"Serelepe" pulou cedo da cama, pegou o material de trabalho e tomou o caminho da escola. Seu parceiro de jornada, Maurílio, fez o mesmo e, depois de vencer os três quilômetros que separam sua casa, no bairro Santa Isabel, de Tupi, se juntou aos outros quatro amigos da turma. Mal havia passado das 8h e os seis já estavam a postos na Escola Estadual "Pedro de Mello" ––não para estudar, mas para prepará-la para aqueles que voltarão às aulas na próxima segunda-feira (2).

De enxada e cortador de grama em mãos, o grupo atendeu ao chamado do padre Renato Luís Andreatto, da Paróquia São José, e iniciou, na manhã desta quinta-feira (29), o mutirão para capinar o mato que tomou conta das áreas externas do colégio. Como não dava para esperar chegar a verba federal usada para bancar esse tipo de serviço para, só então, executá-lo (já com as aulas em andamento), a própria comunidade se mobilizou para deixar a escola em bom estado.

O trabalho feito pelo grupo de voluntários (a expectativa era de que 10 pessoas se envolvessem no mutirão, até o fim do dia) foi acompanhado pela assessoria da vereadora Márcia Pacheco (PSDB). O diretor da "Pedro de Mello", Thiago Franco, que frequenta a Paróquia São José, contou que, inicialmente, procurou padre Renato a fim de pedir "emprestado" o funcionário responsável pela manutenção da igreja, para que ele cuidasse da revitalização do jardim que existe na frente da escola.

O funcionário era "Serelepe", apelido de Luiz Joia Ramos, de 62 anos, que já nesta quarta-feira (28) foi à escola cuidar do canteiro de flores e da limpeza das calhas. "A frente da escola estava muito suja e, conversando com o padre, ele me autorizou a trabalhar aqui. Acho importante essa relação da comunidade com a escola; se todo mundo tivesse um pouco de bom senso, ela não estaria nessa situação", comentou Serelepe, que voltou à "Pedro de Mello" nesta quinta-feira para ajudar na capinação, atendendo ao convite feito por padre Renato aos fiéis da Paróquia São José na missa do último fim de semana.

PERTENCIMENTO - O diretor Thiago Franco, que assumiu o cargo há apenas 90 dias, disse que a ideia de convidar os moradores de Tupi para atuar em pequenos serviços na escola visa despertar neles o sentimento de "pertencimento". "Quando a comunidade cuida do prédio público, as pessoas percebem que aquilo é delas e precisa ser bem administrado", comentou, ao observar a importância de a adesão ser voluntária, e não imposta.

"Nosso intuito é fazer uma administração coletiva, com a participação dos pais. Havendo a valorização da escola por eles, com certeza a indisciplina diminui e melhora a perspectiva em relação aos índices que medem a qualidade do ensino", completou Thiago Franco, que pretende continuar buscando apoio de fiéis de igrejas instaladas no distrito, independentemente da denominação religiosa.

O trabalho dos voluntários deve seguir durante toda esta quinta-feira, no corte do mato alto em torno das salas de aula. Do lado de fora, funcionários da Prefeitura fazem a poda das árvores. Cerca de 650 alunos, do ensino médio e dos ciclos 1 e 2 do ensino fundamental, estudam na "Pedro de Mello", de manhã e à tarde.