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29 DE NOVEMBRO DE 2006

Médicos recebem alerta sobre problemas da queima da cana


O vereador Carlos Gomes da Silva, o Capitão Gomes (PP), na noite de ontem (28), às 20h00 ministrou palestra na Associação Paulista de Medicina Piracicaba, no Anfite (...)



EM PIRACICABA (SP)  

Foto: Fabrice Desmonts - MTB 22.946 Salvar imagem em alta resolução


O vereador Carlos Gomes da Silva, o Capitão Gomes (PP), na noite de ontem (28), às 20h00 ministrou palestra na Associação Paulista de Medicina Piracicaba, no Anfiteatro da Casa do Médico Dr. Legardhet Consolmagno para fazer um apelo aos profissionais sobre as principais implicações negativas à saúde da população em função dos problemas decorrentes da prática da queima da palha da cana de açúcar na região de Piracicaba, o que contraria preceitos legais da Constituição Federal além de confrontar com ditames de lei estadual que já proíbe a queima nas imediações de perímetros urbanos.

Por mais de uma hora, o vereador Capitão Gomes falou para um público seleto, representado por médicos que atuam nas áreas de pneumologia, otorrinolaringologia e pediatria, além de contar com a representação da Unimed, por intermédio do superintendente, o cirurgião vascular Francisco Luiz Cascelli que, sensibilizado com a palestra de Capitão Gomes se empenhou de repassar aos demais médicos da Cooperativa a problemática que representa para as futuras gerações a continuidade da prática da queima da cana.

O presidente da APM, Dr Antonio Haddad Dib também se comprometeu em discutir e repassar aos demais colegas a importância da cidade reavaliar a prática da queimada. A expectativa é que o município encontre fórmulas capazes de garantir o aceleramento do fim da prática da queima, ao adotar métodos que garantam a preservação ambiental e a saúde do cidadão.

O vereador Capitão Gomes utilizou gráficos e recursos visuais para demonstrar o quanto Piracicaba está comprometida com a cultura da cana, que responde por mais de 80% das áreas agriculturáveis. O temor é que a cidade se transforme em deserto nos próximos 40 anos, se nada for feito nos dias atuais.

O vereador Capitão Gomes iniciou suas ponderações lembrando que o ser humano é usufrutuário do ar que respira, do planta em que vive, sendo que deve protegê-lo e conservá-lo para as gerações futuras, que possuem não apenas uma expectativa de direito, mas um direito incontestável a um ambiente ecologicamente equilibrado, fundado no direito de perpetuação das espécies.

O professor Titular aposentado da USP-Esalq, ligado à Engenharia Rural, Luiz Geraldo Mialle também alertou sobre o risco de Piracicaba ganhar um deserto nas próximas quatro décadas se nada for feito hoje. O titular também defende novas tecnologias para o setor, como pequenas cortadeiras; o uso de GPS - tecnologia que utiliza satélites para controlar máquinas que seriam capazes de ultrapassar fronteiras e delimitar propriedades no corte da cana. Além da utilização de máquinas similares ao que é destinada na colheita do café onde é triplicada a potencialização do serviço do ser humano com o auxílio da máquina.

PALESTRA

Na palestra, o vereador Capitão Gomes discorreu sobre a Lei Estadual 11.241/02, regulamentada pelo Decreto 47.700/03 em que o Estado eleva por mais 30 anos a poluição causada pela queima. Pela lei, em 2002, as áreas mecanizadas representavam 20%, sendo que só no ano de 2021 teríamos 100% de mecanização.

Com relação às áreas não mecanizadas, a legislação estadual preconiza o ano de 2031 para garantir a proibição total da queima.

Na reapresentação da lei municipal o vereador Capitão Gomes pede a mecanização já. Isto é, para o ano de 2010, sendo que até 2015 teríamos o fim total da queima. Também destaca a importância de exigir da Cetesb e Prefeitura a cumprirem o que já está na lei estadual, em respeitar o limite urbano para não haver a queima da cana num raio de um quilômetro da cidade.

