culpa, os julgamento e a sobrecarga. Isso resume muito o sentimento das mães solo com as quais conversei".
Lia Mara de Oliveira, advoga, integrante do coletivo "Beleza Preta de Piracicaba" e que presidiu o Conselho da Mulher de Piracicaba na gestão 2022/2021, ressalta o componente racial como importante para se discutir a questão das mães solo: "quem são essas mulheres em maior vulnerabilidade? São as mulheres pretas, periféricas. São as mulheres advindas do relacionamento inter-racial, em que as mulheres pretas servem para transar mas não servem para casar", diz.
Paternidade responsável - Nilvado Guidolin de Lima Filho, Conselheiro Tutelar de Piracicaba, destaca que a busca e garantia dos direitos das crianças e adolescentes é uma responsabilidade compartilhada, e que de forma alguma deve recair apenas sobre as genitoras. "Nós, como Conselho Tutelar, precisamos responsabilizar os homens a realizarem o próprio trabalho de serem pais ou, no mínimo, de serem responsáveis por garantir os direitos dos seus filhos, não apenas com a contribuição da pensão, mas do cumprimento afetivo, de contribuir para o desenvolvimento das crianças, para que elas tenham mais segurança para cuidar da própria vida e das famílias que futuramente eles venham a constituir".
"Precisamos de uma maternidade exercida de forma compartilhada, com as responsabilidades igualmente distribuídas entre ambas as partes. Esse é um caminho para rompermos com o machismo de que a mãe tem que fazer tudo, cuidar, educar, ensinar, zelar, e ao pai, restar apenas a incumbência da participação financeira. Chega, não dá mais! Vamos mudar, vamos evoluir. Enquanto ser mãe for ser ser tudo isso e ser pai for só isso, não teremos rompido com o machismo e o sexismo da sociedade brasileira. Essa ruptura é mais do que necessária", acrescenta a defensora Carolina Romani Brancalion.
Participação popular e políticas públicas - A vereadora Sílvia Morales, que além de Procurado Especial da Mulher na Câmara é Diretora da Escola do Legislativo, lembrou que a atividade faz parte das ações realizadas pela Casa para celebrar o Mês da Mulher, comemorado em março, e "que a Escola do Legislativo tem o papel de trazer o debate cidadão para o Legislativo municipal".
Rai de Almeida, que também é Procuradora Especial da Mulher, reforça que o debate sobre o papel das mães solo deve buscar fomentar a criação de políticas públicas e a mudança cultural.
"O Estado é omisso na sua responsabilidade social para com as mulheres e crianças", disse a parlamentar, que ainda acrescentou: "nos cobram [ter] namorado, marido, filho, responsabilidade para com esse filho e do homem só cobram o desejo dele, só cobram o prazer."
Além das falas dos participantes, também houve a exibição de um vídeo com um relato de uma mãe solo e a leitura de um relato sobre uma jovem mãe que foi afastada da guarda de seu filho.
A roda de conversa completa pode ser vista no canto superior esquerdo da tela e também no canal do YouTube da Escola do Legislativo.