16 DE MAIO DE 2024
Encontro promovido pela Escola do Legislativo nesta quinta (16), no Museu Prudente de Moraes, debateu criação de centro para preservação de acervos locais
Evento aconteceu na tarde desta quinta-feira (16) no auditório do Museu Prudente de Moraes
A importância de espaços capazes de absorver, armazenar, preservar e divulgar acervos e coleções históricas ligados à memória da cidade de Piracicaba foi a tônica de uma roda de conversa promovida pela Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba, na tarde desta quinta-feira (16), no auditório do Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes.
O debate, que reuniu representantes de órgãos públicos, entidades da sociedade civil e pessoas interessadas na preservação da cultura material e imaterial da cidade, foi precedido por exposições de servidores do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, do Museu Prudente de Moraes e de representante do Centro Cultural “Martha Watts”, que falaram sobre os acervos e coleções mantidos por cada instituição, bem como sobre as peculiaridades e desafios do trabalho desenvolvido por cada uma delas.
“A Escola do Legislativo é um órgão da Câmara que busca desenvolver a participação popular, a discussão de políticas públicas, a cidadania, e a gente sempre traz atividades externas para desenvolver também outras habilidades que fazem parte da construção de uma sociedade e, com certeza, a preservação da história é de suma importância para nós no dia de hoje”, disse o vereador Pedro Kawai (PSDB), Diretor da Escola do Legislativo, na abertura da atividade.
Acervos - De acordo com a Ana Torrejais, diretora do Museu Prudente de Moraes, o acervo da entidade conta, atualmente, com uma coleção eclética de cerca de 15 mil itens, que abarca desde documentos textuais, visuais e sonoros, passando por objetos de arte, mobiliário, maquinário, até artefatos paleontológicos.
Deste total, apenas 150 itens - cerca de 1% do acervo - estão expostos no Museu. O restante faz parte da reserva técnica do Museu. “Todo esse material está devidamente acondicionado e organizado por tipologias ou em coleções”, explicou a diretora, que na sequência frisou que as coleções, periodicamente, passam por procedimentos específicos de conservação conforme normas internacionais de museologia.
“Além dos materiais em exposição e da nossa reserva técnica, nós temos também alguns outros acervos em pontos da cidade, como por exemplo alguns animais empalhados, atualmente alocados no NEA (Núcleo de Educação Ambiental), no Mirante, alguns móveis na Câmara, no Teatro do Engenho e quadros dos ex-prefeitos de Piracicaba, no andar térreo da Prefeitura”, disse o historiador Maurício Beraldo, Assistente de Ação Educativa e Programação do Museu Producente de Moraes.
De acordo com ele, o Museu, situado na casa em que morou Prudente de Moraes, primeiro presidente civil do Brasil, cumpre hoje duas funções primordiais: a de preservar a memória da figura que dá nome à instituição e, também, a de salvaguardar a memória de Piracicaba. “Nosso Museu é o Museu da cidade. Ele é um museu adaptado em uma casa, ele não é um museu-casa como a gente conhece em outros lugares, de algumas personalidades históricas, mas o Museu da cidade foi adaptado na Casa de Prudente, e ele tem dois eixos principais: a história da cidade de Piracicaba e a história do Prudente de Moraes”.
Parte do acervo do Museu Prudente de Moraes está catalogado nas plataformas digitais Sophia e Brasiliana Museus.
Também com missão específica, o setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, chefiado pela arquivista Giovanna Fenili Calabria, além de organizar os fluxos documentais produzidos pelo Legislativo, é também, hoje, um espaço de preservação da memória da cidade.
“A Câmara não foi criada para ser um espaço de memória. A Câmara tem e tinha muitas funções, e essas funções geram documentos. E por diversos fatores, que envolvem capacidade, competência e muita sorte também, alguns documentos sobreviveram por mais de 200 anos. A Câmara não nasceu para ser uma espaço de memória, mas ela é um espaço de memória”, diz Giovanna, que explica que o acervo da Casa, conta com documentos de tipologias diversas, produzidos e recebidos pelo Legislativo, principalmente em função de suas atividades.
“Mas isso traz algumas questões interessantes: como quase tudo passa pela Câmara, os temas da cidade de alguma forma transitam por lá, temos a história da Casa e da Cidade ao longo de mais de duzentos anos”, fala a chefe do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo.
“Em sua imensa maioria, o acervo da Câmara é composto por documentos textuais, manuscritos, datilografados, contando com portarias, projetos de lei, indicações, fruto da atividade dos vereadores, mas também temos algumas ‘raridades’, já que em alguns momentos a Câmara também serviu a outras atividades, como registro de casamentos de estrangeiros não católicos, de 1864”, diz a arquivista Daiane Soldan, que também destaca a recente doação recepcionada pelo Setor de processos judiciais com mais de 200 anos que faziam parte do acervo reunido por Jair Toledo Veiga, pesquisador que faleceu em 2003.
