Primeiro o frio, depois a fome ––acompanhada de constantes visões da morte representadas pela figura de soldados e da permanente sensação de solidão e abandono––, são as principais lembranças de um menino que tinha apenas 7 anos quando presenciou e sobreviveu ao holocausto nazista.

Nesta quarta-feira (18), em atividade alusiva ao "Dia Municipal da Lembrança" ––realizado pelo gabinete do vereador André Bandeira (PSDB) e pela Comunidade Israelita de Piracicaba, em memória às vítimas do holocausto cometido pelos nazistas e seus adeptos, que exterminou mais de 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial––, o palestrante Thomas Venetianer relatou aos alunos do Sesi da Vila Industrial, pela manhã, e da Etec "Fernando Febeliano da Costa", no Centro, à tarde, sua história de vida e o impacto do holocausto até hoje.

André Bandeira agradeceu a presença de todos e falou do privilégio de poder conhecer a história do eslovaco naturalizado brasileiro. "Thomas é uma das poucas pessoas no mundo sobreviventes do holocausto. Vamos ficar atentos aos relatos compartilhados e aprender com o que aconteceu para que não se repita mais." O parlamentar ainda relembrou e lamentou o que está acontecendo na Síria. "É muito triste. Não podemos deixar isso acontecer em nosso país", pediu.

Thomas disse que os estudantes "são sua plateia preferida", por enxergar neles "o futuro que poderá modificar o passado", e pediu desculpas por "estragar o mundo dos jovens com essas informações ruins".

O palestrante fez um resumo de sua trajetória de vida e expôs, com detalhes, os bastidores dos campos de concentração até a libertação dos judeus pelos russos, após a rendição dos alemães, em maio de 1945. "Eu não estou contando para vocês a história; eu sou a história", afirmou, diante de toda dor carregada na memória e de todo sofrimento envolvido.

"A pior parte do holocausto foi o extermínio de 20 parentes meus, que fez com eu não tivesse, por muitos anos, uma família", comentou.

O palestrante, que vive no Brasil há 70 anos, afirma que o país o "ajudou a superar e a recuperar a vida depois de vivenciar a tragédia". "Temos que alertar, contar e dizer o que sentimos para que principalmente os jovens interiorizem os relatos e as experiências e os passem adiante", completou.

Ao final da palestra, Thomas fez um apelo aos estudantes para que valorizem o voto. "Valorizando o voto é a chance que vocês estão dando ao Brasil para que não se tenha uma ditadura. Só com nosso voto é possível que o Brasil não se torne fascista. Votemos consciente", declarou.

EMOÇÃO - Participante da palestra promovida pela manhã, no Sesi da Vila Industrial, Isabela Eduarda Gomes dos Santos, estudante do 2º ano do ensino médio, se disse emocionada com o testemunho de Thomas. "Estudar o holocausto em sala de aula é uma coisa; mas escutar os relatos de um sobrevivente faz com que a gente tenha uma dimensão muito maior e diferente do que é transmitido em sala de aula. Foi muito emocionante", afirmou.

Após a palestra, foram acesas sete velas, representando as minorias exterminadas durante a 2ª Guerra Mundial: comunidades israelitas, LGBT, negros, protestantes, maçonaria, testemunhas de Jeová e pessoas com deficiência. Sete alunos do Sesi se voluntariaram para participar do gesto simbólico: Helena Moraes Santos, Sarah Cândido, Jhulia Ramos, Luana Marcela Oliveira, Fabiana Rodrigues, Alice Rodrigues e Andrew Rodrigues.

Amauri Toloti, professor de História e Filosofia do Sesi, afirmou que, "de todos os relatos que já ouviu de Thomas, este sem dúvida foi o mais impactante". Ele elogiou e ressaltou os trabalhos realizados por outros sobreviventes do holocausto, como Rita Braun e Jaime Rosenthal, e emocionou-se ao homenagear Célia Rosenthal, viúva de Jaime, que estava acompanhada dos filhos Marcelo e Daniel.

O diretor do Sesi, André Luis do Nascimento, também agradeceu a Thomas por dividir sua história com todos e garantiu que "não deixará esse fato histórico morrer". O educador pediu resistência na política brasileira. "Temos que ter um protagonismo forte e com engajamento no cenário político do Brasil, para que não deixemos o país se afundar", disse.