11 DE DEZEMBRO DE 2019
Evento no Salão Nobre Helly de Campos Melges ocorreu por iniciativa de Nancy Thame
Vereadora comemorou o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha
A vereadora Nancy Thame (PSDB) promoveu nesta terça-feira (10), no Salão Nobre Helly de Campos Melges, a reunião solene para entregar oito homenagens pelo Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha. O evento marcou ainda o encerramento das ações dos “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”.
Receberam homenagems a líder comunitária Cleusa Maria Adão Aguiar (Dona Cleusa); a cabeleireira Conceição Aparecida Nascimento Sandoval (a Ceiça); a diretora-presidente da Cooperativa Reciclador Solidário de Piracicaba, Ednalva Inês Correa Souza; a funcionária pública Fátima Aparecida Eugênio, que integra o Grupo de Mulheres Negras e o Promotoras Legais Populares; a organizadora de casamentos Helena Mendes Souza; a missionária Rosa Nair Carlos, que desenvolve trabalhos na diretoria do Colégio Baronesa de Rezende e Pastoral Afro da Diocese de Piracicaba; a funcionária pública Maria Ivete Araújo, chefe do programa MovimentAção Cultural; e a educadora e artesã Miriam Mariano Pedroso.
Segundo a vereadora Nancy Thame, a ideia de marcar os 16 dias de ativismo veio porque a data está incluída no calendário da ONU (Organização das Nações Unidas). Ela lembrou que as ações tiveram início em 25 de novembro, o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, e seguiram até o 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Nancy citou outras ações do seu mandato, como a Rede de Atendimento e Proteção à Mulher e a Procuradoria Especial da Mulher. “A mim incomoda estar em duas entre 23 na Câmara, mas me incomoda mais não ter uma mulher negra entre nós, para que a voz e o sentir de vocês venha para dentro do Legislativo”, declarou.
A vereadora trouxe ainda dados do Instituto Patrícia Galvão, ao contextualizar o tema trabalhado nos 16 dias: “Pinte o mundo de laranja: geração igualdade contra o estupro!”. Segundo o instituto, 97% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de assedio. “São 180 casos registrados por dia no país, quatro meninas de até 13 anos por estupro por hora no Brasil. A estimativa é que apenas 10% denunciam”, disse, ao completar: “Não dá não estarmos juntas nesta luta”.
Já a vereadora Adriana Cristina Sgrigneiro Nunes, a Coronel Adriana, iniciou o seu pronunciamento lembrando o feminicídio registrado contra Adriele Francine Dezzotti. “Hoje enterramos a Adriele: 33 anos, branca. Mas poderia ter sido a mulher negra, a mulher deficiente, a mulher japonesa”, disse, ao fazer um comparativo com a função do Coral Estação Paulista, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que se apresentou no evento: “as vozes unidas são perfeitas, mas desunidas não levam lugar algum.”
Representante das homenageadas, a missionária Rosa Nair Carlos trouxe o nome de várias mulheres, entre elas a presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, prêmio Nobel da Paz em 2011, Madre Teresa de Calcutá, até chegar ao exemplo da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro. “Marielle é uma fonte de inspiração para todas as mulheres negras brasileiras, especialmente nas periferias rurais, cujo sofrimento muitas vezes é invisível”, disse. “Se olharmos com mais atenção para a história da mulher negra, podemos sentir que elas sempre desempenharam um papel de luta e sobrevivência do povo negro. Respeitar a ancestralidade é ter consciência da sua representatividade hoje”, reforçou.
A presidente do Conselho Municipal da Mulher, Carolina Angelelli, fez uma breve cronologia do direito feminino no Brasil, como o direito ao voto, em 1932, e a abolição da incapacidade civil, em 1962. Ela lembrou ainda que somente em 1967 a discriminação contra as mulheres se torna incompatível com a dignidade humana e que a igualdade de gênero perante a lei foi assegurada na Constituição de 1988. “São informações trágicas, que nos mantêm em vigília constante”, declarou.
Os versos de “A Carne”, canção de Elza Soares, foram pronunciados pelo coordenador diocesano da Pastoral-Afro, padre Adenilson Lopes da Silva, da Paróquia Divino Pai Eterno: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, para, na sequência, completar: “e a carne negra da mulher é pior ainda: a que mais sofre, a que mais trabalha e a que menos tem valor em toda a sociedade. A luta é diária”, disse ele.
A secretária Eliete Nunes (Assistência e Desenvolvimento Social) disse que o combate à violência contra a mulher deve ser pela educação. “Estamos caminhando, reforçando o conceito em nossas crianças, para que tenham respeito a todos os seres humanos”. Ela acredita que eventos como o proposto pela vereadora Nancy colaboram para a promoção da cultura de paz, do respeito e dos direitos humanos.
A guarda civil municipal Sheila Mayara Valverde, da Patrulha Maria da Penha, reforçou a importância de as mulheres se unirem. “A luta contra a violência é uma construção dura, longa e árdua. Somos um tijolinho e vejo cada uma das homenageadas com um tijolinho. Cada vez que estamos falando sobre isso, estamos construindo.”
MESA-REDONDA – Os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher foi instituído pelo decreto legislativo 14/2017, enquanto o decreto legislativo 11/2017 trata das celebrações do Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Antes da entrega das homenagens, o evento foi marcado pela mesa-redonda “Uma reflexão sobre os Direitos Humanos e os Direitos das mulheres”, com a Promotora Legal Popular Rebeca Henrique Nascimento da Silva; a pedagoga e doutoranda em educação escolar pela Unesp, Marília Frassetto; e a professora Heliani Berlato, da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).
Rebeca Henrique explicou sobre o surgimento do Movimento Promotoras Legal no Brasil, nos anos 90. Segundo ela, existem no país aproximadamente 100 coletivos. Em Piracicaba, a primeira formatura ocorreu em 2016, sendo que em 2019 foi formada a terceira turma. “Enquanto mulher preta, representante da sociedade civil, cabe a nós o espaço de fala e de trazer outras perspectivas”, disse, ao criticar o desmonte do estado, as reformas trabalhista e da Previdência. “A gente só fala em como o mercado financeiro responde e parou de fazer as reflexões do que a gente quer do país.”
Marília Frassetto de Araújo comentou sobre educação, sexualidade e gênero. Ela disse que o início da vida social é na escola, mas que as experiências de gênero são vivenciadas desde a infância, nos lares. Fatores como determinismo biológico, educação dos corpos, estratégias de controles de comportamento, entre outros, foram exemplificados em personagens conhecidos, como Bela Adormecida, Cinderela, Gata Borralheira – todas centradas na figura do príncipe e dos serviços domésticos. “Muitas escolas estão presas, ainda, a estes contos de fadas. Estas princesas não nos representam. Há outras histórias que podem ser contadas e nos agregar muito mais.”
A professora Eliane Berlatto, também integrante do Conselho da Escola do Legislativo da Câmara, disse que o fardo feminino ainda é pesado. “Podemos estar onde desejamos, fazer o que queremos, sem rótulos, prejulgamentos e estereótipos. Somos de todas as cores. Já estamos dizendo o que não queremos mais: temos maior escolaridade e ainda ganhamos menos. O que a gente precisa é mostrar, cada vez mais, que esse espaço está sendo ocupado. Podemos até tomar alguns tropeços, mas não iremos nos cansar.”