23 DE SETEMBRO DE 2015
A convite da vereadora Madalena (PSDB) e organização do Conepir, assessora da Semtre apresentou situação da desigualdade no mercado por conta de gênero e etnia
Diferenças salariais e de oportunidades no mercado trabalho ainda são definidas em todo território nacional por conta de gênero e, sobretudo, etnia. Mulher ganha menos que homens; mas negros ganham menos que brancos; mulheres negras aparecem, portanto, na base desta hierarquia que perpetua preconceitos e uma cultura perversamente cristalizada.
Esse panorama foi discutido nesta terça-feira (22), quando Marilda Soares, assessora da Semtre (Secretaria Municipal de Trabalho e Renda) e integrante do Conepir, esteve na Câmara de Vereadores de Piracicaba, a convite da vereadora Madalena (PSDB), em evento preparatório da Marcha Nacional das Mulheres Negras, marcada para 18 de novembro.
“A relação de gêneros precisa ser discutida em todos os aspectos, especialmente quando se trata de mercado de trabalho, porque aparece de forma muito marcante”, analisa Marilda. Desde as sociedades primitivas até os dias atuais, a idéia de que mulher e homem detêm espaços determinados, “criando situações de injustiça e de desigualdade social”, diz.
Mesmo com poucas estatísticas sobre a situação em Piracicaba, é possível descrever esta conjuntura de desigualdade. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 84,26% das mulheres empregadas na cidade ganham de zero a quatro salários mínimos, enquanto entre homens esta faixa salarial é de 70,31%. O mesmo acontece quando se trata de empregabilidade, menos mulheres estão ocupadas profissionalmente. São 52.341 empregadas em um universo de 193.340, segundo estimativa do Seade, sendo que entre a população masculina (184.845) o número de trabalhos chega a 81.692.
No plano nacional, existem dados ainda mais marcantes sobre a relação de gênero e etnia na empregabilidade. Informações de um estudo de 2011 do IPEA (Instituo de Pesquisa em Economia Aplicada) mostram que, em regiões metropolitanas, existe um escalonamento onde homem não-negro tem melhor media salarial (R$ 1.491,00) que mulher não-negra (R$ 957,00) que, por sua vez, ganha mais que homens negros (R$ 833,50). Estes últimos são melhores remunerados que as mulheres negras, que ganham R$ 544,40 em média.
Marilda Soares aponta ainda que o mesmo estudo também identificou o percentual da diferença salarial de homens e mulheres pretos/pardos em relação a homens e mulheres não-negros nas regiões metropolitanas do País. Em Porto Alegre, a população trabalhadora de pretos/pardos ganha 77% em relação a não-negros, sendo que este percentual é 56% em São Paulo e, em Salvador, chega a 48%. “Curioso que onde a concentração da população negra é maior, como na capital da Bahia, a diferença é ainda maior”, analisou.
MARCHA DAS MULHERES – Neste contexto de desigualdade de gênero e étnica no mercado de trabalho, as sete principais centrais sindicais do País organizam para 18 de novembro a Marcha das Mulheres Negras 2015, em Brasília, quando será apresentada uma pauta com diversas reivindicações para atenuar esta situação no País.
Adney Araújo, presidente do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba (Conepir), destacou que a reunião desta terça-feira à noite, na sala de reuniões do 2o andar do Prédio Anexo da Câmara de Vereadores de Piracicaba, é o momento de cidade contribuir com as reivindicações nacionais. “A partir destes dados (apresentados por Marilda), temos uma noção melhor de onde estamos, das conquistas que já tivemos, mas sobretudo onde ainda precisamos atuar”, declarou.
A Pauta da Marcha Nacional inclui 20 demandas (que podem ser acessadas neste link) e conta, entre outras, com o cumprimento de convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), como a de número 100, que estabelece igualdade de remuneração de homens e mulheres por trabalho igual, assim como pede a aprovação do projeto de lei 6.653/2009, que cria mecanismos para garantir igualdade nas relações de trabalho.