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06 DE SETEMBRO DE 2016

Câmara recebe exposição Humor em Preto e Branco


Trabalhos premiados no Salão Internacional de Humor de Piracicaba compõem mostra



EM PIRACICABA (SP)  

Caricatura de Denise Lutgens Rizzo, selecionada para o Salão de Humor em 1986

Caricatura de Denise Lutgens Rizzo, selecionada para o Salão de Humor em 1986

Trabalho do colombiano Rafael Garcia Z, vencedor do Prêmio Vanguarda, em 2008

Trabalho do colombiano Rafael Garcia Z, vencedor do Prêmio Vanguarda, em 2008

Obra do campineiro João Gomes Martins, premiada em 1981

Obra do campineiro João Gomes Martins, premiada em 1981
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Caricatura de Denise Lutgens Rizzo, selecionada para o Salão de Humor em 1986



Em 15 de março de 1974, a primeira página do jornal Folha de S. Paulo estampava a manchete “Esta é a hora da esperança”, a partir de uma frase proferida pelo general Ernesto Geisel em sua pose como presidente do Brasil. Ele prometia uma gradual abertura política, mantendo, no entanto, as bases do militarismo.

Mesmo com a aparente normalidade da manchete, a incerteza pairava. O chamado Milagre econômico havia chegado ao fim e os brasileiros presenciavam a crise no petróleo, alta na inflação e aumento da dívida externa. É desta mesma fase o AI-5, em vigência há dez anos, e sua política de silenciamento das manifestações populares, além da censura a artistas, intelectuais, jornalistas e meios de comunicação.

Mas foi em 1974 que Piracicaba remou na contramão do contexto nacional, sediando, pela primeira vez, uma mostra de humor gráfico. À época, havia um forte espírito crítico, e os artistas de várias partes do país encontraram na cidade a oportunidade para expressar suas ideias em abundância. O lápis e a tinta nanquim eram os recursos mais usados para transpor as ideias para o papel e por causa das primeiras mostras na cidade artistas despontaram em todo o país.

Um recorte desse contexto político, assim como da abundância de ideias e do espírito crítico, está presente na exposição Humor em Preto e Branco, aberta pela Câmara de Vereadores de Piracicaba nesta segunda-feira, 5, no hall do prédio anexo. A mostra – paralela ao 43º Salão Internacional de Humor de Piracicaba – permanece em cartaz até 30 de setembro. 

“O Salão de Humor surgiu no regime de recessão e a própria dureza do preto e branco, como expressão, se manifestava na exposição de metáforas do que acontecia na época. Somado a isso havia a questão tecnológica e as limitações de se imprimir em colorido, sem a presença da computação gráfica, por exemplo”, diz o cartunista Eduardo Grosso, integrante do CEDHU Piracicaba (Centro Nacional de Humor Gráfico), órgão responsável pelo Salão de Humor, por meio da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural). 

Boa parte das obras da exposição – cartuns, charges, caricaturas e histórias em quadrinhos – reflete o descontentamento dos artistas com a censura vigente no Brasil entre os anos de 1964 e 1985. É o que retrata, de forma simples e direta, a charge de Júlio César Cardoso Barros, premiada em 1978. Nela, a frase “Liberdade de Expressão” aparece sem o X, que prende um homem caído ao chão. 

A mostra é também um convite para desvendar a história do evento, rememorar fatos marcantes do país e conhecer de perto 40 trabalhos de consagrados artistas, entre eles Laerte Coutinho, hoje considerado um dos mais importantes na área no país e que atua como chargista no jornal Folha de S. Paulo.

Entre os nomes que ilustram a mostra está o de João Gomes Martins, de Campinas, premiada na oitava edição do Salão (1981). A inspiração veio do quadro Retirantes, de Cândido Portinari, que retrata o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria. Martins desenhou uma família admirando a pintura e utilizou a frase “Bons tempos aqueles” para criticar a pobreza no Brasil.

De ano a ano, o Salão modernizou-se, adaptando-se às inovações gráficas. Se em 1974, ano de fundação da mostra, todas as obras foram a partir do nanquim e do lápis, no ano seguinte a cor já ganhava seu espaço, ainda de forma tímida. Já em 1995, todos os trabalhos premiados da 22ª edição eram coloridos. 

No entanto, o preto e branco é explorado em outros contextos e com suportes diferentes, como aconteceu em 2007 com a caricatura sobre o arquiteto Oscar Niemeyer feita a lápis pelo carioca Ray Costa e vencedora do 1º Prêmio Zélio de Ouro. Na mostra, há também a fotografia do colombiano Rafael Garcia, vencedora em 2008 da categoria Vanguarda, criada para abrigar obras em novos formatos. “A arte, ainda hoje, pode ser realizada com o mínimo. Basta ter um papel e um lápis preto ou uma canetinha, principalmente quando se fala em desenho de humor”, reforça Eduardo Grosso. 

SERVIÇO – Exposição Humor em Preto e Branco, paralela ao 43º Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Visitas até 30 de setembro, de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, exceto feriados, no hall do prédio anexo da Câmara de Vereadores de Piracicaba (rua do Rosário, 833, Centro). Entrada gratuita. Informações: (19) 3403-6612.



Texto:  Rodrigo Alves - MTB 42.583


Exposição

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