O acervo também com itens peculiares, a exemplo de uma ata do Clube de Solteiros, de 1919, objetos da Revolução de 1932, além de uma biblioteca legislativa, 3097 fitas de VHS, 10400 DVDs, fotos e negativos de fotos.
“Nós temos um acervo não muito grande de fotografias, mas muito expressivo em relação ao seu conteúdo. Temos fotos do bicentenário da cidade, em 1967, fotos da inauguração do prédio principal da Câmara, em 1975, fotos do funeral do ex-prefeito Luciano Guidotti, falecido em 1968”, disse o servidor Bruno Didoné de Oliveira, servidor no Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, que em sua fala também ressaltou o papel do ex-vereador e ex-presidente da Câmara de 1975 a 1977, Antonio Messias Galdino, na preservação da memória da Casa e da cidade e na estruturação do Setor.
Parte do acervo da Câmara está disponível na plataforma Atom.
Também referência na preservação da memória da cidade, inaugurado em 2003, o “Centro Cultural “Marta Watts”, situado em prédio datado de 1884 para receber o colégio Piracicabano - representado na roda de conversa pelo jornalista Reinaldo Diniz - conta com acervo que registra a chegada do Metodismo em Piracicaba, preserva edições de 1935 a 1992 do periódico “O Diário”, do “Folha de Piracicaba”, traz mobílias, documentos e objetos do início do século XIX com a história do colégio, e conta com acervo de cerca de 13304 processo judiciais que vão de 1801 a 1945 “com relações de escravos, doações de terras, ações trabalhistas, processos-crime entre outros. Constitui parte da história de Piracicaba na época e os conflitos do período, como sucessões hereditárias por terras e bens na região”.
O Centro Cultural ainda conta com outros acervos como o Rocha Netto, com a história do XV de Piracicaba, e o acervo João Chiarini, que preserva o folclore e a cultura da cidade.
Centro de Memória de Piracicaba- Se a pluralidade dos materiais preservados é grande, soma-se a esse universo muitos outros acervos dispersos, tanto em instituições públicas e privadas quanto em coleções particulares, muitos deles sem o devido tratamento arquivísitico e museológico preconizados pela técnica.
Durante o encontro, diversos foram os relatos de pessoas que possuem sob sua guarda acervos coletados ao longo de décadas, muitos deles coletados por parentes já falecidos e que, em comum, encontram dificuldades de garantir que esse material seja devidamente preservado, catalogado e, principalmente, disponibilizado para pesquisadores e para o público em geral.
“A Câmara conserva uma versão da história. Temos mais de 200 anos de história, mas temos só a história que a própria Câmara conta, mas cadê o resto? Está nesses muitos outros centros de memórias e museus, e muitos deles precisam de ajuda. Alguns deles estão em mãos de particularidades e, talvez, alguns documentos não tenham a mesma sorte. Foi muito debatido aqui, e eu acho muito pertinente se pensar em um local unificado, um centro de memória do município capaz não de receber acervos já tão bem constituídos, mas capaz de juntar a história da cidade em um mesmo lugar. Não é um plano concreto, mas é um debate, uma sementinha que foi plantada hoje”, disse Giovanna Calabria ao término do evento.
O debate sobre um espaço capaz de receber e dar a destinação correta ao material histórico disperso na cidade é também visto com bons olhos por Ana Torrejais: “em Piracicaba, realmente urge existir um espaço conjunto que seja um repositório desses diferentes acervos que estão dispersos na cidade mas que tem uma identidade comum, que é a identidade piracicabana. Então, quanto mais caminharmos nesse sentido, mais chances no futuro teremos de ter isso preservado e transferido para as gerações futuras”.
“A Escola do Legislativo tem esse papel da discussão das políticas públicas, e a cultura e a preservação da história fazem parte dessa construção. A Escola tem um papel de fazer a ponte entre as pessoas interessadas para poder, quem sabe, conquistar um marco para a cidade, que seria um espaço público de preservação da memória”, disse Pedro Kawai, que ainda afirmou que uma outra roda de conversa sobre o tema, com mais atores, deve ainda ser realizada: “deveremos fazer um segundo momento de conversa com os principais atores da preservação do patrimônio histórico e cultural da cidade para, daí, criamos um grupo de trabalho e traçarmos linhas de levantamento de dados e pesquisas sobre a viabilidade dessa implantação”.