O legado transmitido pela comunidade japonesa à sociedade piracicabana foi enaltecido neste Sete de Setembro, feriado da Independência, quando a Câmara promoveu reunião solene para marcar os 100 anos da chegada das primeiras famílias orientais a Piracicaba. Dez nomes receberam homenagens do vereador Pedro Kawai (PSDB), primeiro representante nipo no Legislativo local, primeiro secretário da Mesa Diretora e também autor do evento. Documentário, livro e exposição marcaram a ocasião.

A escolha do feriado da Independência para a realização da solenidade não foi por acaso. Na mesma data, 105 japoneses, de 23 famílias, desembarcavam em Piracicaba, na extinta estação Sorocabana. O destino era a fazenda Pau d'Alho, para se dedicarem ao cultivo do café, então chamado de "o ouro da terra". No momento de suas chegadas, em 1918, aconteciam na cidade as comemorações da Independência do Brasil, o que fez com que muitos acreditassem ser uma festa de recepção.

Para Kawai, o legado dos japoneses para Piracicaba pode ser resumido em transparência, ética, seriedade e comprometimento, características estas que foram transmidas de geração em geração. "Quis o destino e a historia que pela primeira vez nesta Casa de Leis tivéssemos um representante de japoneses no ano de seu centenário. E quis o destino que fosse eu. É um momento marcante na minha vida. Que possamos crescer e engrandecer com os valores e ensinamentos deixados a nós pelos primeiros japoneses."

O presidente da Câmara de Piracicaba, vereador Matheus Erler (PTB), disse que os imigrantes contribuíram para o desenvolvimento da cidade em várias frentes: economia, comércio, pesquisa, medicina, gastronomia, nos aspectos sociais e culturais. Para ele, as palavras que definem a comunidade são respeito, obstinação, união, coragem e determinação. "São exemplos, modelos de paradigmas, de cidadãos que agem pelo bem comum", reforçou.

Já Irio Kawashima, que preside o Clube Nipo Piracicaba, utilizou os adjetivos coragem, bravura, determinação e pioneirismo. Ele disse que várias atividades estão previstas para marcar o centenário dos japoneses na cidade e que a solenidade da Câmara é a primeira delas. "Os italianos deixaram como legado as igrejas, enquanto os japoneses deixaram a escola."

Representante dos homenageados, Emílio Takao Umebayashi agradeceu a Kawai por ter proposto o evento na Câmara e enalteceu a união da comunidade japonesa, que mesmo em uma data de feriado lotou o Salão Nobre da Casa de Leis para acompanhar o evento. "Adotamos essta terra como a nossa, fizemos e vamos continuar fazendo algo que possamos deixar como legado. Cultura, disciplina, perseverança nos foram deixadas pelos nossos ancestrais", disse Emílio, que no Clube Nipo-Brasileiro de Piracicaba trabalhou para reerguer o beisebol na cidade.

Além das homenagens, a solenidade teve a estreia do documentário "Kansha: 100 anos da imigração japonesa em Piracicaba" e a exposição "Olhares Reminiscentes", produzidos por estagiários e servidores do Departamento de Comunicação, homenageados por Kawai durante o evento. O escritor Cecílio Elias Netto lançou o livro "100 anos da Imigração Japonesa em Piracicaba". Ele saudou os "nipocaipiracicabanos" e disse que beleza, delicadeza e persistência são as características deixadas pela comunidade. "O japonês planta suas raízes onde está", lembrou Cecílio.

A solene contou ainda com pronunciamentos de Erotídes Gil, secretário de Administração; e de Pedro Mizutani, da Raízen, e Agostinho Monsserrocco, da Oji Papeis Especiais, como apoiadores do livro dos 100 anos. O evento teve a presença de Ricardo Takaki, presidente da Chácara Sol Nascente, de Duílio Gonçalves de Santana, da Seicho-no-ie, dos secretários Rosângela Camolese (Ação Cultural e Turismo) e Jorge Akira (Trânsito e Transportes), de Carlos Youssef, diretor presidente da Unimed, e do vereador Gilmar Rotta (MDB).

HOMENAGEADOS -- Além de Emílio Takao Umebayashi, as homenagens foram entregues ao oftalmologista Francisco Komatsu, primeiro médico japonês de Piracicaba; ao administrador de empresas aposentado Hélio Yukio Takaki, que hoje trabalha com medicina e saúde ocupacional; a Imari Mori, um dos fundadores da Chácara Sol Nascente; a Kássia Kishino Kawai, que começou a atuar voluntariamente na Festa das Nações desde a primeira edição; a Naoki Kawai, presidente de honra do Clupe Nipo de Piracicaba e que fundou a Apac (Assistência Carcerária) em Piracicaba; a Pedro Isamu Mizutani, vice-presidente executivo da Raízen e do Clube Nipo de Piracicaba, além de presidente da Liga Centro Oeste de Karaokê e da União Paulista de Karaokê do Estado de São Paulo; a Sussumo Sato, primeiro coordenador do Grupo de Terceira Idade Nipo Brasileiro de Piracicaba e voluntário em várias instituições de caridade; ao administrador de empresas Tadao Matsuoka, incentivador do beisebol; e a Yukiko Mayeda, uma das principais disseminadoras da cultura japonesa através da escrita, dança, música, teatro e origami.

(Assista no player à reportagem veiculada pelo "Jornal da Câmara")