Como quem domina a área, Romário caprichou no arremate: queria saber como impedir os atos de vandalismo que constata ao usar o transporte coletivo. Genioso como o craque da Copa do Mundo de 1994 que lhe inspirou o nome, o jovem, de 23 anos, disse se irritar com a situação. "Quando estou no ônibus, vejo os bancos riscados. Não suporto ônibus riscado", desabafou.

Aluno do PET (programa de educação para o trabalho) Trampolim ––curso de capacitação profissional oferecido pelo Senac a pessoas com deficiência intelectual––, Romário elaborou, de próprio punho, a pergunta feita durante a visita que ele e seus 17 colegas de classe fizeram à Câmara, na tarde desta quarta-feira (31). A turma foi recebida pela equipe do Departamento de Documentação e Arquivo e pelo vereador André Bandeira (PSDB).

A visita dos alunos complementa o que eles discutem ao longo dos 18 meses de duração do curso, com aulas três vezes por semana. A qualificação visa preparar o grupo, cuja idade varia de 16 a 57 anos, para o mercado de trabalho, numa parceria do Senac com entidades que prestam atendimento a pessoas com deficiência na cidade e que são as responsáveis por indicar os alunos para o curso.

"Hoje para eles foi muito rico, eles mesmos elaboraram as perguntas. Nas aulas, fomos discutindo bairros, a cidade, o que eles sentiam de dificuldade. Fizemos uma roda de conversa e, por meio dela, surgiram os questionamentos", conta a professora Ana Paula Rossi, que acompanhou a turma junto com a também docente Amira Nader Forti, o agente administrativo Luiz Fábio Pellegrini e a coordenadora Denise Zaidan Silvestre.

No plenário, sentados nas cadeiras que, a partir desta quinta-feira (1º), voltam a ser ocupadas pelos vereadores com o início das reuniões ordinárias em 2018, os 18 alunos do Senac tiraram dúvidas sobre o funcionamento da Câmara, o papel exercido pelos parlamentares e o processo para uma ideia ser transformada em lei.

"Eles sempre tiveram muita curiosidade em relação a cidadania, ética, voto, principalmente neste ano, que é de eleição, quando a mídia está repercutindo várias coisas. Mesmo sendo deficientes intelectuais, eles vêm com a informação das instituições [que os atendem em Piracicaba] e nós trabalhamos dentro do Senac essas questões, do que é a realidade do Brasil e de outros países, para eles aprenderem a comparar", acrescenta Ana Paula.

Bastante didático, o diretor do Departamento de Documentação e Arquivo, Fábio Bragança, transmitiu ao grupo informações sobre a função do Legislativo e curiosidades sobre a história de Piracicaba. Detalhou, por exemplo, os elementos que compõem o brasão do município: cana de açúcar, pés de café e peixes.

Os alunos ainda participaram da votação de um projeto de lei fictício: por maioria dos votos, eles aprovaram a proposta de reservar vagas de estacionamento para pessoas com deficiência ou idosas. Ao final da visita, o grupo conheceu o salão nobre, assistiu ao vídeo institucional da Câmara, tomou um lanche e posou para foto em frente à fachada do prédio principal.

"Achei legal, gostei muito. Foi interessante o que o André Bandeira e o Fábio Bragança falaram. Quero continuar vindo aqui, pelo meu curso", disse Romário.

"A Câmara mais uma vez cumpre sua função, não só de legislar ou fiscalizar o Executivo, mas de incluir a sociedade, proporcionando a participação dessas pessoas aqui. Elas têm todo o direito, como qualquer outra, de serem inseridas, e é importante a sociedade ter essa consciência", disse André Bandeira, que parabenizou a direção do Senac por ter entrado em contato com a Câmara para viabilizar a visita.