10 DE DEZEMBRO DE 2021
Encontro na última quarta-feira (8) reuniu autoridades religiosas de diversas tradições da Umbanda e do Candomblé de Piracicaba e região.
Inter-religiosos propõem audiência pública para religiões de terreiro
Reverenciar o Dia de Oxum, celebrar a beleza e as tradições das religiões de terreiro e discutir políticas públicas para elas, foi a proposta do encontro que reuniu, na última quarta-feira (8), religiosos de diversas tradições das religiões de terreiro da cidade de Piracicaba e região.
Idealizado em conjunto pelo Babalorixá Pai Eduardo de Oxumarê (sacerdote do Igbà Omi Asè Afojidan e Comunidade Lua Branca), pelo professor Adelino Francisco de Oliveira (do Instituto Federal Campus Piracicaba) e pela vereadora Rai de Almeida (PT), o evento – ocorrido na sede do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Piracicaba – contou com a presença de autoridades das tradições Angola, Keto, Vodun Nago, Omoloco, Ifá, Jurema Sagrada, Umbanda Tradicional de Zélio e Umbanda de Tradição do Primado do Brasil.
Debatendo – em roda de conversa – temas como o da intolerância e o do preconceito que acometem as religiões de terreiro país afora, a atividade possibilitou, em encontro ímpar, que as autoridades religiosas presentes pudessem expor e compartilhar coletivamente as vivências e as situações enfrentadas por elas no cotidiano de suas vidas e de suas atividades dentro e fora dos terreiros.
Nesse sentido, os sacerdotes e religiosos destacaram que a questão do preconceito envolvendo as religiões de terreiro está muito mais próxima da realidade da vida do que se imagina – revelando-se nas pequenas ações do dia a dia, como, por exemplo, quando não se consegue de imediato um Über que atenda alguém que solicita transporte para um terreiro.
Ainda sobre a questão do preconceito, o professor Adelino de Oliveira destacou que preconceito e intolerância religiosa estão ligados à ignorância das pessoas em relação às religiões de terreiro. “É preciso superar a profunda ignorância que as pessoas têm sobre as tradições das religiões de terreiro” – destacou o professor, que comentou ainda sobre a dificuldade de se falar, por exemplo, nas aulas e nas escolas, sobre as religiões de terreiro.
Corroborando a fala do professor Adelino, Pai Eduardo de Oxumarê ressaltou a importância de se investir na educação e no conhecimento da origem e da cultura das religiões de terreiro. “O problema não está embaixo, mas em cima” – afirmou Pai Eduardo, destacando que é preciso trabalhar com os professores e professoras também, proporcionando conhecimento e aprendizado, de maneira ampla, a todos e todas.
A vereadora Rai de Almeida – que declarou não pertencer a uma das religiões ali presentes, mas ser uma simpatizante que preza muito pela beleza, história, tradição e importância delas –, destacou que o encontro foi riquíssimo e que ela, apesar de não ter militância na área, coloca-se ao lado das religiões de terreiro na defesa de seus direitos, da pluralidade e da democracia.
“As bandeiras do nosso mandato na Câmara (como a pauta da cultura, da educação, das mulheres e outras) são um instrumento de luta e canalização de reivindicações sociais. Assim, nosso mandato pode – sim – ser um instrumento para se dar voz a este grupo que aqui está, se o grupo entender também que o mandato pode e tem como contribuir com ele”, afirmou a vereadora.
Como encaminhamentos coletivos, quatro iniciativas foram aprovadas pelos presentes: a) proposta de uma audiência pública sobre religiões de terreiro a se realizar na Câmara Municipal; b) formação de uma associação de sacerdotes de religiões de terreiro de Piracicaba e Região; c) mapeamento dos terreiros de Piracicaba e d) formação (coletivo) de um grupo das mulheres de terreiro.
Dentre esses encaminhamentos, o gabinete da vereadora Rai de Almeida assumiu publicamente a proposta de levar à Câmara, em 2022, um requerimento solicitando a realização de uma audiência pública para se debater e se discutir políticas públicas para as religiões de terreiro. “Vamos trabalhar para dar voz a essa temática e às religiões de terreiro, ampliando as discussões inter-religiosas e possibilitando que políticas públicas sejam também pensadas para essas tradições” – completou a vereadora.