Capitão Gomes também ressalta a necessidade de impor condições para o plantio na zona rural, bem como mostra os malefícios que a prática da queima provoca na saúde humana ao verificar que cada vez mais a criança perde a capacidade pulmonar, segundo estudos de especialistas, como o médico pneumologista, Eduardo Cansado, em sua tese de Mestrado.

ESCRAVIDÃO

Capitão Gomes entende que o cortador de cana exerce um trabalho escravo, sendo que a cada ano a Princesa Isabel ressurge. Para cada toneleda da cana cortada o trabalhador recebe R$ 2,26. O pagamento é feito por produção e não por diária. Capitão Gomes também diz que a prática da queima da cana é uma burrice, pois além de afetar a natureza, com a morte de inúmeros animais da fauna silvestre que faria um controle ambiental penaliza o ser humano, principalmente no surgimento de doenças respiratórias.

Capitão Gomes também mostra que a tecnologia está apta a contribuir com o homem, pois hoje já é possível fabricar máquinas que atuam em qualquer tipo de terreno.

Capitão Gomes também relata o posicionamento de juristas e cientistas que atestam que a queima da cana fere um direito constitucional que assegura a sadia qualidade de vida e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Também reporta-se à formação de hidrocarbonetos policíclicos cromáticos, muitos deles com propriedades causadores de câncer, segundo especialistas, como o Dr. José Carlos Manço, médico pneumologista.

Capitão Gomes ressalta que o aquecimento prejudica a flora. O carvãozinho se deposita sobre as folhas, interferindo no processo de fotossíntese e no desenvolvimento de outras espécies de vegetais.

Capitão Gomes encerrou a palestra evocando os preceitos da Lei Federal 6.938/81, regulamentada pelo Decreto 99.274/90, que fala da política nacional do meio ambiente. A constatação é que a população está sendo castigada injustamente, sendo necessário uma mobilização nacional para rever este problema.

SUL DE MINAS

O vereador Capitão Gomes destacou a importância de levar a bandeira contra a queimada para outros estados brasileiros. E, informou que no próximo dia 5 de dezembro, às 20h00 estará ministrando palestra no Estado de Minas Gerais, na cidade de Guaranésia, nas dependências da Câmara Municipal.

REAPRESENTAÇÃO

O vereador Capitão Gomes informa que reapresentará na Câmara o projeto de lei que pede o fim da queima da palha da cana-de-açúcar em Piracicaba. Ao discursar na reunião ordinária de (06/04) ele mencionou o conteúdo de matéria divulgada no Jornal de Piracicaba onde o presidente da Associação de Fornecedores, José Coral avalia que 50% da zona agrícola da cidade não será ocupada pela cana-de-açúcar.

Gomes entende que de fato 30% da área agrícola será inviabilizada para o plantio da cana, sendo que áreas de preservação permanente já foram invadidas. Também se verifica que o Ministério Público já foi acionado para observar esta situação.

A avaliação é que as grandes usinas da região já estão se deslocando para cidades como Araçatuba e outros locais no Estado que permitem a utilização de máquinas no corte da cana. A expectativa é que Piracicaba adote novas culturas, como a soja, café, algodão, recuperando um processo antigo que já dominou a região.

Capitão Gomes também considerou os malefícios da queima na saúde da população. E, condenou a verdadeira escravidão que envolve os cortadores. A cana não dá emprego. É um trabalho escravo. A Princesa Isabel renasce a cada safra, concluiu o parlamentar, lembrando que já acionou embaixadas de países como a China e Suécia para não comprarem produtos onde é utilizado processo de exploração do trabalhador no corte da cana.

Martim Vieira MTb 21.939
Foto: Fabrice Desmonts MTb 22.946
Foto: Rogério Oliveira


Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939


Legislativo Carlos Gomes da Silva

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