Da jornalista, vieram conselhos de como enfrentar o medo na hora de empreender. Da primeira mulher a comandar a Guarda Civil Municipal, exemplos da importância de questionar padrões culturais enraizados. E das vereadoras, o apelo para que elas tenham a mesma representatividade que eles na política.

Num encontro em que a igualdade não ficou só no discurso ––já que todas tinham um pouco para ensinar e outro tanto para aprender––, oito mulheres compartilharam suas histórias de vida a um público de cerca de 50 pessoas que, na tarde desta terça-feira (5), foi à sede da Usina de Inovação, no bairro Monte Alegre, prestigiar o encerramento do ciclo "Promovendo a educação e o empoderamento feminino".

Promovido pela Escola do Legislativo, numa parceria entre a Câmara e a Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), a sequência de cinco encontros iniciada em 8 de agosto trouxe, a cada semana, professores para discutir os temas "Gênero, mulher e o mundo de trabalho", "Direitos humanos e a não discriminação", "Comunicação estratégica" e "Gestão empreendedora feminina".

Denominado "Relatos de experiência", o encerramento, nesta terça-feira, reuniu mulheres de diferentes áreas de atuação, entre elas as vereadoras Nancy Thame (PSDB) e Coronel Adriana (PPS). O encontro, que teve a coordenação das professoras Marilda Soares e Taís Lacerda, foi aberto com uma performance do artista plástico Odair Jorge Demarchi e intercalado com a apresentação da cantora Bebé Salvego.

Nancy criticou a existência de divisões na sociedade, as quais têm dificultado a aproximação de grupos com pensamentos opostos. "No ambiente político, eu sempre gostei de ver o coletivo, de usar a retórica e convencer o outro. A linha que divide é incômoda, porque somos uma coisa só", afirmou a vereadora, que fez um apelo pelo aumento da representatividade feminina na política. "Os espaços de poder e decisão precisam ter a voz de homens e mulheres. A mensagem é esta: vamos ocupar esses espaços", clamou.

Coronel Adriana falou de como foi seu envolvimento, na Polícia Militar, para que mulheres pudessem ocupar altos cargos de comando e apontou a força de vontade como fator determinante na superação de desafios. "A individualidade é importante nessas horas: os caminhos existem, mas quem quer se empoderar deve perder o medo e enfrentar as barreiras. Se não correr atrás, não há o que faça você crescer. Tem que querer!", salientou.

Empreendedora e com especialização em gestão estratégica, a jornalista Giovanna Baccarin relacionou os cinco maiores medos apontados por um grupo de 400 mulheres das cerca de 10 mil que participaram, em 2014, do primeiro Congresso Nacional da Mulher Empreendedora. A lista dos temores que rondam quem busca levar adiante o próprio negócio inclui o medo do fracasso, o medo das dificuldades financeiras, o medo de não considerar a família um trabalho, o medo do novo e o medo de não gerar impactos.

Giovanna elencou as atitudes que tomou, ao longo de sua vida profissional, para lidar com esses sentimentos que também foram comuns em seu dia a dia. "Em relação ao medo do fracasso, a solução que eu encontrei foi planejar o que vou fazer e analisar quais são os piores cenários, pois, pensando no medo de forma existencial, vemos que, mesmo se fracassarmos, será algo muito mais leve do que o pior cenário possível ––e isso também nos empodera", refletiu.

Primeira comandante da Guarda Civil Municipal na história, Lucineide Aparecida Maciel Correa disse que, quando ingressou na corporação, em 1992, numa das primeiras turmas a contar com mulheres, teve de lidar com resistências internas, que deixaram de existir à medida que outros concursos integraram novas agentes à GCM.

Lucineide relembrou as palavras usadas pelo ex-prefeito Gabriel Ferrato quando a empossou no mais alto cargo da corporação: "Não foi uma escolha de gênero, mas de competência". "Dentro da Guarda, foi um processo tranquilo [uma mulher passar a ser a comandante]. Foi um impacto mais para a sociedade, já que, em 114 anos, nunca houve uma mulher à frente da Guarda", observou.

Também compartilharam, durante o evento, suas experiências de vida e trajetórias profissionais a engenheira agrônoma e diretora do Cena-USP, Tsai Siu Mui, a formanda em Fisioterapia Cristiane Berenice de Macedo Silva, a pesquisadora e engenheira agrônoma Denise Maria Gândara Alves e a artista plástica e engenheira agrônoma Alayde Puppin Ruschell.