08 DE MARÇO DE 2019
Matheus Erler apresentou texto de repúdio à comissão de frente da escola de samba e recebeu apoio de colegas parlamentares
Ele recorreu ao artigo 208 do Código Penal para embasar argumentação
Diversos parlamentares se posicionaram contra a encenação da comissão de frente Gaviões da Fiel, no Carnaval paulista, que trouxe Jesus vencido por Satanás, em uma “batalha do bem contra o mal”. A discussão foi motivada pelo vereador Matheus Erler (PTB), que apresentou em caráter de urgência a moção de repúdio 36/2019, aprovada nesta quinta-feira (7). O assunto ocupou 45 minutos do segundo expediente da 9ª reunião ordinária da Câmara.
Para Erler, a Gaviões da Fiel usou de forma indevida a figura sagrada de Jesus Cristo ao mostrá-lo derrotado pelo diabo, além de profanar símbolos cristãos em uma apresentação carnavalesca. O parlamentar evocou o artigo 208 do Código Penal, que considera crime “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. Para ele, a encenação destilou heresia em um ataque gratuito e desnecessário à fé de 88% dos brasileiros e estimulou ainda mais o preconceito que muitos cristãos têm contra o Carnaval.
O repúdio do vereador também está relacionado ao uso de recursos públicos, por ele definido como “aberração”. Erler diz que não se trata de arte, mas de crime, e que o direito à manifestação e à liberdade de expressão não podem ser confundidos com abuso do artista na manifestação do pensamento. “O direito à manifestação artística não se sobrepõe à inviolabilidade da consciência e da crença”, escreve o vereador, no texto da moção.
Ao ocupar a tribuna da Câmara, Erler comentou que o repúdio não é em desfavor da escola de samba. "Até mesmo porque muitos corintianos também não concordaram com o teor da encenação", reforçou.
Corintiano declarado, Paulo Campos (PSD) recorreu a versos bíblicos para classificar a encenação como "mentirosa em todos os sentidos", enquanto Paulo Henrique Paranhos Ribeiro (PRB) pediu para esclarecer o que diz a Bíblia: "para isto se manifestou o filho de Deus, para destruir as obras do diabo e não vice-versa. Estou falando bem claro, como vereador e pastor". "Não queria estar na pele deste cidadão, pagará alto preço", disse Campos.
Quem concordou com o argumento foi o vereador Lair Braga (SD). "Esta é a maneira de mostrar um ato de fé, com o demônio açoitando Cristo?", questionou. Ele também lamentou o compartilhamento no Twitter do presidente Jair Bolsonaro, de uma cena de 'golden shower' "querendo demonstrar que o Carnaval traz cenas banalizadas". "É bem verdade, mas é um chefe de Estado. Aí vai acabar com o Carnaval? Não! É uma festa popular!", disse.
Já Adriana Cristina Sgrigneiro Nunes, a Coronel Adriana (PPS), discordou do argumento de que o vídeo postado por Bolsonaro seja "sexo explícito". "Nada mais do que uma cena de escárnio praticada por dois homens", opinou, ao se enveredar sobre a atuação de policiais no Carnaval. Ela disse ser bom que ocorram discussões pela moral, bons costumes e valores da pátria e defendeu a revisão de conceitos. "Em que pese o Estado ser laico, a nossa Nação tem o direito de preservar as suas religiões e o direito de ser respeitada em suas crenças".
Os parlamentares que integram a Mesa Diretora da Câmara também se manifestaram em favor da moção de repúdio. O presidente Gilmar Rotta (MDB) parabenizou Erler pela autoria do texto, enquanto o segundo-secretário Wagner de Oliveira (PHS) disse que a palavra de Deus tem de ser cumprida na Terra. "É lícito que o escândalo venha, mas ai de quem for escandalizado", opinou. O vice-presidente Pedro Kawai (PSDB) disse ter sido favorável à moção por causa do exagero cometido pela comissão de frente da Gaviões. "Analisando o contexto, eu até entendo, mas não aceito. São vários exageros que estamos acostumados a ver no Carnaval, mas a gente não pode crucificar e condenar uma festa popular", ponderou, ao recorrer a exemplos positivos no Carnaval local.